Ouça este conteúdo
O PT prepara para o mês de julho a primeira viagem de Luiz Inácio Lula da Silva ao Nordeste, após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que anulou as condenações dele na Lava Jato. O entorno do ex-presidente acredita que as agendas são necessárias diante da ofensiva que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem feito nos estados da região, tradicional reduto petista, nos últimos meses.
A ideia dos petistas é que as agendas sejam restritas a políticos envolvidos nas alianças para a eleição presidencial do ano que vem. Por causa da pandemia, Lula não pretende se encontrar com apoiadores da região para evitar aglomerações.
Presidente do consórcio de governadores do Nordeste, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), é o principal articulador das agendas do ex-presidente Lula na região. “Estamos tratando [das viagens], pois ele pediu meu apoio para organizar com os demais governadores e líderes do Nordeste. Vamos cumprir as regras da pandemia em toda sua agenda pelo Nordeste”, afirmou o governador petista.
Oficialmente, os temas dos encontros serão o auxílio emergencial e a vacinação, mas Lula pretende começar a selar os acordos que vem desenhando ao longo dos últimos meses com lideranças locais. Após sua passagem por Brasília, onde se encontrou com políticos nordestinos tradicionais como o ex-presidente José Sarney e o ex-senador Eunício Oliveira, ambos do MDB, o líder petista tem mantido interlocuções com lideranças locais por meio de telefone e videoconferências.
Segundo integrantes do PT, a aproximação com lideranças locais visa garantir apoio à candidatura do ex-presidente diante da possibilidade de legendas declararem independência na disputa eleitoral de 2022. Partidos como MDB, PSB e PSD podem liberar seus diretórios estaduais a formarem composições de acordo com os interesses locais.
Reaproximação com o PSB de Pernambuco
A principal costura política deve ocorrer em relação ao PSB. Parte do partido de centro-esquerda defende o apoio a Lula na disputa, no entanto, outra ala mais ligada a Pernambuco tenta encampar uma candidatura própria e, ao mesmo tempo, mantém conversas com o também presidenciável Ciro Gomes (PDT).
O estado pernambucano é o principal reduto eleitoral da família Campos, que tem forte influência dentro do PSB. De acordo com aliados de Lula, o líder petista tentará reatar laços com o prefeito do Recife, João Campos, após o racha provocado entre integrantes do PSB e petistas na disputa municipal do ano passado.
Nas eleições municipais, João Campos derrotou a petista Marília Arraes em um segundo turno marcado por um discurso antipetista. A campanha acabou dividindo os antigos aliados, mas a interlocutores Lula tem deixado claro que a recomposição deve ser o melhor caminho para enfraquecer outros adversários na disputa pelo Palácio do Planalto.
A ponte dessas articulações tem sido o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o senador Humberto Costa (PT-PE). Recentemente, em entrevista à rádio Folha, Lula sinalizou a reabertura de diálogo.
“Na hora que precisar terei as conversas necessárias com ele (Paulo Câmara) e com pessoas do PSB. Não faço política olhando coisas erradas, mas coisas boas. O PSB lançou candidaturas contra mim duas vezes e não perdi a amizade", disse o petista.
Na semana passada, o PSB filiou o governador do Maranhão, Flávio Dino (ex-PCdoB) e o deputado Marcelo Freixo (ex-Psol), que irá disputar o governo do Rio de Janeiro, com a bênção de Lula. A movimentação tende a pressionar a legenda a apoiar a candidatura do ex-presidente petista em 2022.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, afirmou ao jornal O Globo que o partido deve apoiar o candidato que reunir condições para derrotar Bolsonaro. "O único caminho possível que o PSB integrará será aquele da melhor liderança que conseguir ampliar uma frente política que derrote Bolsonaro. Se for Lula, será Lula; se for Ciro, será Ciro; se for outra pessoa, será outra pessoa", disse.
Petista tenta enfraquecer Ciro Gomes no Ceará
Em outra frente, Lula passará pelo Ceará, reduto eleitoral de Ciro Gomes, também pré-candidato à presidência no campo da esquerda. O estado é governado pelo petista Camilo Santana, que vive um dilema político na região, já que sua gestão conta com o apoio dos Gomes.
Tentando se viabilizar como terceira via diante da polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e Lula na disputa do ano que vem, Ciro Gomes tem apostado em ataques tanto ao atual presidente quanto no governador petista. Ainda assim Camilo Santana tem apostado em uma recomposição entre PT e PDT, o que tem sido descartado por lideranças de ambas as legendas.
"Tenho defendido que há uma preocupação com o país para que possamos garantir o direito à democracia e ao respeito. Precisamos preservar isso. Lula e Ciro têm mais convergências do que divergências. Aliás eu provoquei um encontro entre os dois no segundo semestre do ano passado", disse Santana em entrevista à rádio O Povo CBN.
Questionado sobre a dualidade de ser filiado ao PT e estar ligado a um grupo político liderado por Ciro Gomes, o governador cearense defendeu que o "projeto precisa estar acima das pessoas". "Tenho um carinho muito grande pelo Ciro, uma das pessoas mais inteligentes desse país, preparadíssimo. E tenho um carinho enorme pelo Lula, para mim um dos melhores presidentes que o país já teve”, completou.
Apesar disso, Lula tem conversado com o ex-senador Eunício Oliveira, principal adversário de Ciro Gomes no Ceará, e pré-candidato ao governo do estado em 2022. O cacique do MDB pretende reunir prefeitos do interior cearense durante a visita de Lula, no intuito de agregar palanques ao petista.
MDB no Nordeste caminha para aliança com Lula
Ainda nas agendas pelo Nordeste, Lula pretende se encontrar, principalmente, com antigos aliados do MDB. O caminho para a recomposição com a legenda, que foi rompida após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, foi aberta pelo ex-presidente José Sarney durante a passagem de Lula por Brasília no mês de maio.
Essa movimentação está prevista para ocorrer nos estados da Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas, estado governado por Renan Filho, filho do senador Renan Calheiros (MDB-AL), um aliado de primeira hora do PT na região.