A equipe técnica do Ministério da Saúde tem se tornado conhecida do público na gestão do combate ao coronavírus, principalmente pela presença ao lado do ministro Luiz Henrique Mandetta nas entrevistas coletivas diárias com atualizações dos números na doença no Brasil. Mas o grupo que compõe a elite daquele que se transformou no principal ministério do governo de Jair Bolsonaro tem também dois nomes oriundos do ambiente político e que, atualmente, desempenham um papel que fica distante dos holofotes.
Eles são José Carlos Aleluia e Abelardo Lupion. Ambos são ex-deputados federais – Aleluia pela Bahia e Lupion pelo Paraná – e filiados ao DEM, o mesmo partido de Mandetta. Aleluia é assessor especial do ministro e Lupion, diretor de produção do ministério.
Apesar de os cargos deles terem nomes diferentes, na prática os ex-deputados atuam em conjunto e de modo semelhante. Sua principal função é a de articulação: com outros braços do poder público, com empresários que podem contribuir com a pasta e também com os próprios Mandetta e Bolsonaro, de quem ambos são amigos pessoais.
"Uma das minhas missões é trabalhar para que não haja atritos. O assessor tem que trabalhar para não ter atrito. Eu me considero amigo do presidente a amigo do ministro", disse Aleluia.
"A gente está tentando fazer uma barreira de proteção, de distensionar essa situação. Eu tenho conversado com vários ministros", ressaltou Lupion.
A tal "situação" mencionada pelo ex-deputado é a controvérsia instalada entre Bolsonaro e Mandetta nos últimos dias, que quase resultou na demissão do ministro. Os dois acenaram uma bandeira branca, com direito a uma reunião de caráter estritamente técnico, mas o ambiente permanece com certa dose de imprevisibilidade.
Aleluia conversou com a Gazeta do Povo na terça-feira (7), um dia depois da data em que Mandetta passou toda a tarde ameaçado de demissão – a ponto de falar, publicamente, que teve as gavetas de seu gabinete esvaziadas no ministério. "O ministério está no mesmo lugar em que estava. Sob a liderança do presidente e a coordenação do gabinete de crise da Casa Civil, nós estamos olhando para a frente, e temos recebido apoio de todos os ministros", destacou o ex-deputado.
Técnicos e políticos
"Eu e o Aleluia estamos aqui para dar um distensionamento em todas as relações. Com o Congresso, com o Supremo, com a PGR [Procuradoria-Geral da República], com a sociedade. Estamos na condição de pessoas que podem ajudar", declarou o ex-deputado Lupion. Sua agenda recente inclui reuniões com o ministro da Justiça, Sergio Moro, e com o da Infraestrutura, Tarcisio Gomes de Freitas. "Nosso trabalho é facilitar, eventualmente estabelecer relações com o mundo privado, com o ministério, com os outros poderes", destacou Aleluia.
Como exemplo de suas atividades, o ex-deputado pelo Paraná cita reuniões que teve com representantes de companhias particulares que têm ligação com a cadeia de insumos de saúde. Lupion define a necessidade de "destravar" os procedimentos habituais da pasta. "A burocracia é uma coisa absurda, e as importações precisam chegar no Brasil. Eu estou coordenando essa parte", disse.
Os dois ex-deputados não iniciaram seu vínculo com o governo Bolsonaro pelo Ministério da Saúde. Aleluia foi indicado em maio do ano passado pelo presidente como conselheiro da usina de Itaipu, função que continua exercendo. E Lupion atuou na Casa Civil quando a pasta era comandada por Onyx Lorenzoni, seu colega de DEM.
Aleluia declarou que a sua experiência como administrador tem, no cotidiano atual da pasta, mais relevo do que a que ele acumulou como político. Mas as trajetórias, tanto dele quanto de Lupion, se mesclam.
Carreira na Câmara
O ex-deputado pelo Paraná encerrou sua passagem pela Câmara em 2015, por opção – decidiu não mais disputar eleições, após acumular seis mandatos consecutivos no Congresso Nacional. Atualmente, quem representa a família no parlamento federal é o filho Pedro, também filiado ao DEM. "Fiquei seis mandatos como deputado, também atuei no estado, devo 'conhecer o mundo'. Tenho então muita facilidade para me relacionar com o pessoal", declarou.
A carreira eleitoral trouxe também dores de cabeça para Lupion: ele foi delatado por ex-funcionários da empreiteira Odebrecht, que relataram ter passado ao ex-parlamentar R$ 250 mil em doações eleitorais via caixa dois. Ele contesta as acusações. "Delação é algo que quem fez tem que provar. E quem fez não provou nada. Nada, nada. Não tem qualquer tipo de processo", disse.
Já Aleluia viu sua sequência de mandatos na Câmara interrompida por uma derrota nas urnas. Na disputa de 2018, o agora ex-parlamentar recebeu 68.257 votos, número insuficiente para garantir a ele o sétimo mandato. Foram mais de 30 mil votos a menos do que os aferidos por ele em 2014.
Entre uma eleição e outra, Aleluia apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e foi defensor do governo de Michel Temer(MDB). Atuou também como relator na Câmara do processo de privatização da Eletrobras, ainda não concluído.
Assim como Lupion, Aleluia tem também um filho na política: Alexandre, que é vereador em Salvador e em 2018 tentou, sem sucesso, se eleger deputado estadual.
Alexandre é um dos líderes do Aliança pelo Brasil na capital baiana e, nas redes sociais, milita a favor do presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos dias, republicou postagens críticas à política de quarentena, assinadas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), pelo empresário Luciano Hang e por outras personalidades ligadas ao bolsonarismo na internet.
Apesar de o filho demonstrar um posicionamento similar ao do presidente Bolsonaro e que motivou a crise entre ele e Mandetta, Aleluia nega que exista uma divergência ideológica entre ele e Alexandre. O ex-deputado disse ainda que não descarta a ida ao Aliança pelo Brasil: "isso é um assunto para ser conversado".
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