O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a relativizar o papel da Rússia na guerra contra a Ucrânia e disse que “não adianta discutir quem está certo e quem está errado” no conflito no Leste europeu. A afirmação foi dada durante um discurso na manhã desta quarta (26) em Madrid, durante a visita oficial que faz à Espanha, em que também voltou a defender uma reforma no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e a criação do que seria um “G20 da Paz”.
De acordo com ele, o organismo criado após a Segunda Guerra Mundial perdeu a importância no cenário internacional e precisa ser reformado, com a inclusão de países como o Brasil, Espanha, Japão, Alemanha, entre outros. “Não adianta discutir quem está certo e quem está errado, o que importa é fazer a guerra parar”.
“Vivemos em um mundo esquisito, em que o Conselho de Segurança da ONU, os membros permanentes, todos eles são os maiores produtores e vendedores de armas do mundo. E fico me perguntando se não cabe a nós, outros países que não somos membros permanentes fazer uma mudança na ONU, colocar mais países. Quem é que determina? Os vencedores da Segunda Guerra Mundial, mas isso já faz muitos anos”, disse.
Lula afirmou que é preciso construir um novo mecanismo de cooperação internacional entre países, e citou que a ONU não consegue dar um andamento à criação da nação Palestina como conseguiu com Israel, em 1948. “Só pra gente medir o que aconteceu nestes anos todos”, afirmou.
A chancelaria israelense chegou a afirmar, em 2014, que o Brasil é um “anão diplomático” em resposta a uma nota de condenação brasileira a ações de Israel na Faixa de Gaza sem qualquer comentário da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) sobre as centenas de foguetes lançadas pelos terroristas do Hamas contra a população civil israelense.
Ele vê que não houve discussão no Conselho de Segurança quando os Estados Unidos invadiram o Iraque ou “quando a França e a Inglaterra invadiram a Líbia”.
“E agora a Rússia, que é membro também do Conselho [ocupando a presidência] também não discutiu. Se os membros que têm a responsabilidade de dirigir a paz mundial não pede licença, por que os outros têm que obedecer”, questionou.
Para ele, a ONU “que me perdoe, já poderia ter convocado algumas sessões extraordinárias com todos os países membros para discutir a guerra. Por que não fez isso”, questionou após perguntas de jornalistas.
De acordo com ele, há a necessidade de se criar “um tal de G20 da paz, que deveria ser a ONU”, disse lembrando da criação de um grupo semelhante de países em 2008, quando ocorreu a crise bancária a partir da quebra do banco norte-americano Leman Brothers.
Posição do Brasil sobre a guerra
Pouco depois, respondendo a uma pergunta de um jornalista espanhol sobre a posição dele com relação à península da Crimeia, anexada ilegalmente pela Rússia em 2014, Lula disse que não cabe a ele decidir de quem é o território e que, em uma mesa de negociação, tudo pode ser discutido inclusive a quem pertence a área. O presidente também afirmou que negou a venda de armamentos à Alemanha, que depois seriam repassados à Ucrânia, para não deixar margem para o Brasil entrar no conflito.
“Quando eu me recusei a vender mísseis para a Alemanha, era porque eram para a Ucrânia. E eu disse ao Olaf Sholz [chanceler alemão] que não iria vender, porque se a Ucrânia utilizar esses mísseis e um russo for morto com isso, [significa] que o Brasil entrou na guerra, e o Brasil não quer entrar na guerra”, declarou.
No entanto, Lula se confundiu sobre o armamento pedido pela Ucrânia por intermédio da Alemanha. O país europeu havia requisitado munição antiaérea do blindado Gepard, que são disparadas para o alto para abater drones e mísseis com o objetivo de defender instalações civis e militares.
O presidente Lula está na Espanha desde segunda (25) após uma viagem de cinco dias a Portugal, onde participou de uma cerimônia solene na Assembleia da República em alusão à Revolução dos Cravos. O presidente foi alvo de protestos durante o discurso, entre eles de parlamentares contra as sucessivas falas em que relativizou a invasão da Ucrânia pela Rússia.
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