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Manifestações

Como a política reagiu à adesão de Bolsonaro às manifestações

Presidente Jair Bolsonaro discursa de cima de caminhonete a apoiadores em Brasília
Bolsonaro discursa de cima de caminhonete a apoiadores em Brasília (Foto: Sergio Lima/AFP)

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O presidente Jair Bolsonaro participou neste domingo (19) de um ato em Brasília realizado em frente ao Quartel General do Exército. Na manifestação de apoio ao chefe do Executivo, e que foi registrada em pelo menos mais cinco capitais, o presidente falou: “Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil”. Como parte dos manifestantes presentes empunhou bandeiras com pedido de intervenção militar, a participação presidencial foi criticada por parte da classe política.

Aos gritos de “mito” e “nossa bandeira jamais será vermelha”, Bolsonaro tomou o cuidado de não se aproximar das centenas de manifestantes, muitos dos quais usavam máscaras. Seguranças formaram um cordão de isolamento e, sem microfone, Bolsonaro discursou: "Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção no Brasil, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou... acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder.”

E completou: “Mais do que o direito, vocês têm obrigação de lutar pelo país de vocês. Contem com seu Presidente para fazer tudo aquilo que for necessário para que nós possamos manter a nossa democracia e garantir aquilo que há de mais sagrado entre nós, que é a nossa liberdade. Todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro. Tenho certeza: todos nós juramos um dia dar a vida pela Pátria e vamos fazer o que for possível para mudar o destino do Brasil. Chega da velha política! Agora é Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”.

A reação dos poderes

Primeiro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a se manifestar sobre os protestos, Luís Roberto Barroso disse que é "assustador" ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia.

"É assustador ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia. Defender a Constituição e as instituições democráticas faz parte do meu papel e do meu dever. Pior do que o grito dos maus é o silêncio dos bons", afirmou o ministro, em referência a Martin Luther King, líder do movimento pelos direitos civis dos negros. "Só pode desejar intervenção militar quem perdeu a fé no futuro e sonha com um passado que nunca houve. Ditaduras vêm com violência contra os adversários, censura e intolerância. Pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso", escreveu Barroso no Twitter.

O ministro Gilmar Mendes também se manifestou nas redes sociais. “A crise do coronavírus só vai ser superada com responsabilidade política, união de todos e solidariedade. Invocar o AI-5 e a volta da Ditadura é rasgar o compromisso com a Constituição e com a ordem democrática”, disse.

Nas redes sociais, o governador de São Paulo, João Doria, que foi alvo de protestos em São Paulo, criticou o presidente por participar do ato em Brasília. “Lamentável que o presidente da república apoie um ato antidemocrático, que afronta a democracia e exalta o AI-5. Repudio também os ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal. O Brasil precisa vencer a pandemia e deve preservar sua democracia”, disse.

Camilo Santana (PT), governador do Ceará, qualificou como "inaceitáveis e repugnantes" atos que façam apologia à ditadura e que promovam o desrespeito às instituições democráticas. "O Brasil não se curvará jamais a este tipo de ameaça", disse.

“Desde a redemocratização, as Forças Armadas tem mantido o respeito à Constituição. Não creio que mudarão agora por conta das inconsequências e delírios de Bolsonaro, um ex-tenente de mau comportamento. E se este tentar aventuras, haverá resistência”, disse o governador do maranhão, Flávio Dino (PCdoB).

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), escreveu no Twitter: “Esta grave crise ameaça a vida da população. Precisamos da união de propósitos e de instituições fortes. Falsos conflitos e manifestações inconsequentes são uma lamentável agressão ao país. Vamos vencer na Democracia, com diálogo, responsabilidade e respeito, não com bravatas”.

“Democracia não é o que presidente Bolsonaro pratica: mandar o povo brasileiro para as ruas, correndo riscos de se contaminar, de tornar o nosso Brasil um país doente, em meio a uma grave crise de saúde mundial”, disse o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). “Democracia é ter responsabilidade com o que se fala. Democracia é respeitar o Congresso, as instituições e ter uma postura condizente com o cargo que se ocupa”, completou.

Também alvo de parte dos protestos, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), repudiou os atos. “O mundo inteiro está unido contra o coronavírus. No Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo. É mais trabalhoso, mas venceremos. Em nome da Câmara dos Deputados, repudio todo e qualquer ato que defenda a ditadura, atentando contra a Constituição”, disse, no Twitter.

“Defender a ditadura é estimular a desordem. É flertar com o caos. Pois é o Estado Democrático de Direito que dá ao Brasil um ordenamento jurídico capaz de fazer o País avançar com transparência e justiça social”, seguiu Maia. “Não temos tempo a perder com retóricas golpistas. É urgente continuar ajudando os mais pobres, os que estão doentes esperando tratamento em UTIs e trabalhar para manter os empregos. Não há caminho fora da democracia”, concluiu.

O senador Álvaro Dias (PR), líder do Podemos no Senado, classificou como grave a presença do presidente da República nessas manifestações, em entrevista ao Estadão. "A atitude de Bolsonaro hoje (com manifestantes) foi grave. É um estímulo à desobediência". Para ele, o presidente age como se estivesse em um "parque de diversões". O senador também criticou as manifestações. "Fica difícil aceitar essa transferência de responsabilidade para o Congresso do fracasso do governo federal", disse.

Presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), a deputada federal Gleisi Hoffmann disse esperar que o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) tomem uma posição "firme" sobre o episódio deste domingo ainda nesta semana. Ao criticar o presidente, Gleisi Hoffmann afirmou que Bolsonaro aposta no caos para justificar uma intervenção militar no País. "Fiquei estarrecida. Ele quer uma ditadura no Brasil. É de uma irresponsabilidade ilimitada", declarou a presidente do PT.

O líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), também falou sobre o episódio. "É imprudente, para dizer o mínimo, que um presidente eleito e que jurou defender a Constituição participe de manifestação em que se pede a volta do AI-5, a intervenção militar e o fechamento do Congresso", diz, segundo nota publicada pelo partido no Twitter.

Carlos Sampaio disse considerar "muito ruim" a tentativa de se fabricar históricas para "afrontar instituições e tumultuar o ambiente político". "Chefes de Estado, diante de uma pandemia, devem estar envolvidos no trabalho de combate à doença de atendimento aos pacientes e de proteção a suas economias. É o que esperamos do nosso presidente", finaliza o deputado federal.

Mais cedo, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou que o apoio de Bolsonaro aos atos de hoje "coloca em risco a democracia e desmoraliza o cargo que ocupa". O presidente do PSDB em São Paulo, Marco Vinholi disse: "É estarrecedor ver, em pleno 2020, em um país que enfrentou uma ditadura militar, a existência de atos em favor do AI-5, com apoio do seu presidente. Que o povo brasileiro siga forte não permitindo qualquer retrocesso antidemocrático".

O deputado federal Camilo Capiberibe (PSB-AP) acusou Bolsonaro de estar “preparando um golpe de Estado". "O presidente cometeu, de novo crime de responsabilidade ao atentar contra a democracia", escreveu Capiberibe em sua conta no Twitter.

"Podemos fingir que não enxergamos o que está acontecendo, mas se o presidente participa na frente do QG do Exército de uma manifestação pedindo ditadura militar e um perverso AI-5, sobra pouquíssimo espaço para a negação do óbvio: Jair Bolsonaro está preparando um golpe de Estado", continuou.

Já o PSOL soltou uma nota de repúdio, na qual diz que é preciso que o presidente Jair Bolsonaro deixe o poder pelos meios constitucionais disponíveis. O partido afirma que a participação do presidente nas manifestações deste domingo "é uma grave afronta à democracia e à Constituição Federal". O PSOL cita ainda que a presença de Jair Bolsonaro no evento é uma afronta às recomendações da Organização Mundial da Saúde.

A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) acusou o presidente Jair Bolsonaro de não respeitar a democracia, as instituições e as liberdades, em post na sua conta do twitter. Ela afirmou que repudia "a participação de um Presidente da República em ato que pede a volta do AI-5". E continuou: "Você é a favor da democracia ou do AI-5?". Citando a frase de Bolsonaro, "nós não iremos negociar nada", a deputada afirmou: "Depois diz que o Congresso é que provoca o caos".

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, em sua conta oficial no Twitter, publicou: "O presidente da República atravessou o Rubicão. A sorte da democracia brasileira está lançada". A expressão "atravessar o Rubicão" remete à decisão do general Júlio César, no ano 49 a.C., de afrontar o Senado romano e cruzar com tropas o Rio Rubicão, na Itália, o que era vedado pela lei da época. Bolsonaro e Santa Cruz já trocaram várias críticas públicas. Em julho de 2019, Bolsonaro disse que poderia "contar a verdade" sobre como o pai de Felipe Santa Cruz Fernando Santa Cruz, desapareceu durante a ditadura militar.

Os apoiadores

Apoiadores de Bolsonaro, por sua vez, saíram em defesa do presidente nas redes sociais neste domingo (19). A deputada federal Alê Silva (PSL-MG) escreveu em seu Twitter: “AI-5 e intervenção militar é o grito de desespero de um povo que quer ver o seu Presidente, eleito democraticamente, governar sem as amarras de dois Congressistas. Nós acreditamos que Jair Bolsonaro e equipe tem as melhores propostas para o Brasil. Deixem-no trabalhar”.

“Enquanto alguns políticos tem reforçado seu autoexílio com medo do povo, Bolsonaro faz justamente o contrário”, defendeu Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. “Povo este que tirou do poder a presidente mais corrupta da face do planeta Terra sem quebrar uma janela”, completou.

A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), também endossou o discurso do presidente, no Twitter, ela compartilhou um vídeo do ato em Brasília com o comentário “acabou a patifaria”.

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