Lula recebeu Alberto Fernández no Palácio do Planalto| Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem buscado usar sua influência política para que o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como "banco do Brics", conceda empréstimos para o governo de Alberto Fernández na Argentina. Além do Brasil, a instituição é composta pelos demais países membros do bloco, como Rússia, Índia, China e África do Sul.

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Nessa estratégia, Lula tem contado com o apoio da ex-presidente Dilma Rousseff, que desde março passou a presidir a instituição com sede em Xangai, na China. A petista foi indicada por Lula em uma manobra para que Marcos Troyjo, que havia sido indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), deixasse o posto.

"Estamos trabalhando numa linha de financiamento abrangente (para os argentinos). Não faz sentido que o Brasil perca espaço no mercado argentino, porque esses (países) oferecem crédito e nós, não", disse Lula depois do encontro com Fernández no Itamaraty.

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Fernández, por sua vez, chamou Lula de "amigo" e disse que o pedido de ajuda era mais do que natural neste momento de crise. "Quando um amigo está em problemas, o que faz aquele que está em problemas: pede ajuda para os amigos. E os amigos sempre estão aí", afirmou o presidente argentino.

Lula articula para que o banco do Brics aceite a entrada da Argentina 

Pela regra atual, o NDB realiza operações de crédito apenas nos países membros do banco. Desde a sua criação, a instituição concedeu apenas um empréstimo para um país não membro, que foi para o Lesoto, um enclave dentro do território da África do Sul. Mas a autorização foi dada, entre outros motivos, porque a ação financiada pelo NDB foi considerada fundamental para a segurança hídrica sul-africana.

Os demais países do Brics consideram que uma excepcionalidade para a Argentina criaria um precedente e outros integrantes poderiam passar a buscar a instituição para socorrer vizinhos em dificuldades. Para conseguir conceder empréstimos à Argentina via banco do Brics, Lula tenta agora viabilizar a entrada de novos países na instituição financeira do bloco.

A defesa da entrada de novos membros no banco tem sido uma das bandeiras de Dilma Rousseff desde que assumiu a presidência da instituição. Em seu discurso de posse, a petista afirmou que "a expansão no número de membros do banco iria fortalecer a nossa base de capital".

“Nosso objetivo, ao expandir o número de países, é buscar uma diversidade ainda maior, tanto em termos de geografia quanto de estágio de desenvolvimento. O objetivo estratégico do NBD é se tornar o banco de desenvolvimento líder para mercados emergentes e países em desenvolvimento”, afirmou Dilma.

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Em 2021, em meio à intenção da instituição de ampliar seu alcance, a diretoria do NBD aprovou a entrada dos três primeiros participantes de fora da sigla original: Bangladesh, Emirados Árabes e Egito. O Uruguai também já teve sua participação aprovada e deve ser o próximo a ser formalizado na lista de associados.

Lula promete pacote de ações para retomar "aliança estratégica" com a Argentina

Ainda durante o encontro com Alberto Fernández, o presidente Lula afirmou que os dois países vão adotar um plano com "quase 100 ações" para retomar a parceria estratégica. A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil no mundo, atrás somente de China e Estados Unidos.

"Hoje, adotamos um ambicioso plano de ação para o relançamento da aliança estratégica. São quase 100 ações que dão concretude ao nosso projeto conjunto de desenvolvimento", afirmou o petista. O presidente brasileiro, no entanto, não detalhou quais serão essas ações estratégicas.

Ainda no discurso, Lula se disse "muito satisfeito" com as "perspectivas" de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção do gasoduto Néstor Kirchner. A obra será responsável por ligar o campo de gás Vaca Muerta, em Neuquén, à localidade de Salliqueló, na província de Buenos Aires.

"Fico muito satisfeito com as perspectivas positivas de financiamento do BNDES à exportação de produtos para a construção do gasoduto Néstor Kirchner", afirmou Lula. O petista disse ainda que o governo brasileiro irá financiar a compra de produtos do Brasil pelo país vizinho por meio de uma ''linha abrangente'', sem dar mais detalhes.

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No plano de ação, além do estudo sobre o financiamento de exportações de produtos brasileiros e para a construção do gasoduto argentino, aparece ainda a intenção de estruturar e decidir sobre o financiamento para exportação de blindados Guarani à Argentina. Os blindados Guarani, produzidos em Sete Lagoas (MG), pela empresa Iveco, são os carros de combate mais modernos do Brasil, usados, geralmente em missões de paz.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Enfraquecido, Fernández não vai disputar reeleição na Argentina 

O encontro de Fernández com Lula ocorre dois dias depois da data limite para registro das pré-candidaturas na Argentina. Enfraquecido politicamente e com o país enfrentando uma de suas piores crises econômicas, Fernández desistiu de disputar uma reeleição.

Além disso, o atual presidente rompeu com a vice-presidente Cristina Kirchner, principal liderança do peronismo, corrente política do atual governo.  Após uma reviravolta, a base governista anunciou Sergio Massa, atual ministro da Economia, como pré-candidato. Massa é aliado de Cristina.

Os argentinos enfrentam uma grave crise na economia, com desvalorização da moeda local e altos índices inflacionários. A inflação anualizada está em 114%. Com isso, o presidente argentino vê na ajuda de Lula uma forma de tentar dar musculatura para a candidatura do seu grupo político neste ano.

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A agenda de Fernández no Brasil também incluiu compromissos nesta segunda com o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Rosa Weber.