Comitiva de Lula inclui 18 ministros e parlamentares, entre eles novos e ex-presidentes do Congresso.| Foto: Ricardo Stuckert/Secom
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O encontro do imperador japonês Naruhito do Japão com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta semana marca a segunda vez que o chefe de Estado do Japão recebe oficialmente um mandatário estrangeiro. O primeiro a receber a honraria da audiência com o imperador foi o presidente Donald Trump, em 2019. O privilégio dado a Lula ocorre porque o Brasil tem a maior comunidade japonesa fora do Japão, com cerca de dois milhões de pessoas. A imprensa japonesa afirmou que a visita diplomática também é uma forma de tentar impedir um alinhamento maior do Brasil com a China.

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Naruhito tem 65 anos de idade. Ele assumiu o trono em maio de 2019 com a abdicação de seu pai, Akihito, que reinou por três décadas. O imperador é considerado no Japão o símbolo do Estado e da unidade do povo. Ele não exerce funções de governo, mas tem um alto grau de representatividade no povo japonês, segundo o professor Elton Gomes, do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Ser recebido pelo imperador é considerado grande sinal de prestígio. Lula também se encontrará com o chefe de governo, o premiê Shigeru Ishiba.

A visita acontece no contexto dos 130 anos da relação bilateral e a honra dada a Lula se explica na grande comunidade japonesa no Brasil. O Japão não recebia visitas de Estado desde a pandemia de Covid. Além disso, conforme apurou Gazeta do Povo, o mandatário e sua esposa, a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, também serão condecorados com a honraria máxima do país. A ação diplomática é um gesto do Japão para reforçar a relação entre os dois países, que estaria em declínio.

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Lula é retratado pela mídia japonesa como um líder de esquerda não alinhado com o principal aliado do Japão, os Estados Unidos. O gesto de boa vontade com o presidente brasileiro é visto ainda como uma sinalização para os países do chamado Sul Global, como são chamados os países em desenvolvimento.

O brasileiro e sua comitiva desembarcaram em Tóquio neste final de semana em busca de novos comércios e parcerias no Japão e no Vietnã. O petista foi ao país com a missão de tentar destravar a entrada de carne bovina no Japão, além de tentar pressionar o país a avançar em um acordo comercial com o Mercosul.

A visita é vista com bons olhos pelo Itamaraty, devido ao alto nível diplomático em que acontece. Tradicionalmente, o imperador japonês recebe apenas um presidente, rei ou chefe de Estado, por ano em seu palácio. A última visita deste tipo ocorreu há seis anos, quando Donald Trump e sua esposa foram recebidos por Naruhito para um jantar de alto nível em 2019.

A viagem de Lula ao continente asiático acontece ainda em um momento internacional volátil devido à agressiva política tarifária de Trump. Enquanto o governo brasileiro enfrenta impasses com o republicano, Lula deseja expandir o mercado com o Japão e o Vietnã, países que ele visita nesta semana.

Lula e Janja são recebidos para jantar com o imperador

A agenda oficial de Lula começa na noite desta segunda-feira (24) -manhã de terça-feira (25) no Japão - no Palácio Imperial com um primeiro encontro com Nahurito e a imperatriz Masako. Os líderes participam de uma reunião privada e devem discutir a relação bilateral, além de tratarem da comunidade brasileira no Japão e dos imigrantes japoneses que vivem no Brasil.

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A comunidade de japoneses e seus descendentes em solo brasileiro é a maior do mundo, com cerca de dois milhões de membros. Além disso, há um grande número de imigrantes brasileiros que vivem no Japão, os decasseguis, população com a qual o Ministério das Relações Exteriores afirma querer maior aproximação e laços com o Brasil.

Segundo o analista Gomes, o encontro de Lula com o imperador serve como um símbolo da representatividade da relação entre os dois países, que partilham uma aproximação amistosa há mais de uma década. "Brasil e Japão têm cooperação comercial, tecnológica e cultural, mas esse encontro também sinaliza uma reafirmação da aproximação entre os dois países", pontua. De acordo com Gomes, o mercado entre os dois países foi suprimido pela força da China, que se tornou o principal parceiro comercial do Brasil nos últimos anos e é um "inimigo secular" dos japoneses. O esforço dos japoneses é tentar reequilibrar essa relação.

Nahurito e a imperatriz Masako também recebem o mandatário brasileiro para um banquete de Estado na manhã de terça-feira (25) - 19h no Japão). Tradicionalmente, o jantar recebe autoridades de ambos os países e convidados especiais. Para a ocasião com Lula, nomes relacionados ao futebol devem comparecer, como o jogador de futsal Miura Kazuyoshi, conhecido como Rei Kazu e que atuou em clubes brasileiros, e o comentarista nipo-brasileiro Sergio Echigo.

Os tradicionais jantares com o imperador costumam seguir um clássico ritual, que vão desde à chegada dos convidados ao formato da sobremesa servida na ocasião. O jantar, de acordo com a imprensa japonesa, tem início com a recepção dos imperadores, que iniciam a cerimônia com um breve discurso de boas-vindas e a execução do hino nacional do Japão.

Em seguida, é a vez do convidado, no caso o presidente Lula, de realizar um discurso curto e ouvir o hino nacional brasileiro. Encerradas as intervenções, o presidente convidado e o imperador fazem um brinde e o jantar é iniciado. Os banquetes são compostos de uma sopa, um prato de peixe, um prato de carne, salada, sobremesa fria (um sorvete servido no formato do Monte Fuji) e frutas.

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Eventos como este costumam exigir trajes de gala dos convidados, como o que Trump utilizava na ocasião em que foi recebido pelo imperador Nahurito. Porém, a pedido do governo brasileiro, esta tradição deve ser quebrada e os presentes no jantar desta terça-feira (25) terão a possibilidade te utilizarem trajes casuais.

Honraria máxima do Japão será dada a Lula e Janja

O presidente Lula e a primeira-dama também serão condecorados pelo governo japonês com a máxima honra do país durante a viagem que fazem pelo Japão nesta semana. Será concedido a Lula o Grão-Cordão da Ordem do Crisântemo, a honraria é concedida a chefes de Estados em reconhecimento à contribuição para a relação dos dois países.

Janja, por outro lado, vai receber a honraria designada a primeiras-damas e outras figuras femininas que têm atuação diplomática na relação nipo-brasileira, denominada Grão-Cordão da Ordem da Preciosa Coroa. De acordo com o Secretário-Chefe do Gabinete do Primeiro Ministro do Japão, Hayashi Yoshimasa, a honraria tem a intenção de fazer um aceno à relação histórica do Brasil com o Japão, que neste ano celebra 130 anos.

"O Brasil e o Japão têm uma relação histórica próxima, e muitos japoneses imigraram para o Brasil. O Ministro enfatizou, portanto, a importância deste prêmio para aprofundar ainda mais os laços entre os dois países", disse Yoshimasa em entrevista à imprensa local.

Apesar do presidente Donald Trump ter sido o último chefe de Estado a realizar uma visita de altíssimo nível ao Japão e recebido pelo imperador, o republicano não foi condecorado com tal honraria. Em 2017, por exemplo, o rei Felipe VI, da Espanha, foi condecorado com a distinção.

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