O presidente Lula (PT)| Foto: André Borges/EFE
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Um aparente paradoxo chamou a atenção na pesquisa divulgada pela Genial/Quaest, nesta segunda-feira (13), sobre o potencial de voto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para buscar a reeleição em 2026. Mais da metade dos entrevistados (55%) entende que, às vésperas de completar um ano e meio do terceiro mandato, Lula não merece continuar à frente do Palácio do Planalto. Contudo, o mesmo levantamento indica sua hipotética vitória, com 46% das intenções de voto, em um eventual confronto contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que teria 40% dos votos.

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Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a pesquisa é reveladora sobre os humores do eleitorado com o desempenho do governo, mas também indica uma fadiga com a figura do presidente, que não tem um sucessor óbvio no seu campo político. O percentual dos que endossam o desejo do petista em voltar às urnas em 2026 (42%) é inferior aos 46% que apertariam o "sim" na urna a favor dele, contra Tarcísio, denotando ausência de opções claras à esquerda. Lula também aparece à frente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), com 32% de potencial de voto.

Lula segue com forte apoio entre o eleitorado nordestino — único grupo regional no qual o presidente é aprovado pela maioria da população (60%), que defende novo mandato para ele. Entre todas as regiões do Brasil, é no Sudeste que o presidente da República enfrenta a maior rejeição, com 63% contrários a um segundo mandato seguido. A pesquisa ouviu 2.045 eleitores, de forma presencial, entre os dias 2 e 6 de maio de 2024. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança do levantamento é de 95%.

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O diretor da Dominium Consultoria, Leandro Gabiati, ressalta que “pesquisa é sempre foto do momento”, de modo que a sinalização atual do eleitorado reflete vários problemas que o governo enfrenta, que vão desde a gestão do seu dia a dia à sua forma de se comunicar. “O mais interessante do levantamento da Quaest está no fato de, ainda que a maioria diga não gostar da ideia de reeleição de Lula, o cenário com vários potenciais concorrentes à direita ainda o deixa competitivo”, diz.

O cientista político considera a situação do presidente brasileiro parecida com a de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, com a diferença que o colega americano vai encarar uma eleição daqui a seis meses - provavelmente contra o ex-presidente Donald Trump -, enquanto Lula tem a vantagem de ainda ter dois anos e meio pela frente para melhorar suas condições eleitorais. “Lula tem ainda o agravante de não ter sucessor. Esse problema ele mesmo criou”, acrescenta.

Insatisfação com Lula contribui para sensação de fadiga da sua imagem

Na avaliação dos especialistas ouvidos pela reportagem, os índices econômicos e alguns acúmulos de erros de Lula são fatores que favorecem a opinião da população de que ele não merece uma nova chance à frente do Executivo. “Há cansaço com a imagem do presidente e dificuldades de seu campo político em se conectar com o cidadão comum. Enquanto a esquerda debate internamente teses acadêmicas, a direita está se comunicando diretamente com o eleitor”, avalia Luiz Filipe Freitas, cientista político e assessor legislativo do escritório Malta Advogados.

Para a doutora em Ciências Políticas Deysi Cioccari, a atual situação do presidente petista não é favorável e ele tem apresentado dificuldade em conciliar popularidade, bons índices econômicos e desenvoltura no relacionamento com o Congresso. Fatores que, de acordo com ela, são fundamentais para construir uma boa popularidade política e permanência no cargo.

“A economia está patinando e demonstra sinais de desgaste nas relações quando ele [Lula] não acerta o discurso com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A comunicação não tem funcionado bem e a popularidade precisa ser trabalhada. O Congresso está em uma guerra de emendas”, avalia Cioccari.

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O cientista político e consultor eleitoral Paulo Kramer concorda com a tese de “fadiga do material” para o candidato Lula, algo que se “tornou evidente até para quem não acompanha com atenção o dia a dia da política”.

A atuação do Executivo frente à tragédia em curso no Rio Grande do Sul é mais um fator que pode acabar pesando para a queda da popularidade de Lula. Em reunião ministerial realizada nesta segunda-feira (13), Lula se queixou das falhas promovidas pelo seu governo durante atuação nos municípios gaúchos. O fato de a oposição se utilizar desse cenário para exaltar os erros do governo também foi uma reclamação de Lula, que pediu aos ministros para tentarem reverter esse quadro por meio da divulgação de mais resultados da atual gestão.

Em declaração, o mandatário cobrou uma ação conjunta das pastas e ministros, com o objetivo de angariar força para combater o que ele chamou de “fake news” nas redes sociais, nas quais a atuação do governo no Sul do país tem sido questionada.

Para tentar reverter a situação, Lula pode criar um novo ministério para tratar das ações de enfrentamento à tragédia no RS. A pasta deve ser comandada por Paulo Pimenta, que era o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom). Pimenta é gaúcho e é deputado federal licenciado.

Ausência de um nome alternativo da esquerda deixa Lula competitivo

O paradoxo apontado pelos analistas na pesquisa, contudo, deve-se à ausência de um nome que possa substituir Lula nas próximas eleições no campo da esquerda. Para Freitas, a pesquisa reflete uma combinação de sentimentos do eleitorado, começando pela falta de identificação com novos líderes da esquerda, prevalecendo a força política que Lula ainda exerce.

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Apesar da vitória de Lula em 2022, o especialista afirma que para repetir o êxito em 2026 ou fazer sucessor, o petista terá de percorrer longa jornada de autorreflexão, o que a esquerda não parece disposta a fazer. A imagem do mandatário tornou-se um símbolo identitário e ideológico no Brasil e dificilmente outra pessoa pode ocupar esse espaço sem o “aval” de Lula.

Kramer também atribui a ausência de nomes fortes do PT a esse personalismo do presidente, que, ao contrário do antecessor, Jair Bolsonaro (PL), jamais deixou florescer herdeiros de comprovada popularidade. Além disso, não restaram nomes com visão política menos radicalizada. “Após longa agonia do lulopetismo, seu destino parece desaguar no aventureirismo de um Guilherme Boulos, etapa avançada na trajetória do PT rumo à irrelevância final”, opina Kramer.

A aposta de Lula pela polarização, conforme avalia Deysi Cioccari, também contribui para esse cenário de dificuldades em emplacar novos nomes. “Falta o presidente apadrinhar esse novo nome como fez com a Dilma na campanha dela. A Dilma era uma personagem engessada, dura e ele começou a dizer que ela era a mãe do PAC, que não ia governar, que ia cuidar das pessoas… Falta a Lula passar o bastão como fez com Dilma”, analisa ainda a doutora em Ciências Políticas.

Popularidade em queda preocupa Lula e governo vê falha de comunicação

Os analistas ainda pontuam que os resultados indicados pelas pesquisas preocupam Lula. Após a divulgação do levantamento da Genial Quaest, nesta segunda-feira (13), o mandatário anunciou que cancelaria uma viagem com destino ao Chile no final de semana. Em comunicado oficial do Palácio do Planalto, a justificativa foi a preocupação em mandar esforços para o Rio Grande do Sul.

“Pesquisas sempre impactam, causam incômodo e reações. Viajar agora no meio da popularidade em baixa (ou caindo) e em meio à tragédia humanitária [no RS], só reforçaria a sensação de que o presidente está descolado da realidade”, disse Deysi.

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Após a divulgação do levantamento, o petista também convocou uma reunião de última hora com todos os ministros para discutir ações voltadas para os municípios gaúchos. Apesar de o foco do encontro ter sido a devastação no Rio Grande do Sul, Lula voltou a cobrar de seus ministros uma melhor comunicação e ações mais concretas.

Apesar de ter acumulado alguns saldos em seus primeiros meses de governo, pesquisas de opinião indicaram consecutivas quedas na popularidade de Lula. A leitura do Planalto para a insatisfação do eleitorado foi a de falha na comunicação: os resultados e ações do governo não estariam chegando à população.

Em meados de março, o Planalto anunciou que adotaria medidas para otimizar essa comunicação. Naquele momento, Lula já havia cobrado de seus ministros ações, melhor comunicação nas redes sociais e na divulgação dos resultados de suas pastas. O puxão de orelha, contudo, ainda não surtiu efeito.

Na avaliação de cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec-DF e da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), as dificuldades do governo não dizem respeito apenas à falha de comunicação, mas principalmente no tocante às realizações.

No atual cenário, Lula tem tido dificuldades com a atuação do Executivo frente à tragédia no Rio Grande do Sul. “[O governo] está batendo cabeça com essa crise do Sul e certamente isso vai gerar um desgaste além das possíveis consequências econômicas”, pontua Cerqueira.

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O governo anunciou uma série de medidas para apoiar financeiramente o estado, que tem sido castigado com chuvas torrenciais. O presidente Lula já fez duas viagens a municípios gaúchos e planeja mais uma nesta quarta-feira (15) para anunciar novas medidas de ajuda ao estado. Porém, os erros do governo e a má atuação logística no apoio ao estado gaúcho é o que tem ganhado espaço entre a população.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]