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Defesa

Após ser contra inspeções, Lula terá de ceder para Brasil operar submarino nuclear

Lula
Presidente terá de permitir acesso de inspetores às instalações nucleares brasileiras se quiser colocar submarino para operar. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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Empenhado há 45 anos no projeto de desenvolvimento de um submarino de propulsão nuclear, o Brasil busca o aval da Organização das Nações Unidas (ONU) para concretizar o veículo militar, mas as negociações esbarram em antigas resistências às inspeções detalhadas nas instalações atômicas.

Embora o Brasil seja signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), o governo sempre se recusou a aderir a um protocolo de 1997 que permite o acesso facilitado a inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que vê a inspeção como um risco à soberania e segredos industriais.

Em meados de 2004, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetou a inspeção de suas ultracentrífugas, dispositivos cruciais na transformação de gás de urânio em combustível nuclear. Essa atitude gerou uma crise, e agora, as negociações propõem inspeções ainda mais invasivas.

“Ter um submarino nuclear é legítimo. Se o país quer um, tem de fazer um acordo com a AIEA, que será muito estrita no regime de inspeções. Eu preciso dar garantias para a comunidade internacional”, afirmou Rafael Grossi, diretor-geral da AIEA, em entrevista à Folha de São Paulo publicada nesta quinta (18).

As discussões, iniciadas em junho de 2022, agora enfrentam desafios diplomáticos e técnicos. Grossi sugeriu que a autorização para operar o submarino nuclear Álvaro Alberto só deverá ser concedida, se tudo ocorrer como previsto, em até cinco anos. “Pode ser um pouco menos”, ressaltou.

“Em teoria, é possível ter um protocolo separado [sem assinar os de 1997]. Mas, na realidade, é quase um debate acadêmico. Temos de desdramatizar as coisas. Proteger segredos industriais e comerciais, mas temos de avançar a um regime aceitável. O mundo de 1997 não é o de 2020, o Brasil está mais maduro. No fim do dia, o país não tem nada a ocultar”, ressaltou.

Origem do combustível preocupa

O diretor-geral da AIEA destaca que as negociações incluirão um ponto crítico para o Brasil: a origem do seu combustível nuclear. Apesar de dominar o ciclo completo de produção, o país carece de capacidade certificada para produzi-lo atualmente.

Após tentativas frustradas de cooperação com os Estados Unidos, o Brasil buscou assistência da Rússia, porém, as complicações surgidas com a Guerra da Ucrânia dificultaram as conversas. Há também desafios técnicos, uma vez que o submarino Álvaro Alberto é a materialização do projeto nuclear da Marinha desde 1979, mas só foi contemplado no acordo militar Brasil-França de 2009.

O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), orçado em R$ 65 bilhões, já entregou dois dos quatro modelos de propulsão convencional baseados no francês Scorpène. O mais recente, o Humaitá, entrou em operação na última sexta-feira (12).

O projeto prevê, ao final, a incorporação do modelo nuclear com previsão otimista de entrar em operação em 2033, após superar desafios relativos à integração do reator ao casco.

Enquanto o Brasil enfrenta esses desafios, Grossi expressou o desejo de visitar o país ainda neste ano para debater a questão. A reportagem buscou a Marinha em relação ao programa nuclear, mas não obteve resposta.

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