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Juscelino Filho

Lula tenta minimizar crise com ministro para evitar racha com União Brasil

Lula escolheu Juscelino Filho para o ministério das Comunicações para atrair o apoio do União Brasil. (Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto)

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As recentes denúncias contra o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), colocaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corda bamba. Embora o petista tenha prometido que ministros envolvidos em escândalos seriam “convidados a sair”, tirar Juscelino Filho do cargo tem potencial de desgastar a relação com o União Brasil, partido que será importante na estratégia de governabilidade de Lula. A pressão pela demissão do ministro vem dos próprios integrantes do PT e reverbera entre a oposição e organizações sociais.

Enquanto isso, aliados do presidente iniciaram nos últimos dias um movimento para minimizar a crise e costurar uma alternativa que não amplie o racha dentro do União Brasil. Apesar de contar com três ministérios, a legenda ainda está dividida sobre o apoio ao governo dentro do Congresso Nacional.

Lula indicou que pretende conversar com o chefe da pasta na próxima semana, para que ele se explique. "O ministro Juscelino está viajando, está no exterior, a serviço do ministério, discutindo em um encontro de telecomunicações. Eu já pedi para o ministro Rui Costa [da Casa Civil] convocar ele para segunda-feira a gente ter uma conversa, porque ele tem direito de provar sua inocência. Mas, se ele não conseguir provar a sua inocência, ele não pode ficar no governo", afirmou o presidente em entrevista à Band News FM nesta quinta-feira (2).

Ministro usou voo da FAB para acompanhar leilão de cavalos em São Paulo

A crise mais recente foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo, que mostrou que Juscelino Filho usou o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e recebeu diárias pagas pelo governo para participar de leilões de cavalos de raça em São Paulo. Antes disso, o chefe da pasta das Comunicações já havia sido acusado de ter utilizado emenda do chamado orçamento secreto para se beneficiar pessoalmente e de ter omitido da declaração de bens possuir animais de raça avaliados em mais de R$ 2 milhões.

Apesar disso, Lula e demais integrantes do Palácio do Planalto evitaram, até aqui, abordar publicamente as acusações contra o ministro. Interlocutores do governo admitem que as acusações tem provocado desgastes internos, mas que Lula pretende ouvir explicações por parte do próprio Juscelino Filho.

Em nota, divulgada nesta quinta-feira (2), o ministro afirmou que devolveu o dinheiro de diárias recebidas do governo irregularmente para cobrir despesas da viagem que fez para São Paulo e que teve como agenda principal compromissos particulares. Mas ele não informou se também irá devolver as despesas com o avião da FAB que o trouxe de volta a Brasília quando não estava em serviço, contrariando as regras sobre o uso das aeronaves.

Liderança do PT tenta conter danos no Congresso Nacional

Apesar de o Palácio do Planalto ter evitado tratar da crise envolvendo o ministro das Comunicações publicamente, integrantes do PT já pressionam Lula pela demissão. Reservadamente, lideranças petistas avaliam que Juscelino Filho só gerou desgastes para o governo e não conta com apoio dentro do próprio União Brasil.

Assim como o Planalto, os articuladores do governo no Congresso têm buscado minimizar a pressão dos deputados e senadores. Líder do governo no Senado, o senador Jaques Wagner disse que ainda aguarda orientações de Lula para tratar o tema, mas avaliou que não deve haver um julgamento precipitado.

"Temos que esperar a revelação dos fatos, a investigação, pra saber se tudo que estão falando é pertinente ou não", afirmou.

Na mesma linha, o deputado José Guimarães, líder do governo na Câmara, afirmou que seu papel é o de "baixar a temperatura". “Minha missão é arrumar voto pro governo na Câmara. Quem bota e tira ministro é o presidente da República. Eu não sei, calma, o papel de vocês [jornalistas] é especular, e o meu é baixar a temperatura”, disse o líder do governo.

Os governistas acreditam que as próximas semanas serão determinantes para o Executivo dentro do Congresso Nacional.

"Nós vamos votar a MP dos combustíveis, vamos votar a MP do Carf, do Coaf, do Bolsa Família. As dez MPs que estão tramitando na Câmara elas têm prazo e nós vamos votar. A base tá se consolidando fortemente. Os sinais que nós temos são muito positivos, que nós vamos dar conta do recado", disse Guimarães.

Indicação de Juscelino Filho não garante o apoio do União Brasil ao governo Lula 

Além do ministério das Comunicações, o União Brasil conta ainda com outras duas pastas no primeiro escalão do governo Lula: Turismo, com Daniela Carneiro, e o do Desenvolvimento Regional, com Waldez Goes. O partido conta com 61 deputados e nove senadores, por isso é visto como estratégico para a base de Lula no Congresso.

As indicações de Juscelino Filho e de Waldez Goes, no entanto, foram costuradas pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP). No caso do ministro do Desenvolvimento Regional, por exemplo, Goes se licenciou do PDT para assumir o cargo na cota do União Brasil. Nesse movimento, integrantes da cúpula do União Brasil afirmaram que as duas escolhas eram da cota pessoal de Alcolumbre e não do partido.

Para tentar contornar a crise, Lula também tem negociado com outros membros do União Brasil a distribuição de cargos do segundo escalão. O líder do partido na Câmara, deputado Elmar Nascimento (BA), tenta manter o controle sobre a Codevasf, companhia responsável por obras hídricas no Nordeste e em áreas da regiões Norte e Sudeste. Um eventual acordo do Planalto com Nascimento pode dar novo rumo à relação.

Para o vice-presidente do União Brasil, o ex-deputado Junior Bozzella, as denúncias contra Juscelino Filho não reverberam na bancada, pois sua indicação não foi discutida pelo partido. “Não houve um debate com os deputados. Hoje cerca de 60% da bancada defende que ainda está na oposição”, disse.

Lula indicou que não pretende deixar "ministros pela estrada" 

Além de Juscelino Filho, outra indicação do União Brasil que já provocou desgastes para o governo foi a da ministra do Turismo, Daniela Carneiro. Casada com o prefeito de Belford Roxo (RJ), Wagner Carneiro, Daniela foi acusada de ter recebido apoio de famílias de milicianos do Rio de Janeiro para se reeleger deputada federal.

A primeira denúncia foi o apoio da ex-vereadora Giane Prudêncio, esposa de Juracy Alves Pinheiro, o Jura, condenado a 26 anos de prisão por chefiar uma milícia da Baixada Fluminense. Preso há pelo menos quatro anos, Jura chegou a ser nomeado em 2017 para um cargo comissionado na Secretaria Municipal de Defesa Civil e Ordem Urbana da prefeitura de Belford Roxo. A ministra, no entanto, negou o envolvimento.

Àquela altura, em 6 de janeiro, Lula deu uma declaração dúbia sobre a forma com que vai lidar com acusações contra auxiliares. Por um lado, disse que não vai deixar nenhum deles “no meio da estrada”. Por outro, afirmou que quem errar “vai ser convidado a deixar o governo”.

“Estejam certos que eu estarei apoiando cada um de vocês nos momentos bons e nos momentos ruins. Não deixarei nenhum de vocês no meio da estrada. Não deixarei nenhum de vocês”, disse Lula, em discurso na abertura da reunião ministerial.

“Todo mundo sabe da nossa responsabilidade. Todo mundo sabe que a nossa obrigação é fazer coisas corretas, é fazer as coisas da melhor forma possível. Quem fizer errado, sabe que tem só um jeito: a pessoa será simplesmente, da forma mais educada possível, convidada a deixar o governo. E se cometeu algo grave, a pessoa terá que se colocar diante das investigações e da própria Justiça", completou o presidente.

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