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Ao fazer um balanço sobre o posicionamento de nomes da direita em relação à campanha eleitoral para a prefeitura de São Paulo, o pastor Silas Malafaia questionou o liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), relatou decepção com o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e elogiou a postura do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos).
Durante a campanha do primeiro turno, Malafaia se tornou uma das principais vozes das redes sociais contra o ex-candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), que ficou em terceiro lugar.
Para o pastor, o Bolsonaro deveria ter participado mais da campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB)- que conta com o apoio oficial de Bolsonaro - e atacado Marçal, que já recebeu elogios do ex-presidente.
Na avaliação de Malafaia, apesar do apoio oficial a Nunes, Bolsonaro se manteve distante da campanha por medo de ser derrotado por Marçal e para não desagradar seguidores das redes sociais.
“Um político é reconhecido por seus posicionamentos. Qual foi a sinalização que o Bolsonaro passou? ‘Eu não sou confiável em meus apoios políticos’. Quem vai fazer aliança com um cara que não é confiável? O que ele fez em São Paulo e no Paraná [onde se comprometeu anteriormente com alianças] foi uma vergonha”, afirmou Malafaia em entrevista concedida à Folha de São Paulo e publicada nesta terça-feira (8).
“Em São Paulo ele ficou em cima do muro. No Paraná, tendo candidato [indicado pelo PL] a vice [de Eduardo Pimentel, que concorre a prefeito], declarou para a mulher lá [Cristina Graeml, que concorria contra Pimentel] ‘pode usar meu nome’. Sinalizou duplamente. Gente! Isso não é papel da direita de nível maior. Eu apoio Bolsonaro. Mas eu já disse: sou aliado, e não alienado”, completou.
"Sinais dúbios"
De acordo com Malafaia, lideranças evangélicos o procuraram com dúvidas sobre o cenário em São Paulo por conta dos “sinais dúbios que Bolsonaro emitiu”.
“O eleitorado se dividiu porque Bolsonaro não desmascarou Pablo Marçal. Quem fez isso fui eu [...] Bolsonaro não entra em confronto quando as redes sociais estão dizendo uma coisa com força. Ele foi omisso por causa disso, e por medo de o Pablo Marçal vencer e ele ser derrotado”, disse.
“Covarde, omisso, que se baseia em redes sociais e não quer se comprometer. Fica em cima do muro. Para ficar bem, sabe com quem? Com seguidores [de redes sociais]. Que político é esse, meu Deus? Que tem que estar onde o povo quer? [...] Como é que um cara que foi presidente da República, que é o maior líder da direita, dá sinais dúbios e confusos?”, completou.
Malafaia diz que mandou mais de 30 mensagens cobrando Bolsonaro
O pastor Silas Malafaia também disse que nas últimas duas semanas mandou mais de 30 mensagens, via Whatsapp, para Bolsonaro.
“E sabe por que ele não me bloqueou? E por que não me xingou? Porque ele reconhece que eu sou um cara honesto, que eu sou um apoiador de primeira hora, que defendi ele nos momentos mais cruciais e críticos”, disse Malafaia.
Segundo o pastor, Bolsonaro teria chorado por cinco minutos durante uma conversa por chamada de vídeo, em que demonstrou angústia quando aliados próximos foram presos em fevereiro deste ano.
“Eu falei: ‘Vamos para a rua!’. Ele estava desnorteado. [Perguntou] ‘Mas como é que vai ser?’ Eu falei: ‘Deixa comigo. Eu só preciso que você grave um vídeo para convocar o povo’. O Bolsonaro tem defeitos. Mas tem duas coisas: ele é humilde, isso é uma coisa dele. E é honesto. Ele já falou para todo mundo, para a imprensa, que se não fosse o Malafaia não ia ter manifestação no dia 25 de fevereiro [deste ano, na avenida Paulista]”, relatou Malafaia.
Decepção com Nikolas
Malafaia também disse ter ficado decepcionado com o deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que criticou Ricardo Nunes durante a campanha e sinalizou apoio a Marçal.
“Você sabia que nós temos agora bolsominions e nikolominions? É! O Nikolas, um garoto bom, um garoto de futuro, teve uma atitude de politiqueiro velho. Ele pertence ao PL. Ele tem que, no mínimo, ficar de boca fechada [sobre a eleição em São Paulo] porque o líder dele estava apoiando o [prefeito Ricardo] Nunes”, disse Malafaia.
“E ele vem com uma história de que são dois copos: um [Ricardo Nunes] está cheio de veneno, e o outro [Marçal] você não sabe, ‘então vou arriscar’. O Nikolas querer disfarçar para esse bandido que merece a cadeia foi uma decepção total. Não teve dignidade. Mandei mensagem para ele. Não deu nem pelota”, continuou.
Malafaia ainda disse ter se decepcionado com o senador Magno Malta (PL-ES) e com o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP).
“Um dia desses ele [Marco Feliciano] pregou na minha igreja. Disse: ‘Malafaia é como um pai que me dá conselhos, que me puxa a orelha’. Conversei com ele. Detalhei quem é Pablo Marçal. E esse cara faz um vídeo tentando me desmerecer, apoiando Pablo Marçal”, contou Malafaia.
Já Magno Malta, segundo o pastor, teria ignorado os apelos para entrar na briga contra Marçal.
“Eu o bombardeava, ‘você tem que se posicionar, você tem que falar [contra Marçal]’. E ele ficou calado, ‘essa guerra não é minha’. [Eu respondia] ‘Como assim? O que está em jogo é 2026. Esse cara vai rachar a direita. Vai rachar os evangélicos, que você representa’. Mas ele não tomou atitude”, afirmou Malafaia.
Na ausência de Bolsonaro em 2026, Malafaia aposta em Tarcísio
O pastor Silas Malafaia teceu elogios ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pelo apoio dado a Nunes e disse que apoiará Tarcísio em uma eventual candidatura presidencial em 2026 no caso de Bolsonaro não conseguir reverter a inelegibilidade.
“Você não é um verdadeiro líder até que não ande sozinho. Tarcísio ganhou muito comigo. Liderança é sobre propósitos. Um líder não está preocupado com redes sociais, se vai perder ou se vai ganhar seguidores”, disse.
“Bolsonaro seguir inelegível é uma vergonha, politicagem pura. Mas, se isso acontecer, eu entro de cabeça para apoiar Tarcísio. Eu tinha algumas dúvidas sobre ele, mas caíram todas nestas eleições. Líder é atitude. Ele mostrou que é um cara de caráter, e que não tem medo”, completou.
O pastor também elogiou o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), que mudou de postura após Marçal divulgar um laudo médico falso que envolve o candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos.