Ex-presidente Lula reaveu os direitos políticos graças a uma decisão individual do ministro Edson Fachin, do STF| Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas
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Pouco a pouco, a elegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dá sinais de que a eleição já está polarizada entre ele e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Mesmo sem o petista começar a rodar o país e tendo apenas se exposto publicamente e discursado na quarta-feira (10) e neste sábado (13), quando transmitiu ao vivo sua vacinação contra a Covid-19, o peso de seu nome tem feito partidos reavaliarem seus planos para 2022.

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Antes de Lula recuperar seus direitos políticos, graças à decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), o cenário político era avaliado como "em aberto" por diferentes lideranças políticas no país. Nomes e partidos dos diferentes espectros políticos ensaiavam candidaturas à presidência da República nas eleições do próximo ano. Agora, começam a reavaliar os cálculos.

O deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) capitaneia uma frente ampla de centro na tentativa de definir um único nome do campo da centro-direita entre os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e entre o apresentador Luciano Huck (sem partido) e Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde.

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Polarização leva João Doria a reavaliar estratégia eleitoral

Os sinais de que a polarização entre Lula e Bolsonaro enfraquece as demais candidaturas levou Doria a reavaliar sua estratégia eleitoral. Até a decisão de Fachin que tirou os processos de Lula da Lava Jato em Curitiba, o governador de São Paulo se articulava como podia para cacifar seu nome à disputa presidencial.

Com a elegibilidade de Lula, Doria admitiu ao jornal O Estado de S.Paulo que considera a hipótese de concorrer à reeleição ao governo paulista. “Diante deste novo quadro da política brasileira, nada deve ser descartado”, declarou.

Sempre que era questionado sobre a possibilidade de tentar um novo mandato de governador, Doria descartava a reeleição. E ele nunca escondeu de ninguém o desejo de concorrer à Presidência, comenta a reportagem. O tucano, por sinal, tentou "tratorar" dentro do PSDB para ser aclamado candidato.

O governador do maior estado brasileiro nunca conseguiu se viabilizar como um forte candidato, segundo apontaram diferentes pesquisas de intenções de voto. A mais recente, da CNN/Instituto Real Time Big Data, mostra que Doria teria 4% das intenções de votos no primeiro turno. Pelo Instituto Paraná Pesquisas, ele teria 5,3%.

Candidatura de Huck, Eduardo Leite e Mandetta também fica em xeque

Da mesma forma como Doria cogita rever sua estratégia eleitoral, não seria uma surpresa se Huck, Eduardo Leite e Mandetta adotassem a mesma cautela e reposicionamento eleitoral, analisa o deputado federal José Nelto (Podemos-GO). Para ele, nenhum dos nomes atualmente estudados pelo centro político tem chances de romper a polarização.

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"A candidatura do Lula polariza e esfria a construção do centro. Pode até tentar reunir o centro para negociar, mas uma candidatura não se sustenta. Esquece Eduardo Leite, Mandetta, Huck, não dão conta", sustenta Nelto à Gazeta do Povo.

Entre os quatro nomes avaliados por Maia para representar a centro-direita, Huck seria o candidato mais forte. Contudo, como diz o deputado do Podemos, nem o apresentador conseguiria furar os polos. Pelo Instituto Paraná Pesquisas, ele aparece com 8,7% num cenário com Fernando Haddad (PT) e sem Doria, seu melhor percentual. Pelo CNN/Instituto Real Time Big Data, com Lula, ele teria 7% das intenções dos votos.

Uma candidatura de Leite ou Mandetta seria ainda mais frágil. O governador do Rio Grande do Sul teria 2,3% das intenções de voto em um cenário sem Lula e sem Doria, aponta o Instituto Paraná Pesquisas. Pela mesma pesquisa, o ex-ministro da Saúde teria 1,4% num cenário sem Huck e com Lula e Doria.

PSOL não descarta abrir mão de candidatura para apoiar Lula

A polarização entre Bolsonaro e Lula é visível pelas duas pesquisas. Pelo CNN/Instituto Real Time Big Data, o presidente da República tem 32% das intenções de voto, enquanto o ex-presidente, o segundo mais bem colocado, tem 18%. Pelo Instituto Paraná Pesquisas, Bolsonaro tem 31% e o o petista tem 21%.

Em meio a essa polarização, o PSOL não descarta apoiar Lula. Na esquerda, a leitura é de que essa aliança a nível nacional entre os partidos poderia assegurar apoio de petistas para uma possível candidatura do psolista Guilherme Boulos ao governo de São Paulo.

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“A presença do Lula no debate público reforça a luta da oposição contra o Bolsonaro, mas defendemos que essa discussão [sobre definição de candidaturas] seja travada no momento certo. Queremos criar um espaço formal para discutir a unidade com os partidos”, disse o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, ao jornal O Estado de S. Paulo.

Não é à toa que o PSOL cogite apoiar Lula. Nos cenários com o petista, a polarização é predominante e mina candidaturas de centro-direita, centro-esquerda e até as mais à esquerda. Segundo mais votado nas últimas eleições municipais de São Paulo, Boulos teria, pelo Paraná Pesquisas, 3,5% das intenções de voto.

Uma forte candidatura de Boulos é pouco provável no atual momento. Até num cenário sem Lula candidato, com Fernando Haddad em seu lugar, e Ciro Gomes (PDT) na disputa, Boulos teria 3,2%. É bem verdade, contudo, que a maior preocupação do PSOL não é ter a garantia de que elegerá Boulos ou não.

A grande meta do PSOL para 2022 é sobreviver. Para manter recursos do Fundo Partidário e o tempo de rádio e TV para a legislatura seguinte, o partido precisará obter 2% dos votos válidos para deputado federal, ou eleger 11 deputados distribuídos em, pelo menos, nove estados.

Candidatura de Lula puxa além do PSOL: PCdoB e PSB podem aderir

O PSOL não é o único partido que pode aderir à candidatura de Lula. Outro partido que pode sinalizar a adesão ao bloco petista é o PCdoB. Outrora cotado para a disputa do Palácio do Planalto, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), deixou a pretensão da disputa presidencial de lado e, ainda em dezembro, deu sinais de que a meta para 2022 é a única vaga de seu estado no Senado.

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Sem conseguir fazer um candidato na prefeitura de São Luís nas eleições municipais de 2020, Dino se mostra favorável a uma aliança com o PT nos bastidores. Seria uma oportunidade para assegurar sua vaga ao Senado. "Lula consegue puxar PCdoB e PSOL e vamos fazer o possível para ele não levar o PSB também", admite um parlamentar do PDT à Gazeta do Povo.

Uma aliança entre PSB e PT é, hoje, pouco provável. O racha entre os partidos se alastrou após a disputa pela prefeitura de Recife, quando a deputada Marília Arraes (PT) concorreu com seu primo, João Campos (PSB), que se elegeu à capital pernambucana.

O PDT oficializou apoio a Campos em Recife e, em troca, o próprio prefeito admitiu que uma aliança do PSB com Ciro Gomes em 2022 era possível. "O PSB, hoje, não tem vínculos que permitam o PT chantageá-los, como ocorria anos atrás. Não há mais instrumentos de pressão. O problema é se Ciro não conseguir se viabilizar", reconhece o parlamentar pedetista.

Hoje, uma aliança entre PSB e PDT é tida como certo. Ciro, por sinal, já conseguiu o apoio do Rede, de Marina Silva. Mas tudo pode mudar se a candidatura de centro-esquerda não prosperar. "A tendência é que o PSB fique conosco com o Ciro ou em uma frente ampla de centro. Agora, se o Ciro não tiver uma candidatura viável, eles pulam fora. O Carlos Siqueira [presidente peesebista] joga em três times ao mesmo tempo e pula no barco onde vai ganhar", diz a fonte pedetista.

Com Lula fortalecido pela esquerda, Centrão fica com Bolsonaro

Ao passo em que uma candidatura de Lula se fortalece para 2022, o mesmo pode ser dito de Bolsonaro. A aglutinação de forças entre o petista e outros partidos de esquerda fortalece a composição da candidatura à reeleição do presidente da República com os partidos do chamado Centrão: PP, PL, PSD, Republicanos, Avante, Patriota, PTB, PSC e PROS.

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O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), acredita que os partidos do Centrão, que já apoiam o governo, continuarão a apoiar Bolsonaro em 2022, e caberá a Lula unir a esquerda em torno de si. "Bolsonaro é favorito. Mesmo com a anulação dos processos, o PT terá muito a explicar durante o processo eleitoral, será objeto do debate da campanha", disse, em entrevista à CNN Brasil.

A aglutinação de forças de Bolsonaro com o Centrão e Lula com a esquerda, naturalmente, só alimenta ainda mais a polarização. E rompê-la não será uma tarefa fácil.