A tentativa de transferir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da Superintendência da Polícia Federal de Curitiba para uma prisão em São Paulo trouxe à tona, novamente, a discussão sobre o direito de o petista ficar preso em cela especial e não numa detenção comum.
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu a transferência não invalida a discussão porque a liminar tem efeito provisório e data para acabar: ela tem validade até que a Segunda Turma da Corte encerre o julgamento de um habeas corpus do petista. Se os ministros rejeitarem o pedido, a Justiça Federal de Curitiba estará liberada para determinar novamente a transferência de Lula.
Após o despacho desta quarta-feira (7) da juíza Carolina Lebbos, da 12.ª Vara Federal de Curitiba, a Justiça de São Paulo – estado para onde Lula seria transferido – decidiu que o ex-presidente deveria ir para a Penitenciária II de Tremembé.
O local, uma penitenciária estadual, abriga presos por crimes que ganharam notoriedade nos últimos anos. Alexandre Nardoni, condenado pela morte da filha Isabella, e Cristian Cravinhos, envolvido no assassinato dos pais de Suzane von Richthofen, estão entre os detentos de Tremembé.
De acordo com Adib Abdouni, advogado constitucionalista e criminalista, Lula precisa ficar em um local que tenha as características de uma sala de Estado-Maior (ou seja, um local de detenção especial). Esse argumento, inclusive, é um dos que embasou o recurso da defesa do petista ao STF contra a transferência. "Por ser ex-presidente, ele tem prerrogativas. A administração pública tem a obrigação de fornecer um alojamento desse tipo", explica o advogado. Além de suspender a transferência, a decisão do STF acolheu o pedido para que Lula permaneça em uma sala especial e não em uma cela comum.
Segundo a lei, os presos que ficam em salas de Estado-Maior não podem ter contato com outros detentos. Além disso, esses locais não têm grades ou portas fechadas pelo lado de fora, e possuem banheiro próprio. "A sala que ele está hoje, em Curitiba, é equivalente a um local de Estado-Maior. Temos que levar em conta, também, que ele não apresenta a característica de agir com violência, colocando em risco a sua segurança e a dos policiais", explica Abdouni.
Opinião divergente
Já na opinião de Marion Bach, advogada criminalista e professora da Unicuritiba e da FAE, a discussão está relacionada ao caso concreto, e não a um dispositivo legal. "Não há nenhuma lei que autorize ou que proíba essa transferência. A discussão fica mais complexa por conta das peculiaridades que envolvem o Lula", diz.
Segundo ela, a lei na qual a defesa se baseia – a de número 7.474, de 1986 – não diz que o ex-presidente tem, necessariamente, direito a um tratamento de sala de Estado-Maior. "Esse dispositivo dá outras garantias [a ex-presidentes], mas não essa. A discussão é mais em torno da segurança do próprio preso e do Estado, já que a Polícia Federal vinha reclamando do custo e dos transtornos à vizinhança por manter Lula ali", explica a professora.
A Lei 7.474 diz respeito às medidas de segurança que a União deve garantir aos ex-presidentes da República. O texto estabelece, por exemplo, que, após o término do mandato, o presidente tem direito a quatro servidores para sua segurança e apoio pessoal.
Como é a penitenciária de Tremembé
Localizada no interior de São Paulo, a penitenciária de Tremembé tem capacidade para 408 detentos no regime fechado. 393 vagas estão ocupadas. Já na ala de Progressão Penitenciária são 200 vagas, que hoje abrigam 140 detentos.
A reportagem questionou a Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo a respeito da existência de celas com características de salas de Estado-Maior no presídio, mas não obteve retorno até o fechamento do texto.
De acordo com o portal G1, a penitenciária conta com uma ala especial, com nove celas, que não têm grades nas portas e janelas. No local, os detentos também teriam banheiro e lavanderia individuais.
Centrão debate redução de penas via Congresso como alternativa à anistia aos presos de 8/1
STF faz turnê nos EUA para defender “missão civilizatória” no Brasil
Mensagens encaminhadas por Tagliaferro lançam suspeitas sobre polícia de SP
Suprema Corte dos EUA bloqueia deportação de venezuelanos por Trump “até nova ordem”