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Centrão

Mais forte que a esquerda: como se organizam os deputados que desafiam Bolsonaro

Vista do plenário da Câmara dos Deputados. com Rodrigo Maia na mesa diretora. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil.
Deputados durante votação na Câmara. (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil.)

A convocação do ministro Abraham Weintraub (Educação) para falar à Câmara dos Deputados na quarta-feira (15) foi interpretada como um recado do centrão ao presidente Jair Bolsonaro (PSL). O voto favorável de membros de partidos como PTB, PRB, PP e outras legendas indicaria que a relação do governo com as forças de centro estaria comprometida - e também que o centrão tem condições para dificultar o trabalho do Palácio do Planalto, principalmente se não tiver suas reivindicações atendidas.

Com pouco menos de quatro meses da atual legislatura, porém, estabelecer o que seria de fato esse grupo dentro da Câmara não é tarefa das mais fáceis. Em primeiro lugar, pelo tamanho do bloco, visto que não há um consenso sobre quais partidos integrariam o grupo. E, em segundo, por dúvidas sobre a real intensidade de sua força: para alguns parlamentares, o grupo estaria mais forte do que em legislaturas anteriores, enquanto outros entendem que o poder destes deputados não é tão grande quanto parece.

Um bloco que não se assume como bloco

Como a base aliada é representada principalmente pelo PSL e a oposição tem PT, PSOL e PDT entre as maiores forças, o termo centrão costuma ser aplicado a praticamente todos os parlamentares que não se encaixam entre os grupos com viés ideológico mais acentuado. Para os deputados, porém, o rótulo de membro do time costuma ser renegado. Os parlamentares buscam fugir da carga negativa associada à expressão.

“O PTB não é um partido de centrão, e sim um partido de posição”, afirma o deputado federal Maurício Dziedricki (PTB-RS). A legenda é historicamente citada como uma das mais fisiológicas do Congresso e foi uma dos pivôs do escândalo do mensalão, após seu presidente, Roberto Jefferson, denunciar o pagamento de propinas para que os deputados integrassem a base aliada do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar do histórico, o partido tenta passar uma imagem de renovação - sua bancada atual tem 10 deputados, todos estreantes no Congresso.

Membro de um partido também apontado como protagonista no centrão, Ricardo Izar (PP-SP) nega não apenas fazer parte do bloco como contesta até mesmo a existência organizada do grupo. “Não vejo nenhuma orientação para que os partidos [apontados como o centrão] atuem juntos. Ao contrário, os partidos estão isolados, agindo cada um de acordo com suas convicções”, aponta.

O deputado paulista diz que se houvesse a alegada união entre os partidos de centro, o bloco seria ainda mais forte do que o sugerido pelas recentes votações. Dziedricki acrescenta que parte do suposto poder deriva também das falhas de articulação do governo Bolsonaro: “atualmente é até difícil definir quem é o governo aqui dentro [Câmara]. A atuação de muitos deputados da base é precária”.

Já o deputado Paulinho da Força (SD-SP), considerado um dos principais líderes do centrão, tem opinião no sentido oposto. O parlamentar indica a existência de um bloco organizado, composto por cerca de 250 integrantes, que “conduz os caminhos da casa”. “É uma situação que incomoda o governo, seja qual for o governo”, declara. O deputado criou controvérsia no início do mês ao sugerir que o centrão defenderia uma reforma da previdência desidratada, porque a proposta que está em discussão atualmente, na sua avaliação, garantiria a reeleição do presidente Bolsonaro.

Apesar de admitir fazer parte do grupo, entretanto, Paulinho nega que ele atue com base no toma-lá-dá-cá, que seria a pressão aos governos em troca de cargos na estrutura federal. “Nós não queremos cargos. O que nós queremos é respeito pela política”, aponta.

Além de PTB, PP e SD, outras legendas apontadas como sendo integrantes do centrão são PRB, PSD, MDB, PR, Podemos, Pros e Avante. Algumas ‘contabilidades’ incluem na lista também o DEM, do presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ), e o PSDB, que representava a maior força de oposição nos tempos de governo do PT, e desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff oscila entre apoiar e criticar os governos.

Centrão raiz nasceu há mais de 30 anos

A origem do centrão remete à Assembleia Constituinte, finalizada em 1988. Na ocasião, um grupo de deputados que não se identificava nem com a direita e nem com a esquerda ganhou notoriedade por militar a favor de propostas favoráveis ao então presidente da República, José Sarney. O PMDB era a sigla da maior parte de seus integrantes e, nos anos seguintes, prosseguiu como a maior ‘cara’ do bloco. Em todas as gestões seguintes, o “centrão” foi se consolidando como um grupo com o qual o Executivo precisaria negociar - e ceder - se quisesse ver seus projetos em evolução no Congresso. O bloco foi relacionado ao mensalão, escândalo do primeiro mandato de Lula, e chegou ao seu auge com a eleição de Eduardo Cunha (MDB-RJ) para a Presidência da Câmara em 2015.

Deputado federal desde 1999, Pompeo de Mattos (PDT-RS) define o centrão como um grupo que “está sempre junto com o poder, facilitando a vida de quem estiver ao lado deles”. “Eles adotam um discurso de ‘somos o centro, somos equilíbrio’, para parecerem que são uma boa opção”, declarou.

Na opinião do pedetista, o quadro atual levou o centrão a ser ainda mais poderoso do que em tempos anteriores. “Como o governo Bolsonaro se encolheu e diminuiu o toma-lá-dá-cá, eles aproveitam para mostrar mais a cara”, aponta o parlamentar, que faz oposição ao governo Bolsonaro. Apoiador do presidente da República, Otoni de Paula (PSC-RJ) faz análise semelhante: “o que está tornando o centrão mais forte é a falta de habilidade do governo em conversar”.

Centro x centrão

O rótulo de centrão é negativo. Ser de centro, entretanto, não carrega o mesmo tom pejorativo. Como distinguir o centro do centrão?

“Ser de centro é uma questão ideológica. Já o centrão age de forma pragmática”, aponta Rodrigo de Castro (PSDB-MG). O deputado ressalta que, em sua opinião, “o centrão não é um grupo só. Eles variam tanto seus componentes quanto as bandeiras que defendem”.

Já Ricardo Izar, que nega a existência do “centrão” na legislatura atual, brinca quando perguntado sobre seu viés ideológico: “eu me considero de centro. Quando alguém pergunta se sou de direita ou de esquerda, respondo dizendo que sou normal”.

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