As sucessivas defesas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao ditador venezuelano Nicolás Maduro desde que chegou ao Brasil no domingo (28), e foi recebido na segunda (29) com honras no Palácio do Planalto, geraram críticas contundentes tanto por parte da oposição como de analistas políticos e aliados do governo, em conversas reservadas. O líder da Venezuela veio ao país para participar da Cúpula da América do Sul, em Brasília.
Lula vem reiterando que se construiu uma “narrativa” contra a Venezuela, negando todas as violações de direitos humanos e políticas que ocorrem no país desde a época do antecessor de Maduro, Hugo Chávez.
Um exemplo foi o processo que levou à reeleição a Maduro em 2018. A Organização das Nações Unidas (ONU) se recusou a enviar observadores internacionais para acompanharem a eleição, e a oposição do país denunciou fraudes e compra de votos. Maduro é, ainda, investigado pelo Tribunal Penal Internacional de Haia, na Holanda, por crimes contra a humanidade e procurado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos por narcoterrorismo.
Henrique Capriles, um dos líderes da oposição venezuelana e pré-candidato presidencial, disse nesta quarta que as declarações de Lula foram um "tapa na cara de milhões de venezuelanos". "Gostaria de saber o que Lula pensa sobre a situação de nossos aposentados, e ele já está em idade de receber uma aposentadoria, que ganham menos de US$ 5 por mês", afirmou Capriles em entrevista ao Globo.
"Os venezuelanos nunca foram um povo que imigrava para outras terras, então, por que existem tantos venezuelanos espalhados pelo mundo? A resposta é porque não podem ter na Venezuela um trabalho estável, bem pago, para poder comer, pagar um remédio, porque o sistema de saúde público não te dá. Gostaria de saber a opinião de Lula sobre tudo isso", acrescentou. O Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) estima que, até o fim do ano passado, mais de 6 milhões de pessoas tenham deixado a Venezuela em busca de uma vida melhor.
"Inexplicável um país ter 900 sanções porque o outro país não gosta dele"
As falas de Lula, no entanto, mantém a defesa de Maduro mesmo com todo o histórico do ditador. Uma das principais declarações de Lula questionou a visão que o mundo tem da Venezuela, em que disse que o ditador deveria “mostrar a sua narrativa para que possa efetivamente fazer as pessoas mudarem de opinião”.
“Eu acho que por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você. É efetivamente inexplicável um país ter 900 sanções porque o outro país não gosta dele”, disse o presidente brasileiro.
Lula considera ainda que “a coisa mais absurda do mundo” é que pessoas que defendem democracia “neguem que Maduro seja presidente da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo”.
A comunidade internacional apoiou a declaração do então presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, como presidente do país em 2019. Lula disse que brigou muito “com companheiros social-democratas europeus, com governo, com pessoas dos Estados Unidos” por conta das críticas a Maduro.
Lula lembrou que foi criticado durante a campanha eleitoral por apoiar a Venezuela, dizendo que há um “grande preconceito" com o país.
“Quantas críticas a gente sofreu aqui durante a campanha por ser amigo da Venezuela. Havia discursos e mais discursos, os adversários diziam ‘se o Lula ganhar as eleições, o Brasil vai virar uma Venezuela, uma Argentina, uma Cuba’, quando o nosso sonho era que o Brasil fosse o Brasil mesmo, melhor”, disse.
O presidente ignorou as denúncias contra Maduro e ainda indagou jornalistas quando chegou ao Palácio Itamaraty: “quantos anos vocês passaram ouvindo dizer que o Maduro era um homem mau?”, sendo respondido pelo ditador como “muitos anos”.
Segundo levantamento de maio da ONG venezuelana Foro Penal, há 285 presos políticos na Venezuela. Analistas políticos locais há tempos já adotam o termo “porta-giratória” para descrever o entra e sai de presos políticos nas prisões venezuelanas.
"Narrativa: foi assim que aconteceu com Chávez. Foi assim que aconteceu comigo"
Em outro momento da Cúpula, na quarta (30), Lula reafirmou o apoio e a defesa a Maduro mesmo com críticas de outros presidentes sul-americanos, como Luis Lacalle Pou, do Uruguai, e Gabriel Boric, do Chile. Para o brasileiro, as críticas de que “não é possível que não tenha o mínimo de democracia na Venezuela” não se sustentam.
“O Maduro é um presidente que faz parte do continente nosso, desse pedaço do continente americano. O Maduro foi convidado e houve muito respeito com a participação do Maduro, inclusive com os companheiros que fizeram críticas, fazendo a crítica no limite da democracia, porque nessas reuniões ninguém é obrigado a concordar com ninguém”, disse Lula.
O presidente brasileiro emendou, e disse que a “narrativa” do que seria uma “antidemocracia” foi construída desde que o então líder Hugo Chávez tomou posse no país.
“Eu tive a oportunidade de ver isso, uma narrativa em que você determina que o cara é um demônio. A partir daí você começa a jogar todo mundo contra ele. Foi assim que aconteceu com o Chávez. Foi assim que aconteceu comigo”, afirmou.
É sabido que o desmoronamento da democracia da Venezuela iniciou com Chávez, com a cooptação do judiciário, do Exército e do sistema eleitoral. Um exemplo de perseguição que ocorria nos tempos do presidente venezuelano falecido é a história da juíza María Lourdes Afiuni, que teve a prisão televisionada depois de dar uma decisão que desagradou Chávez.
“Então, o que eu disse para o Maduro é que existe uma narrativa no mundo de que na Venezuela não tem democracia e que ele cometeu erros. Eu disse que é da obrigação dele construir a narrativa dele com os fatos verdadeiros”, acrescentou.
O mandatário do Brasil ainda tentou mostrar que Chávez era tão "democrático" que fazia referendos "por qualquer coisa", ignorando as denúncias de fraude eleitoral no país, há anos alertadas pela oposição venezuelana.
"Não é possível que, de 29 eleições, o cara tenha ganhado 27 ou 25. Não é possível que, de 23 governadores, ele tenha eleito 19. E ele perdeu exatamente na cidade do Chávez. Não é possível que não tenha o mínimo de democracia na Venezuela. Eu brigava com o Chávez porque qualquer coisa ele queria fazer um referendo", afirmou.
Coleção de declarações questionáveis
As declarações de Lula em defesa do ditador Nicolás Maduro foram precedidas de outras questionáveis, como as constantes contra empresários do agronegócio, que chamou de “fascistas e negacionistas”, e de ilações contra o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), de que teria feito uma “armação” no caso em que se descobriu um plano do PCC para sequestra-lo, em meados de março.
Além dos episódios da política nacional, Lula também deu declarações questionáveis sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, de que o país invadido também seria responsável pelo conflito. A fala gerou reação imediata da Casa Branca, que afirmou na época que ele “papagueia a propaganda russa”.
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