Antes reticente, o Instituto Brasil 200, movimento de empresários liderado por Flávio Rocha, dono da varejista Riachuelo, decidiu apoiar publicamente as manifestações programadas para domingo (26).
Caminhoneiros também pretendem participar dos protestos em defesa do governo de Jair Bolsonaro. São eles que fazem as convocações mais exaltadas para os atos, prometendo cercar o Congresso e fazer "tumulto do Oiapoque ao Chuí".
O grupo de empresários, que reúne nomes simpáticos ao governo como Luciano Hang (dono da Havan) e João Appolinário (Polishop), que de início hesitou em incentivar a adesão aos atos, mudou de posição, afirmou Gabriel Rocha Kanner, que é presidente do Brasil 200.
"Estávamos contrários porque a manifestação surgiu de forma nebulosa, com pautas com ataques às instituições e a favor do fechamento do Congresso. Somos contrários à tese revolucionária. Acreditamos que as mudanças têm de ser feitas pelas instituições", afirmou.
Segundo ele, porém, as pautas "evoluíram" e as manifestações trarão agora temas defendidos pelo Brasil 200. "As manifestações são um fenômeno orgânico e vão ganhando corpo. Defendemos a reforma da Previdência, a reforma administrativa e o pacote anticrime de Moro e, por isso, daremos nosso apoio", disse.
Para Kanner, foi o que aconteceu em 2013, quando os protestos eram pelo aumento do preço da passagem e se tornaram contra a corrupção. Ou nas manifestações pelo impeachment, que começaram com pessoas pedindo a intervenção militar.
Kanner estará na Avenida Paulista e diz que outros também sairão às ruas do país, caso de Luciano Hang – há dúvidas, no entanto, sobre a participação do dono da Havan nos protestos, pois ele está em viagem à Coreia do Sul e, de acordo com sua assessoria, só deve voltar ao Brasil no início de junho. Kanner nega, porém, que representantes do governo ou do partido do presidente tenham pedido que o Brasil 200 apoiasse formalmente as manifestações.
O instituto, que se define como apartidário, abriu escritório em Brasília para fazer lobby por políticas liberais e tem a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) como coordenadora de sua frente parlamentar.
Um empresário muito próximo a Bolsonaro, que falou sob reserva, afirmou que alguns executivos ainda avaliam se estarão de fato no ato, já que o presidente disse que não o apoia formalmente. Ele disse temer que sua presença seja confundida com aval direto de Bolsonaro às manifestações.
Na quinta (23), o presidente reiterou que não irá aos atos, e criticou a inclusão de pautas contra o Congresso e o Judiciário nas manifestações – bandeiras que, na avaliação dele, "estão mais para o Maduro", numa referência ao ditador venezuelano. "Quem defende o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional está na manifestação errada", disse Bolsonaro a jornalistas.
Caminhoneiro fala em cercar o Congresso
Dos diversos grupos que pretendem participar dos atos, os caminhoneiros são de longe o mais exaltado. O movimento está dividido, mas a parcela que mantém apoio ao presidente usa termos que incluem fechamento do Congresso e do Supremo.
"Estamos aí com uma gangue, o câncer do Brasil chamado Congresso Nacional, engessando, impedindo o presidente de trabalhar", disse o líder caminhoneiro José Raymundo Miranda, representante da Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB) em Minas Gerais.
Miranda está em Brasília desde o início da semana, para organizar uma manifestação em frente à praça dos Três Poderes.
Na mensagem de áudio, distribuída, segundo ele, para 55 grupos de WhatsApp, reunindo 6.550 pessoas, o líder caminhoneiro fala em fazer um cerco ao Congresso com os "cavalinhos", como são chamadas as cabines dos veículos sem a caçamba.
"O ideal é todos os caminhoneiros partirem para Brasília, fazerem um cerco. Quero ver se eles conseguem guinchar um monte de carro desses. Fechar aquele Congresso, rodear e sitiar aquele povo ali dentro", afirma Miranda no áudio.
Mas em conversa por telefone com a reportagem, Miranda baixou um pouco o tom e disse que a ideia de fazer um cerco ao Congresso estava descartada. Previu, contudo, manifestações por todo o país. "Vamos ter tumulto do Oiapoque ao Chuí", previu.
Uma das principais ações previstas, segundo ele, ocorrerá em São Paulo, com um buzinaço de caminhoneiros. Alguns trarão seus "cavalinhos" desengatados de lugares como Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.
Pauta dos caminhoneiros: tabela de frete, preço do diesel e fim dos radares
Os caminhoneiros têm pautas específicas, como o valor da tabela do frete, o preço do diesel e a remoção, prometida por Bolsonaro, de radares de velocidade nas rodovias.
Também dividem com outros movimentos a agenda mais geral das manifestações, com a defesa de pontos como a reforma da Previdência e do pacote do ministro Sergio Moro de combate ao crime e à corrupção.
Na quinta (23), líderes caminhoneiros se reúnem em Brasília com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, para tratar das pautas e do apoio ao presidente.
Os acenos feitos por Bolsonaro à categoria em abril, quando interveio numa decisão da Petrobras de aumentar o diesel, funcionaram.
Os caminhoneiros, cujos protestos há um ano paralisaram o país, apoiaram maciçamente Bolsonaro na campanha eleitoral. Ao menos uma parte considerável dessa relação com o governo se mantém inalterada, como mostram outras mensagens que estão circulando em grupos da categoria.
Em vídeo obtido pela reportagem, Márcio Kakau, dono de caminhões que trabalha no Ceasa de Belo Horizonte, mostra sacos de batata empilhados à espera de comprador.
"O consumidor não tem dinheiro para comer. E vem essa turma do centrão lá em Brasília não deixando Bolsonaro consertar o que precisa ser feito no país", diz ele. "O Brasil parou, e a gente precisa mudar. Nós temos que dar a cara a tapa e ir para a rua mostrar que o Brasil acordou", afirma.
Outro líder caminhoneiro, Ramiro Cruz, de São Paulo, deu um ultimato ao Congresso, em mensagem distribuída a colegas de profissão.
"Se daqui a 45 dias essa reforma da Previdência e esse pacote anticrime do juiz Sergio Moro não forem aprovados pelas duas Casas legislativas, se não deixarem o capitão implantar os projetos de tirar o país dessa lama, dessa desgraça, dessa crise, o segundo semestre não começa no Brasil", diz Cruz, que foi candidato a deputado federal pelo PSL.
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