Em viagem ao Egito na próxima semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá discutir uma solução de paz na Faixa de Gaza com o presidente egípcio, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi. A tentativa do petista de se tornar relevante na resolução da guerra ocorrerá mesmo após as críticas feitas a Israel e de ter dito, em outubro do ano passado, que a resposta do país aos ataques do Hamas se tratava de "genocídio".
Junto a outros países árabes, o Egito tem desempenhado um importante papel nas discussões entre Israel e o Hamas desde que o grupo terrorista deu início a uma guerra em outubro do ano passado.
Lula partirá rumo à África na quarta-feira (14) e já no dia seguinte terá um encontro bilateral com Al-Sisi. Conforme informou o Ministério de Relações Exteriores, o petista pretende abordar as negociações sobre um cessar-fogo em Gaza e se colocar à disposição para uma solução do conflito. De acordo com o embaixador e secretário de Oriente Médio do Itamaraty, Carlos Sérgio Sobral Duarte, Lula pretende reforçar o apoio do Brasil à solução de dois Estados e às negociações para liberação de reféns, bem como a continuidade da ajuda humanitária do Brasil às áreas atingidas pela guerra.
"O Egito é um país árabe influente em questões do Oriente Médio e o Brasil manteve discussões com o país referente à crise em Gaza nos últimos meses no mais alto nível e também entre ministros", pontuou Sobral. A influência do Egito no conflito se dá sobretudo pelo país, além de Israel, fazer fronteira com a Faixa de Gaza. Cairo foi um importante ator da saída de brasileiros e seus familiares do enclave e tem sido, junto a outros países, um negociador para o fim da guerra.
A última proposta de cessar-fogo foi enviada pelo Hamas nesta semana. O acordo enviado pelos terroristas prevê um plano que levaria pouco mais de quatro meses para colocar um fim à guerra e pede que Israel reconstrua Gaza.
O governo israelense, que disse há poucas semanas que o conflito só chegaria ao fim quando o grupo fosse exterminado, ainda não respondeu à proposta do Hamas. Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, dificilmente o governo israelense vai aceitar a proposta do Hamas.
Após os ataques do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, o Brasil tentou ser um agente ativo no conflito, mas não obteve muito espaço nas negociações. À frente do Conselho de Segurança, a diplomacia brasileira apresentou uma proposta de intermediação da guerra no dia 18 de outubro. O texto, contudo, foi vetado pelos Estados Unidos por não prever o "direito de Israel de se defender dos ataques cometidos pelo Hamas".
Lula fez diversas críticas a Israel
Sem destaque nas negociações de paz para o conflito no Oriente Médio, Lula desferiu uma série de críticas a Israel nos últimos meses. Além de não classificar o Hamas como um grupo terrorista, em uma de suas declarações, em outubro do último ano, chamou de "genocídio" a resposta de Israel aos ataques do Hamas.
“É muito grave o que está acontecendo neste momento no Oriente Médio, ou seja, não se trata de ficar discutindo quem está certo, quem está errado, de quem deu o primeiro tiro, quem deu o segundo. O problema é o seguinte aqui: não é uma guerra, é um genocídio que já matou quase 2 mil crianças que não têm nada a ver com essa guerra, que são vítimas dessa guerra”, disse Lula.
Em janeiro, Lula também apoiou uma denúncia contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ). Apresentada pela África do Sul, a denúncia pede que a CIJ abra uma investigação contra Israel pelo suposto crime de genocídio contra o povo palestino na Faixa de Gaza. A investigação, contudo, não chegou a um veredito sobre as ações de Israel.
Viagem de Lula à África é "essencialmente política"
Conforme informou o Palácio do Itamaraty, a viagem de Lula ao continente tem um caráter "essencialmente político". Além de Egito e Etiópia terem sido convidadas em 2023 a ingressar os Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a União Africana se tornou membro do G20 neste ano.
Além das tratativas sobre a guerra entre Israel e Hamas no Oriente Médio, a viagem ao Egito também celebra o centenário das relações diplomáticas entre as duas nações. No país, os líderes também discutem a ampliação das relações bilaterais.
"O Egito foi o país africano com quem o Brasil teve o maior comércio na África nos últimos anos. Além disso, uma série de desenvolvimentos recentes com a intenção de melhorar a relação comercial entre os dois países tem sido discutidos para aumentar o fluxo comercial", informou Carlos Duarte em coletiva de imprensa. Os dois países estão negociando a abertura de uma rota aérea direta para Cairo com saída de São Paulo.
Com o roteiro na África, Lula também espera encontrar aliados em discussões que o Brasil tem buscado pautar durante sua presidência no G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo). "Essa visita [de Lula ao Egito e Etiópia] representa a prioridade que Lula deu à agenda internacional do Brasil. Esses países têm muito em comum com o Brasil e as agendas coincidem", disse Carlos Duarte.
Neste ano, é o Brasil quem dita a pauta do G20 e a agenda prioritária do governo é baseada em três pilares de discussões: sustentabilidade e transição energética; combate à fome e à desigualdade social; e reforma das lideranças e dos organismos globais. A União Africana, que representa os 55 países da África, foi recentemente incluída ao grupo.
Desde que tomou posse para o seu terceiro mandato, o petista tem reiterado o desejo de se reaproximar das nações africanas. No último ano, Lula ficou quase uma semana em um tour no continente e passou pela África do Sul, Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
Encontro com Guterres e Mahmoud Abbas
Após a passagem pelo Egito, Lula segue para a Etiópia, onde participa da Cúpula da União Africana nos dias 17 e 18. No país, além dos compromissos previstos pelo evento, o petista tem uma série de reuniões bilaterais com líderes africanos. O destaque, contudo, deve ser para o encontro que tem sido orquestrado para acontecer entre o brasileiro, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
A reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) também deve ser discutida entre Lula e Guterres. Esse será o quarto encontro entre os dois desde que o petista assumiu para seu terceiro mandato. Eles já se encontram em outras três ocasiões: às margens da Cúpula do G7, em maio, no Japão; durante a Assembleia Geral da ONU, em setembro, nos Estados Unidos; e durante a COP 28, em dezembro, nos Emirados Árabes Unidos.
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