O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai anunciar nesta sexta-feira (9) os primeiros ministros que irão compor sua equipe a partir de janeiro. A expectativa é que confirme pelo menos seis nomes da chamada "cota pessoal", ou seja, escolhidos de confiança e blindados da disputa política entre os partidos aliados. Outro que deve ser conhecido oficialmente é o futuro chefe do Itamaraty.
"Ele [Lula] estava querendo deixar [o anúncio] para depois da diplomação, mas tem muita especulação, muita coisa. Aquilo que já tem certeza, que está certo, ele quer divulgar amanhã [sexta]", disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, nesta quinta-feira (8), após reunião do diretório do partido. Lula e o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) serão diplomados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na segunda-feira (12).
O presidente eleito deve anunciar os ministros da Fazenda, Defesa, Justiça e Segurança Pública, Casa Civil, Relações Institucionais e Meio Ambiente. Para a Fazenda, o favorito nas "bolsas de aposta" é o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, tido como um dos nomes mais próximos de Lula. Apesar disso, Haddad é visto com desconfiança pelo mercado financeiro. O receio é que ele repita políticas econômicas equivocadas de governos anteriores do PT.
Para tentar dissipar temores, Haddad passou as últimas semanas tentando se aproximar de setores empresariais. Nos encontros, tem dito que o governo Lula dará "prioridade total" à reforma tributária em 2023, acrescentando que a reforma é necessária para garantir um novo arcabouço fiscal para o país.
"O compromisso do presidente com a agenda de realizar em 2023 a reforma tributária conta com o apoio da sociedade, inclusive do setor bancário, para que a gente tenha êxito no ano que vem. Uma reforma que é essencial e estrutural", afirmou o petista, durante reunião com banqueiros.
Nesta quinta, Haddad também esteve reunido com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para tratar da transição. De acordo com o petista, o encontro durou pouco mais de uma hora e a conversa foi considerada "excelente, cordial e educada".
Lula também deve confirmar o nome do ex-ministro do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro para o Ministério da Defesa. A indicação é uma forma do futuro governo começar a preparar a transição junto às Forças Armadas, uma área sensível em virtude da proximidade dos militares com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Na esteira da confirmação de Múcio também devem ser conhecidos os nomes dos futuros comandantes do Exército, da Marinha e da Força Aérea.
Outro ministério a ser anunciado por Lula será o das Relações Institucionais, pasta responsável pela articulação com o Congresso Nacional, onde o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) é o mais cotado para o posto.
Nomes para Justiça, Casa Civil e Meio Ambiente
Nos bastidores, aliados de Lula indicam ainda que o petista pretende confirmar os escolhidos para os Ministérios da Justiça, do Meio Ambiente, da Casa Civil e das Relações Exteriores. A tratativa com os escolhidos estava sendo finalizada pelo presidente eleito ainda nesta quinta.
Para a Justiça, Lula pretende indicar o senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), depois de uma articulação para que a pasta mantenha a segurança pública sob o mesmo guarda-chuva. Dino vinha negociando com Lula para que a pasta não fosse dividida, no que foi atendido, segundo integrantes da transição. De acordo com aliados de Lula, uma das principais missões de Dino na pasta será coordenar as mudanças para restringir o acesso às armas de fogo.
Outro nome a ser confirmado na Esplanada é o do atual governador da Bahia, Rui Costa (PT), para a Casa Civil. Ele deixa o cargo no próximo dia 31 e chega para o ministério de Lula como um aceno do presidente eleito à sua base na Bahia e no Nordeste. Para chefiar o Itamaraty, o nome mais cotado é o do diplomata Mauro Vieira, que já ocupou o cargo durante parte do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Ele também pode ser anunciado nesta sexta.
É esperada ainda a confirmação da deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) para o Ministério do Meio Ambiente. Se for confirmada, será a segunda vez que Marina comandará a pasta – ela já esteve à frente do ministério entre os anos de 2003 e 2008, também no governo Lula. Integrante da comitiva do presidente eleito que foi à Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP-27, no Egito, em novembro, Marina avalia que a maior pressão internacional em torno da questão ambiental pode se tornar um trunfo a favor do Brasil.
Outros nomes do ministério de Lula serão apresentados após a diplomação
Segundo integrantes da cúpula do PT, outros nomes que irão integrar o ministério de Lula devem ser anunciados na próxima terça-feira (13), um dia após a diplomação no TSE. Diferentemente desse primeiro anúncio, os demais escolhidos deverão sair de partidos da base aliada e poderão ser nomes técnicos e políticos.
''Não precisa ninguém ficar angustiado, nervoso, criando expectativa porque eu, no fundo, já tenho 80% do ministério na cabeça", disse o presidente eleito recentemente.
Nessa leva, Lula pretende indicar o nome que irá comandar o Ministério da Saúde a partir do ano que vem. Ele se reuniu com diversos nomes nas últimas semanas, mas a presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade Lima, é a mais cotada até o momento. Segundo integrantes do PT, a indicação de uma mulher para o posto vem sendo defendida por Lula ao longo da transição.
Corre por fora ainda o nome de Linamara Rizzo Battistella, médica e professora da Universidade de São Paulo (USP). Linamara tem o apoio do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin. Ela foi secretária estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência quando Alckmin era governador de São Paulo. Na avaliação de petistas, uma mulher no posto faz parte do esforço de Lula para tentar alcançar paridade de gênero em seu novo governo.
Também deve ser confirmada por Lula nos próximos dias o nome da senadora Simone Tebet (MDB) no novo Ministério de Desenvolvimento Social. A indicação dela também é vista como parte da "cota pessoal" de Lula, mas atende uma estratégia de atrair o MDB para a base do governo. Além de atuar pela campanha do petista no segundo turno, a senadora foi uma das articuladoras para aprovação da chamada PEC da transição, aprovada pelo Senado na última quarta-feira (7).
Demais indicações dependem de articulação com partidos da base
Para atender todos os partidos da base, Lula pretende ampliar de 23 para até 34 o número de pastas na Esplanada dos Ministérios. Essas indicações, no entanto, dependem de acordo com os partidos que irão integrar a base do governo no Congresso Nacional.
Responsável pela indicação de Alckmin na chapa de Lula, o PSB pleiteia ao menos três ministérios no futuro governo. Entre eles, o Ministérios da Cidades para o ex-governador Márcio França, que abriu mão de sua candidatura ao governo de São Paulo para apoiar Haddad na disputa deste ano.
"Lula nos informou que a partir da próxima semana vai convocar os partidos, inclusive o nosso PSB, para discutir a questão da montagem de governo, de maneira que hoje não houve discussão sobre montagem de governo”, disse o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, depois de um encontro com Lula nesta semana.
Além do PSB, o MDB e o PSD, partido do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), também cobram mais espaço no futuro governo de Lula. No caso dos emedebistas, além da pasta de Tebet, o partido defende a indicação de um segundo nome para o ministério de Lula. O senador Eduardo Braga (AM), por exemplo, é candidato a comandar a pasta de Minas e Energia.
Paralelamente, o PSD busca emplacar no Ministério dos Transportes o senador Alexandre Silveira (MG), que foi o relator da PEC da transição no Senado. Silveira foi um dos coordenadores da campanha de Lula em Minas Gerais e é visto como um dos principais aliados de Pacheco dentro do partido.
Ainda na ofensiva para atrair partidos para a base, aliados de Lula indicam que o União Brasil deve ser contemplado com uma pasta e uma estatal. Ainda sem a definição de nomes, a sigla deve indicar o ministro do Desenvolvimento Regional e manter a presidência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Para fechar o acordo, Lula pretende acompanhar as articulações para aprovação da PEC da transição na Câmara dos Deputados.
Nomes técnicos para Educação e Indústria
Ainda nos bastidores, aliados de Lula indicam que o presidente eleito pretende escolher nomes técnicos para as pastas da Educação e da Indústria. No caso da Educação, a mais cotada para o cargo é a atual governadora do Ceará, Izolda Cela (PDT).
A pedetista é do núcleo político do senador Cid Gomes (PDT-CE), irmão do ex-ministro Ciro Gomes. Professora, Izolda comandou a secretaria de Educação do Ceará entre 2007 e 2014. Na pasta, ela foi responsável pelo Programa Alfabetização na Idade Certa (Paic), que tinha como meta alfabetizar todas as crianças com até os 8 anos de idade ao final do 3º ano do ensino fundamental no estado.
Além de Izolda, o PDT deve assumir o Ministério do Trabalho, onde o favorito é o presidente da sigla, Carlos Lupi, que já comandou a pasta em governos anteriores do PT.
Já para Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, Lula tem sinalizado que pretende indicar um empresário, mas sem confirmar nomes até o momento. O ex-presidente da Embraer Defesa Jackson Schneider, que já comandou a Mercedes e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), é visto como um dos favoritos para o posto. Atualmente, Schneider integra a equipe de transição.
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