O encarregado de Negócios da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, afirmou que uma visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Ucrânia pode “mudar a atitude” do petista sobre guerra. A invasão da Rússia ao território ucraniano completou um ano nesta sexta-feira (24) e, até o momento, o governo brasileiro tem adotado uma posição próxima da neutralidade em relação ao conflito.
"Muitas visitas internacionais demonstraram que uma visita para Ucrânia pode mudar a percepção do que está acontecendo lá. Por isso, visitar a Ucrânia é uma boa ideia porque vai dar melhor percepção de como são as coisas e pode mudar a atitude sobre essa invasão em grande escala", afirmou Tkach.
Tkach é uma espécie de “embaixador informal” de Kiev em Brasília, já que ocupa o segundo cargo em importância na representação. Rostyslav Tronenko ocupou o posto de embaixador até o final de 2021, pouco antes da invasão russa.
O encarregado afirmou que ainda não existe nenhuma tratativa para que Lula faça uma visita ao país invadido. A expectativa é de que Lula converse pela primeira vez por telefone com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, nas próximas semanas.
"A conversa ainda não aconteceu, por isso eu não posso confirmar se o presidente convidou ou não convidou. Mas a ideia é muito boa do ponto de vista de que, no caso de disponibilidade de o presidente Lula ir para a Ucrânia, isso pode mudar a percepção toda do Brasil", defendeu Tkach.
Na última semana o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez a sua primeira visita à Ucrânia desde o início da guerra. Além dele, o presidente francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, e o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, bem como o ex-líder britânico Boris Johnson, fizeram visitas ao país para demonstrar seu apoio.
A Gazeta do Povo procurou o chanceler Mauro Vieira e o Palácio do Planalto para questionar sobre uma eventual visita de Lula à Ucrânia. No entanto, não obtivemos respostas por parte do governo até o momento.
Embaixador rejeitou a comparação de Lula sobre a guerra na Ucrânia
Anatoliy Tkach rejeitou ainda uma declaração recente do presidente Lula na qual o brasileiro disse, ao comentar a guerra, que "quando um não quer, dois não brigam". O representante de Negócios do país no Brasil, então, disse que não se pode "equiparar" as ações russas e ucranianas na guerra.
"Nós não podemos equiparar as posições da Rússia e da Ucrânia. A Ucrânia está se defendendo no seu próprio território e defendendo seu povo. Se a Ucrânia parar de lutar, a Ucrânia deixará de existir. Se a Rússia parar essa agressão, a guerra simplesmente acaba", afirmou.
A declaração de Lula ocorreu no final de janeiro, quando ele afirmou que a Rússia cometeu um "erro crasso" ao invadir a Ucrânia. Mas em seguida disse que "quando um não quer, dois não brigam". A declaração foi dada após reunião do presidente com o chanceler alemão, Olaf Scholz, no Palácio do Planalto, em Brasília.
Tkach cobrou ainda que o Brasil e outros países que condenam a invasão russa deem mais apoio ao governo ucraniano, inclusive com fornecimento de armamento para defesa. "A Ucrânia está se defendendo no seu próprio território, defendendo seus cidadãos. Apaziguar com o agressor levaria a mais atrocidades. Precisamos de mais equipamentos, militares e munições", completou.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, chegou a pedir ao governo brasileiro o fornecimento de armamento para a Ucrânia como fizeram os países ocidentais. Lula, no entanto, descartou essa possibilidade. "O Brasil não quer ter qualquer participação, mesmo que indireta, na guerra", disse Lula durante a visita de Scholz ao Brasil.
Tkach diz que Ucrânia "não aceitará a paz a qualquer custo"
Questionado sobre a estratégia de Lula para criar um "clube da paz" com diversos países, Anatoliy Tkach afirmou que vê como positiva qualquer iniciativa para se chegar ao fim da guerra. Contudo, o encarregado de Negócios ponderou que o governo ucraniano "não aceitará a paz a qualquer custo".
"A Ucrânia deixou claro que não aceitará a paz a qualquer custo. Não vamos concordar com nada que mantenha os territórios ucranianos ocupados e coloque nosso povo em dependência da vontade do agressor" declarou Tkach.
Anatoliy Tkach disse que o país não quer que a guerra seja "prolongada", mas "lutará o tempo que for necessário". "A Rússia não mudou seus planos de destruir a Ucrânia. Cada vez que a Rússia pede negociações, suas tropas fazem o oposto. Estão tentando realizar uma nova ofensiva", disse.
"O Kremlin [sede do governo russo] continua com aquisição de armas através de aliados e também aumentou a produção própria", completou o ucraniano.
Ainda sobre o clube da paz proposto por Lula, o representante da Ucrânia no Brasil ressaltou que o presidente Zelensky apresentou um plano de paz com dez pontos para pôr fim à guerra com a Rússia. O documento foi apresentado pelo presidente ucraniano durante a conferência do G20 na Indonésia, em novembro do ano passado.
Brasil teve atuação coadjuvante na resolução da ONU
Ainda no balanço, Anatoliy Tkach citou a votação na Organização das Nações Unidas (ONU) contra a guerra como uma forte sinalização do apoio dos países à Ucrânia. “Ao todo, 141 países-membros da ONU deixaram claro que a Rússia deve acabar com a sua agressão ilegal e que a integridade territorial da Ucrânia deve ser restaurada”, continuou Tkach.
Como a Gazeta do Povo mostrou, Itamaraty emplacou um trecho no texto da resolução aprovada pelos países membros durante a votação que ocorreu nesta quinta-feira (23). Contudo, os votos e o posicionamento do Brasil colocaram o país em uma condição de coadjuvante.
O Brasil votou pela aprovação da resolução que reivindica que a Rússia retire suas tropas da Ucrânia, mas se absteve em duas emendas apresentadas pela Bielorrússia, que pediam a exclusão de linguagem referente à "invasão em grande escala" à Ucrânia e à "agressão da Federação Russa". As emendas também pediam alterações ao texto aprovado pela ONU no que se refere à exigência de que a Rússia retire imediatamente todas as suas tropas do território ucraniano.
Ao votar a favor da resolução, o Brasil se posiciona junto aos Estados Unidos, à União Europeia e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Ao se abster das emendas apresentadas pela Bielorrússia, que beneficiam o próprio país e a Rússia, faz acenos a russos e à China.
Dessa maneira, a despeito da pretensão de Lula, a política externa brasileira não demonstra protagonismo, defende o cientista político e diretor de Projetos do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais (Ceiri), Marcelo Suano.
"A pretensão é de ser protagonista, mas por uma necessidade e interesse pessoal do presidente da República, a maneira como se posiciona é de um coadjuvante", afirma.
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