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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alfinetou a Organização das Nações Unidas (ONU) dizendo que a entidade “não vale mais nada em 2023”, por não ter conseguido aprovar uma resolução no Conselho de Segurança para encontrar uma solução para a guerra entre Israel e o Hamas.
A dura afirmação contra o principal órgão multilateral do mundo foi dada durante a live semanal “Conversa com o Presidente” desta terça (14), em que Lula participou com uma aparência visivelmente cansada após ter recebido os brasileiros e parentes diretos resgatados de Gaza na noite de segunda (13) já quase na madrugada – “foi uma noite inusitada”, disse.
“Fizemos um trabalho extraordinário no Conselho [de Segurança], e apenas um país teve o direito de vetar e vetou, que foi os Estados Unidos. Isso é incompreensível, não é admissível. Por isso que nós brigamos para mudar a ONU. A ONU de 1945 não vale mais nada em 2023”, disse Lula em referência à resolução de interrupção humanitária na guerra que o Brasil apresentou no período em que presidiu temporariamente o órgão, no mês de outubro.
A resolução brasileira teve 12 votos favoráveis, duas abstenções e apenas o voto contrário dos Estados Unidos. Apesar de ter conseguido a aprovação da maioria, o poder de veto da chancelaria estadunidense barrou a aceitação da proposta. Pelo menos outras três resoluções foram apresentadas e igualmente rejeitadas.
Lula afirmou, ainda, que tem a "responsabilidade" de procurar mais brasileiros que seguem em Gaza e que gostariam de ser repatriados, e que também tenta liberar os parentes dos cidadãos que foram trazidos ao país.
Atitude de Israel é “igual ao terrorismo”, diz
Ainda durante a live, Lula voltou a classificar a guerra como “insana”, como já mencionou em outras lives e discursos, e repetiu a crítica de que o contra-ataque de Israel aos atos terroristas do Hamas é “igual ao terrorismo”.
“Israel fazendo o que está fazendo com hospitais, crianças e mulheres [...] é uma atitude igual ao terrorismo. Não tem como dizer outra coisa. Se eu sei que tá cheio de criança naquele lugar, pode ter o monstro lá dentro, eu não posso matar as crianças porque eu quero matar o monstro. Eu tenho que matar o monstro sem matar as crianças”, disparou o presidente.
Apesar de chamar a atitude de Israel de “terrorismo”, Lula ressaltou que “é verdade que houve um ataque terrorista do Hamas, e que condenamos desde o início”.
O presidente disse, ainda, que fez um apelo à China, que preside o Conselho de Segurança neste mês, para se tomar uma atitude em relação à guerra no Oriente Médio. Para ele, o conflito do jeito que está não vai ter fim.
Lula ainda defendeu a criação de dois estados que convivam pacificamente como o estabelecido em acordos passados – Israel e Palestina – e que quer que sejam “bons vizinhos” como é o Brasil com os demais países da América do Sul.
Entidades rebatem críticas de Lula a Israel
As falas críticas de Lula a Israel têm sido rebatidas por entidades judaicas brasileiras. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) considerou especialmente a declaração dada por ele na segunda (13) como “equivocada e perigosa”. O presidente disse, durante o evento de sanção da nova Lei de Cotas, que “a solução do Estado de Israel é tão grave quanto foi a do Hamas, porque eles estão matando inocentes sem nenhum critério”.
“Além de equivocadas e injustas, falas como essa do presidente da República são também perigosas. Estimulam entre seus muitos seguidores uma visão distorcida e radicalizada do conflito, no momento em que os próprios órgãos de segurança do governo brasileiro atuam com competência para prender rede terrorista que planejava atentados contra judeus no Brasil”, disse a entidade em nota (veja na íntegra).
A Conib diz esperar um “equilíbrio das nossas autoridades e uma atuação serena” que “não importe ao Brasil o terrível conflito no Oriente Médio”.
A posição da Conib é semelhante à da StandWithUs Brasil, entidade ligada ao governo de Israel, que considerou as falas de Lula como “graves”, e que o presidente “ignora por completo o fato muito bem documentado e até mesmo reconhecido hoje pela União Europeia, de que o Hamas usa hospitais e crianças como escudos humanos”.