O presidente Lula (PT) e o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB)| Foto: Ricardo Stuckert/PT
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Além de reacender a discussão sobre a disputa de 2026, a internação às pressas do presidente Lula (PT) trouxe à tona o debate sobre eventual afastamento da Presidência durante o período de hospitalização e recuperação.

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Diante deste cenário, a Gazeta do Povo procurou especialistas em direito constitucional para saber o que a Carta Magna diz sobre situações de impedimento do chefe do Executivo que não tenham relação com impeachment.

Um afastamento momentâneo de Lula elevaria o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), à condição de presidente interino.

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Mesmo sem essa designação, na ausência de Lula, Alckmin tem representado a Presidência em eventos oficiais e os ministros têm assumido as negociações com o Congresso. 

O governo corre para aprovar o pacote de ajuste fiscal, a regulamentação da reforma tributária, a lei de diretrizes orçamentárias (LDO) e a lei orçamentária anual (LOA) até o dia 20 de dezembro, quando se encerra a atividade legislativa deste ano.

O que diz a Constituição Federal sobre afastamento do presidente

Nos artigos 79, 80 e 81, a Constituição Federal (CF) trata da substituição do Presidente da República e do vice em caso de impedimento ou vacância do cargo.

No artigo 79, o texto constitucional diz que o vice-presidente pode atuar “sempre que convocado” pelo presidente “para missões especiais”.

No artigo 80, a CF trata sobre o impedimento ou vacância dos cargos de presidente e vice, quando devem ser chamados, sucessivamente, para o exercício da Presidência, o presidente da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF).

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O artigo 81 fala sobre as providências no caso de vacância de ambos os cargos.

Nesse cenário, “far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. § 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. § 2º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores”. 

Acontece que nenhum dos dispositivos trata de eventual afastamento, ainda que temporário, do presidente em caso de doença ou problema de ordem física ou mental que o impeça de realizar suas obrigações.

Imprecisão do texto constitucional é proposital

Procurado pela Gazeta do Povo, nesta quinta-feira (12), para comentar sobre o caso, o advogado constitucionalista, André Marsiglia, disse que a falta de precisão do texto constitucional sobre o tema é proposital para evitar que um presidente seja deposto de forma indireta.

“Não há um critério para o presidente passar o bastão de forma involuntária. E isso é proposital, para que ele não seja deposto de forma indireta. Há previsões apenas para que ele delegue o poder voluntariamente ou em caso de o cargo ser declarado vago”, explicou Marsiglia.

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Entretanto, na visão do advogado, no caso de uma “doença demonstradamente incapacitante”, seria possível interpretar e aplicar as normas relativas à vacância do cargo previstas nos artigos 80 e 81 da CF.

Também procurado pela Gazeta do Povo, o advogado e professor de Direito Constitucional, Rodrigo Marinho, disse que fica “absolutamente a critério do presidente a sua retirada ou não”.

“Não há previsão clara de que pode o Estado Maior, como é nos Estados Unidos, ou alguma entidade ou o próprio Congresso afastá-lo por algum problema de saúde”, frisou Marinho.

No caso de um presidente ficar impossibilitado, ainda que momentaneamente, devido a uma condição médica grave, sem que tenha tempo de nomear o vice como interino, o advogado vislumbra a possibilidade de ação do Congresso.

“Não há nada previsto sobre isso. Nunca chegou a acontecer uma situação prática no Brasil nesse sentido, mas nessa situação, eu acredito que o Congresso poderia dar uma solução para o tema”, explicou o advogado. 

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Lula foi internado às pressas

Lula foi levado às pressas, na madrugada da última terça-feira (10), para ser operado em São Paulo após sentir fortes dores de cabeça, na noite da segunda-feira (9), em Brasília. 

O presidente foi submetido a uma cirurgia para drenar um sangramento causado pelo acidente doméstico que sofreu em outubro no Palácio da Alvorada.

Nesta quinta-feira (12), o presidente foi submetido a uma nova intervenção para a realização de uma “embolização” na membrana entre o cérebro e o crânio. O procedimento começou por volta das 7h15 e durou menos de 1 hora.

Em entrevista coletiva após a realização do procedimento, o médico Roberto Kalil Filho, que lidera a equipe médica que cuida de Lula, disse que o presidente deve ter alta no começo da próxima semana.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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