Ouça este conteúdo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou para esta terça (28) uma nova reunião com ministros para discutir a deportação de brasileiros dos Estados Unidos, que gerou uma crise no último fim de semana. Embora o esteja tratando o caso com “sobriedade”, como disse o ministro Ricardo Lewandowski (Justiça) na segunda (27), o governo pretende reforçar aos norte-americanos o pedido para que as pessoas não sejam algemadas, como ocorreu no voo de sexta (24).
Para a reunião desta terça (28), às 16h, Lula convocou inclusive o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno, e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, entre outros.
O Ministério das Relações Exteriores convocou o encarregado de negócios da embaixada americana no Brasil ,Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos sobre o procedimento. Em encontro com a embaixadora Márcia Loureiro, responsável por assuntos consulares, o governo brasileiro expressou indignação com o tratamento recebido pelos deportados e reforçou a necessidade de respeito aos direitos humanos.
Também participam da reunião desta terça (28) o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), Lewandowski, Mauro Vieira (Relações Exteriores), Celso Amorim (assessor de Lula para assuntos internacionais), Macaé Evaristo (Direitos Humanos), entre outros.
Segundo relatos, os deportados foram mantidos algemados e acorrentados durante o voo e ao desembarcarem no Brasil, o que gerou críticas. A Polícia Federal confirmou que o uso de algemas é comum em território americano, mas considerou injustificável a aplicação em solo brasileiro.
“Não há justificativa para que pessoas que não são presidiárias, que não oferecem risco nenhum, que estão no seu próprio país, estarem acorrentadas e subjugadas e maltratadas”, disse Rodrigues ao programa Roda Viva na noite desta segunda (27).
Ainda no final de semana, o Ministério das Relações Exteriores classificou o tratamento como “degradante” e afirmou que a prática viola os acordos firmados com os Estados Unidos, que preveem condições dignas para os repatriados.
O uso de algemas em deportações já foi tema de discussões entre Brasil e Estados Unidos em 2021, quando o governo pediu que a prática fosse restrita a casos excepcionais, como deportados com antecedentes criminais ou risco à segurança do voo. No entanto, nenhum acordo formal foi assinado.
Em um evento em São Paulo, Lewandowski reforçou a postura de cautela do governo brasileiro para não gerar uma crise iminente como ocorreu com a Colômbia, que recusou o recebimento de um voo, teve uma ameaça de taxação pelos norte-americanos e precisou recuar.
“Nós não queremos provocação, mas queremos que brasileiros inocentes que foram para lá atrás de trabalho sejam tratados com a dignidade que merecem. Tivemos reação sóbria, não queremos provocar governo americano”, disse o ministro.
Embora o episódio tenha ocorrido em um voo planejado pelo governo Biden, a coincidência com o início do governo Donald Trump levou o Brasil a adotar uma abordagem diplomática cuidadosa para evitar tensões. Políticos próximos ao Planalto avaliam que não será fácil alterar os protocolos americanos, mas o foco do governo é garantir que os brasileiros sejam tratados com respeito.
A estratégia do governo é tratar a questão internamente, por vias diplomáticas, sem criar embates diretos com os Estados Unidos.