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"Quem vai ficar aqui para mostrar toda a questão do boletim, como já aconteceu várias vezes no Ministério da Saúde, não é novidade, não tem nada a ver com a semana, mas vai ficar Gabbardo, vai ficar Denizar… Wanderson tá vindo? E Wanderson?" O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, citou deste modo membros de sua equipe durante entrevista coletiva na terça-feira (7) no Palácio do Planalto, em Brasília.
Gabbardo é João Gabbardo, secretário-executivo do Ministério; Denizar é Denizar Viana, que comanda a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos da pasta; e Wanderson é Wanderson Viana, responsável pela Secretaria de Vigilância em Saúde.
Gabbardo, Denizar e Viana, junto com outros nomes, formam uma equipe que passou de desconhecida da população a presença garantida no noticiário nacional. A pandemia de coronavírus deu protagonismo ao ministro da Saúde e também a seus principais assessores.
Coletes e coletivas
Os auxiliares de Mandetta foram se tornando conhecidos ao longo do período em que os dados da Covid-19 no Brasil eram atualizados diariamente pelo Ministério da Saúde, em entrevistas coletivas ocorridas no auditório da pasta. Gabbardo, Denizar e Viana, além de outros nomes como Francisco Figueiredo, que comanda a Secretaria de Atenção à Saúde, e Erno Harzheim, da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa se revezaram nos microfones para passar os números e também indicações das diretrizes do ministério.
Eles, via de regra, trajavam o colete com os nomes da pasta e do Sistema Único de Saúde (SUS), que se tornou uma espécie de "uniforme oficial" do combate ao coronavírus.
A rotina se modificou no último dia 30, quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) determinou que as coletivas sobre o coronavírus deveriam ser concedidas Palácio do Planalto e, preferencialmente, pelos próprios ministros. Esse virou o quadro padrão – quebrado eventualmente em fins de semana e em dias que fogem da regra, como a segunda-feira (6), em que a possível demissão de Mandetta dominou os debates.
O conhecimento geral por parte do público, porém, não corresponde à trajetória dos secretários de Mandetta dentro do Ministério. Todos os citados estão em seus postos desde o início do governo Bolsonaro, em janeiro de 2019.
Além deles, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, também está na pasta desde o começo das atuações de Bolsonaro e Mandetta. Ela foi candidata ao senado pelo PSDB do Ceará em 2018 e se notabilizou por ser opositora da atuação de cubanos no programa Mais Médicos.
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Os perfis do time de Mandetta
O principal braço-direito de Mandetta, o secretário-executivo João Gabbardo, não está agora em sua primeira passagem pelo Ministério da Saúde. Ele já foi Secretário Nacional de Assistência à Saúde da pasta, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
A trajetória dele no poder público inclui também duas atuações como secretário da Saúde do governo do Rio Grande do Sul, seu estado natal. Ele ainda foi, entre 2010 e 2014, superintendente do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF) – função que rendeu a ele uma acusação por improbidade administrativa. O Ministério Público entendeu que verbas públicas foram utilizadas para reformas no ICDF, que seria uma instituição privada, o que é contestado por Gabbardo.
O secretário é também praticante de maratonas. Seu hobby lhe rendeu contestações no último fim de semana. Após ter sido flagrado correndo pelas ruas de Brasília, ele foi questionado por jornalistas se a prática não violaria as políticas de quarentena defendidas pelo Ministério da Saúde. Gabbardo alegou que a corrida é a sua "terapia" e que o esporte feito sem aglomerações não colabora para a disseminação do coronavírus.
Também gaúcho, Wanderson Kléber é outro que não está estreando no Ministério da Saúde. Ele esteve na pasta à época da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, os principais megaeventos realizados no Brasil nos tempos recentes.
Ele foi definido por Mandetta como "nosso controlador de tráfego". "É aquele que lê, que vê números, é aquele que faz a vigilância, que faz os protocolos que impactam, é quem fica medindo o dia inteiro e falando: 'a cidade tal tá indo para tal lado, segura aqui, segura ali'", disse Mandetta na coletiva do dia 7.
Denizar Vianna foi apresentado por Mandetta como aquele que seria responsável por traduzir e comentar "uma pesquisa que saiu no Japão ontem a noite em japonês". "O nosso ciência, quem é? Quando eu falo ciência, lá no ministério, é o Denizar Vianna, secretário de ciência, tecnologia e incorporação de insumos. É com ele que vai dialogar o médico que teve uma ideia", declarou. Vianna é cardiologista e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Outro gaúcho, o médico Erno Harzheim comanda a Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Ele se formou como médico de família e tem atuação na área da epidemiologia, justamente a especialização em destaque por conta da pandemia de coronavírus. Já Francisco Figueiredo é um dos raros não-médicos da equipe principal de Mandetta. O titular da Secretaria de Atenção à Saúde é formado em administração e se especializou em administração hospitalar.
Braços políticos
A equipe de Mandetta dispõe ainda de uma dupla que atualmente opera nos bastidores, mas que tem traquejo com a política que envolve a gestão pública.
São os ex-deputados federais Abelardo Lupion (PR) e José Carlos Aleluia (BA). Ambos são filiados ao DEM, o mesmo partido do ministro.
Lupion havia encerrado a carreira pública – seu filho Pedro exerce atualmente mandato na Câmara – e Aleluia não conseguiu se reeleger em 2018. Atualmente, ambos são conselheiros do ministro e fazem também o papel de articuladores, dialogando com parlamentares, membros do Judiciário e representantes do setor privado que têm interação com o governo.