Aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se mobilizam para construir sua candidatura à reeleição. O assunto foi tratado em jantar na casa de Maia, na noite de terça-feira (3), após diagnósticos preocupantes sobre crise política e econômica, avanço do Centrão na Esplanada e impacto da disputa pela Casa Branca no governo de Jair Bolsonaro.
O grupo de Maia trabalha com um cenário no qual o Supremo Tribunal Federal (STF) lavará as mãos e decidirá tratar a disputa para o comando da Câmara e do Senado, marcada para fevereiro de 2021, como assunto a ser resolvido pelo próprio Congresso. Sem um nome competitivo até agora para se opor ao deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), candidato à presidência da Câmara com a chancela de Bolsonaro, aliados avaliam que o próprio Maia deve enfrentar o líder do Centrão.
O argumento usado na reunião de terça foi o de que não se pode entregar a Câmara para o Centrão. Em um passado não muito distante, esse bloco de partidos foi carimbado por Bolsonaro como "velha política", mas hoje o apoia e tem cada vez mais ampliado sua fatia de poder com a ocupação de cargos. Um dos participantes do encontro disse que, numa gestão "sem rumo" como a de Bolsonaro, ganhar a Câmara é o mesmo que ganhar o controle do governo. As circunstâncias, afirmou, exigirão a candidatura de Maia.
O presidente da Câmara tem afirmado que não é candidato a novo mandato. "A Constituição não permite", desconversou ele, mais uma vez, quando questionado pela reportagem. "Não é hora de tratar desse assunto". Nessa toada, Maia pediu mais responsabilidade ao acusar a própria base do governo de obstruir votações importantes. Por causa dessa tensão entre os grupos de Maia e de Lira, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) ainda foi instalada.
Estiveram presentes no jantar na casa de Maia dois deputados aliados com interesse em concorrer à cadeira ocupada por ele: Baleia Rossi (SP), presidente do MDB, e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), adversário de Lira. Lá estava, ainda, Elmar Nascimento (DEM-BA), nome defendido pelo grupo de Maia para comandar a CMO. O senador Renan Calheiros (MDB-AL) também marcou presença, assim como os ministros do Supremo Gilmar Mendes e do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas.
A certa altura da conversa houve ali comentários sobre o maior isolamento do Brasil no cenário internacional, em caso de vitória de Joe Biden no duelo com Donald Trump para a presidência dos EUA, e a necessidade de reorientação na política externa e na agenda do meio ambiente.
Vizinho de Maia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não participou do encontro, mas tem feito articulações ao lado dele. Alcolumbre é candidato declarado a novo mandato e partiu dele a iniciativa de acionar o Supremo para dar um veredicto sobre o imbróglio, já que a Constituição proíbe a recondução da cúpula do Congresso na mesma legislatura.
Na prática, Maia ainda está fazendo contas na tentativa de agregar a esquerda e "desgarrados" do Centrão para esse projeto. Se lançar mesmo a candidatura, o PT e o PSDB também vão apoiá-lo para o quarto mandato consecutivo à frente da Câmara.
Grupo político de Rodrigo Maia vê perseguição
Não passaram despercebidos, nos últimos dias, alguns sinais do que o grupo de Maia chama de “perseguição”. Em setembro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) recuou em denúncia de corrupção passiva contra Lira, pedindo o arquivamento do caso. Um mês depois, em outubro, a PGR reabriu duas investigações contra Maia sobre pagamentos em caixa 2 da empreiteira OAS.
Nos bastidores, políticos observam que o embate na Câmara tem tudo para repetir a guerra em que se transformou a eleição para a cúpula do Senado, em 2019, quando Alcolumbre ganhou o comando da Casa. À época, o STF entrou no confronto, a primeira votação foi anulada depois de muita confusão e Renan, veterano ex-presidente do Senado, acabou renunciando à candidatura.
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