O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconheceu que o cenário político no continente mudou desde que deixou a presidência da República, em 2010, e que terá “problemas” nas relações com os outros presidentes. As declarações foram dadas dias depois da vitória do libertário Javier Milei na eleição presidencial argentina, com quem Lula ainda não conversou.
“Acho que estamos numa fase melhor de quando eu deixei a Presidência, se bem que estamos vivendo algumas confusões na América do Sul. Não é a mais a mesma de 2002, 2004 e 2006. Vamos ter problemas políticos”, disse Lula nesta terça (21) durante a cerimônia de formatura de novos diplomatas do Instituto Rio Branco.
Lula não citou diretamente Milei, mas a declaração reforça a preocupação com o avanço da direita no continente com a redução de mandatários da esquerda. Além da eleição do libertário na Argentina, o líder direitista Daniel Noboa toma posse na presidência do Equador nesta quinta (23).
A eles se somam Luis Lacalle Pou (Uruguai), Santiago Peña (Paraguai) e Dina Boluarte (Peru).
“Eu não tenho que gostar do presidente do Chile, da Argentina, da Venezuela. Ele não tem que ser meu amigo. Ele tem que ser presidente do país dele e eu tenho que ser presidente do meu país. Temos que ter política de Estado brasileiro, e ele, do Estado dele”, continuou Lula aos novos diplomatas.
O presidente afirmou que as relações devem ficar restritas às políticas comerciais, com cada presidente “defendendo os seus interesses” sem ter “supremacia de um sobre o outro”.
Apesar de dizer que não tem que gostar do presidente da Argentina, Lula reconheceu a importância de manter um bom relacionamento com o país vizinho. Ele afirmou que os dois países são parceiros e que o Brasil “tem uma relação extraordinária com a Argentina, foi o primeiro país que eu visitei [ao ser eleito], para dar demonstração em 2003 de que a gente ia ter uma forte política para América do Sul”.
As relações entre Lula e Milei ainda são inexistentes, já que não houve nenhuma ligação oficial entre eles desde a eleição no último final de semana. O presidente brasileiro apenas postou uma mensagem nas redes sociais ainda no domingo (19) desejando sorte ao novo governo, mas sem citar nominalmente o candidato eleito.
De lá para cá, muito se especulou se Lula daria o tradicional telefonema para parabenizar o presidente eleito, o que não ocorreu. O ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), defendeu que o petista não ligue para Milei, e ainda justificou que ele deveria pedir desculpas por afirmações feitas durante a campanha eleitoral.
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