Os aliados do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trabalham na construção de uma base aliada junto a partidos de centro no Congresso Nacional para garantir a governabilidade a partir de 2023. Para atrair legendas como PSD, MDB e União Brasil, a cúpula do PT já abriu espaço para indicados no governo de transição e sinalizou que pode fazer o mesmo na composição dos ministérios.
A coligação de Lula, que apoiou o petista desde o primeiro turno, é formada por 10 partidos: PT, PV, PCdoB, Psol, Rede, PSB, Solidariedade, Avante, Agir e Pros. Juntos, eles elegeram 122 deputados e 10 senadores. Além disso, o PDT, que teve o ex-ministro Ciro Gomes como candidato à Presidência, já indicou apoio ao petista. Os pedetistas terão 17 deputados e três senadores na próxima legislatura.
Se for bem-sucedido nas costuras para atrair os partidos de centro, o número de congressistas que formariam a base do governo Lula subiria para 282 deputados e 46 senadores, na teoria. Com essa base, o presidente eleito conseguiria aprovar pautas que exigem maioria simples e impedir o avanço de processos de impeachment, mas não aprovar propostas de emenda à Constituição (PECs). Para aprovar uma PEC, são necessários os votos de três quintos dos deputados (308) e dos senadores (49).
Como forma de atrair os demais partidos, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) anunciou nesta semana a criação de um conselho político dentro do governo de transição. O PSD já confirmou o nome do deputado Antônio Brito (BA) e o MDB indicou os senadores Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA).
Além disso, a senadora emedebista Simone Tebet (MS) foi confirmada como coordenadora do núcleo de desenvolvimento social. O ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto (MDB) também vai integrar a equipe de transição na área de Indústria, Comércio e Serviços. O grupo, no entanto, faz parte da ala emedebista que já trabalha pelo apoio do partido ao nome de Lula.
Já no caso do União Brasil, a expectativa é de que as conversas avancem nas próximas semanas. "Achamos muito importante ter os partidos formalmente, institucionalmente nesse processo. Isso não prejudica a indicação de técnicos e pessoas que possam ajudar nos processos e grupos de trabalho do processo de transição", defendeu a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).
Veja como ficou a composição do conselho político do governo de transição:
- José Luiz Penna, presidente do PV;
- Jefferson Coriteac, vice-presidente do Solidariedade;
- Daniel Tourinho, presidente do Agir;
- Wolney Queiroz, deputado federal do PDT;
- Felipe Espirito Santo, integrante da direção do Pros;
- Carlos Siqueira, presidente do PSB;
- Renan Calheiros, senador pelo MDB;
- Jader Barbalho, senador pelo MDB;
- Wesley Diógenes, porta-voz da Rede;
- Luciana Santos, presidente do PCdoB;
- Juliano Medeiros, presidente do PSOL;
- Guilherme Ítalo, da direção do Avante;
- Antônio Brito, deputado federal pelo PSD.
Reeleição de Pacheco na presidência do Senado vira o fiel da balança no PSD
Com 42 deputados eleitos e 11 senadores na próxima legislatura, o PSD, presidido pelo ex-ministro Gilberto Kassab, é um dos partidos mais cortejados pelos aliados de Lula. A legenda adotou independência durante a disputa presidencial, mas alguns diretórios estiveram com Lula desde o primeiro turno, como os da Bahia e de Minas Gerais.
Para uma composição formal com o futuro governo Lula, a cúpula do PSD pleiteia o apoio da bancada do PT àa reeleição do senador Rodrigo Pacheco (MG) para o comando do Senado. O partido de Kassab teme um revés diante do aumento da bancada do PL, do presidente Jair Bolsonaro, na Casa.
O PL, já confirmado como o maior partido a partir da próxima legislatura, terá 14 senadores. A legenda de Bolsonaro será seguida pelo PSD, com 11, pelo MDB e União Brasil, com 10 cada um, e pelo PT, com nove.
Para viabilizar o apoio à reeleição de Pacheco, integrantes do PT tiveram que entrar em campo para frear as tratativas de outro aliado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que trabalhava para eleger um emedebista para o comando do Senado no próximo ano. Contudo, segundo aliados de Lula, a estratégia desenhada é para que Pacheco apoio um nome do MDB para a sua sucessão, em 2025.
"O PSD, que tem em seu âmbito interno diversas lideranças que já apoiaram Lula, entende que esse voto de confiança para dar governabilidade ao governo dele [Lula] é muito importante. Vamos dar esse voto de confiança depois da discussão dentro do partido para que possamos, através dessa governabilidade, dar condições para o PT apresentar e implantar suas políticas públicas, o seu programa”, afirmou Kassab em entrevista à Globo News.
MDB aguarda sinalizações de Lula sobre presidência da Câmara
Rompidos formalmente desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, PT e MDB buscam agora uma recomposição para a base do presidente eleito Lula. O petista chegou a chamar o ex-presidente Michel Temer de golpista na véspera do segundo turno, o que ampliou as críticas de uma ala dos emedebistas.
Nesta semana, no entanto, Gleisi Hoffmann se reuniu com o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), para um convite de composição. Paralelamente, petistas acreditam que uma participação de Simone Tebet no governo pode atrair os emedebistas para a base de Lula.
“É uma decisão que não vou tomar sozinho. O MDB tem muitos líderes, vou conversar com cada um deles. Mas posso adiantar que vejo no partido um espírito colaborativo”, afirmou Rossi sobre o encontro.
De acordo com integrantes do MDB, o partido aguarda sinalizações de Lula sobre a disputa pela presidência da Câmara para fechar um apoio formal ao petista. O presidente eleito, no entanto, tem evitado entrar na disputa pelo comando da Casa visando não se desgastar com Arthur Lira (PP-AL), que pretende concorrer à reeleição.
Com 42 deputados eleitos, a cúpula do MDB gostaria de lançar um candidato próprio na disputa pelo comando da Câmara. São cotados para a disputa o deputado eleito Eunício Oliveira (CE) e o atual líder do partido na Casa, Isnaldo Bulhões (AL).
Há preocupação entre petistas, no entanto, da reedição da estratégia de 2015, quando o partido enfrentou Eduardo Cunha (MDB) pelo comando da Câmara e foi derrotado. Apesar disso, aliados de Lula acreditam que podem construir um acordo com o partido de Rossi antes das eleições para as presidências da Câmara e do Senado, marcadas para 1º de fevereiro de 2023.
Partido de Moro, União Brasil diverge sobre apoio a Lula no Congresso
Partido do senador eleito Sergio Moro (PR), o União Brasil está rachado sobre a possibilidade de compor a base do presidente eleito Lula no Congresso a partir do ano que vem. Além da bancada de 10 senadores, o partido elegeu 59 deputados para a próxima legislatura.
Líderes do União Brasil avaliam que é preciso ter "cautela" na negociação com a base de Lula diante dos diversos quadros que estão na legenda neste momento. Presidente nacional do partido, o deputado Luciano Bivar (PE) tem defendido uma composição com o PT, mas a maioria da bancada apoia ou apoiou formalmente o presidente Bolsonaro.
Bivar tem defendido que o seu partido tenha candidato próprio na disputa pela presidência na Câmara dos Deputados. No entanto, a legenda começou ainda durante o período eleitoral uma série de tratativas com o Progressistas (PP), partido de Arthur Lira, para uma fusão, no intuito de formar o maior partido do Congresso Nacional.
Diante dos impasses, as conversas sobre a fusão com o PP e o apoio a base de Lula só devem acontecer na segunda quinzena deste mês. Bivar está em viagem para fora do Brasil e pretende reunir os integrantes da Executiva para uma conversa em Brasília nas próximas semanas.
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