A perseguição a religiosos da Igreja Católica pela ditadura de Daniel Ortega, na Nicarágua, foi classificada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apenas como uma “disputa”. A declaração foi dada nesta terça (4) em uma entrevista a jornalistas logo após tomar posse da presidência rotativa do Mercosul, em uma cerimônia em Puerto Iguazú, na Argentina.
A fala ocorreu em meio a explicações do presidente sobre a necessidade de ter um “diálogo” com outros países do continente, mesmo aqueles em que há cerceamento das liberdades civis, como a Nicarágua e a Venezuela.
O país da América Central vem violando os direitos humanos há anos, e empenhou uma perseguição a líderes religiosos da Igreja Católica há meia década, além do fechamento de órgãos de imprensa. No entanto, mesmo assim, Lula não adota um tom mais crítico ao tratar do regime político do país.
“Eu assumi o compromisso com o Papa Francisco de falar com o [presidente da Nicarágua] Daniel Ortega, na próxima semana, para falar da disputa com os setores da Igreja. A única coisa que a Igreja quer é que a Nicarágua libere os bispos”, disse lembrando da promessa feita ao líder católico em junho, durante visita ao Vaticano.
Para o presidente brasileiro, os “problemas da democracia” tanto da Nicarágua como da Venezuela precisam ser enfrentados, mas que não se pode “isolar” os países. “Os defeitos são múltiplos, precisamos conversar com todo mundo”, afirmou durante a coletiva.
No mês passado, o Brasil propôs modificar e suavizar um projeto de resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) que condena a repressão do governo de Daniel Ortega na Nicarágua.
Ortega chama Igreja Católica de “máfia”
O governo de Ortega já expulsou do país 222 presos políticos, que foram transferidos para Washington em um avião fretado pelo governo dos EUA, mas dois deles se recusaram a deixar o país, entre eles o bispo Rolando Álvarez. Como consequência, o religioso foi condenado a 26 penas de prisão, perdeu sua cidadania e foi transferido da prisão domiciliar para um presídio.
Além disso, Ortega declarou interrompidas as relações bilaterais com o Vaticano depois de ter expulsado o núncio, (embaixador vaticano) Waldemar Stanislaw Sommertag, e o país não tem mais embaixador junto à Santa Sé desde 21 de setembro de 2021, quando Ortega cancelou a nomeação de Eliette Ortega Sotomayor.
O presidente da Nicarágua também qualificou a Igreja Católica como “máfia” e a acusou de ser antidemocrática por não permitir que os católicos elejam o papa, cardeais, bispos e padres por voto direto.
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