No mesmo horário em que começavam os desfiles de 7 de Setembro, no Parque do Anhembi, em outro ponto de São Paulo tinha início a concentração convocada por diversas lideranças de movimentos sociais e sindicais. Entre as palavras mais ouvidas estavam "Fora Bolsonaro" e "Lula livre".
Os organizadores, entre os quais União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), haviam conclamando os participantes a vestirem roupas pretas, em sinal de luto. Mas, além do preto, o vermelho - geralmente associado à esquerda - também predominava nos trajes. Da Praça Oswaldo Cruz, por volta das 11h30, o público saiu em cortejo pelas avenidas Paulista e Brigadeiro Luís Antônio, até o Monumento às Bandeiras, no Parque do Ibirapuera.
De acordo com a Polícia Militar, o movimento reuniu cerca de 500 pessoas, número que contrastou com a estimativa de 30 mil participantes informada por Hugo Fanton, coordenador da Central de Movimentos Populares.
Segundo Fanton, um dos motes do encontro deste ano, que é realizado anualmente, foi "Esse sistema não vale", numa alusão aos desastres ambientais causados pela mineradora Vale em Brumadinho, Minas Gerais.
Além de UNE e Ubes, participaram do ato na capital paulista políticos do PT e do PSOL, centrais sindicais como CUT, Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e o Movimento dos Sem-Teto (MST). "São diversos movimentos sociais e sindicais, do campo e da cidade", afirmou Fanton.
O vereador Eduardo Suplicy (PT) compareceu vestindo preto. Ele disse que ficou feliz em encontrar o neto Teodoro Suplicy, de 16 anos, entre os presentes. "É importante que os jovens estejam unidos com os veteranos."
Curitiba
Na capital paranaense, o ato estava previsto para começar às 16 horas, na Praça Santos Andrade, em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mas os discursos começaram pouco depois das 17 horas - até então ainda havia gente chegando. No local, os manifestantes tiveram que dividir espaço com as estruturas metálicas que estavam sendo montadas para a feira do livro da UFPR.
Em cartazes, faixas e na própria roupa, predominavam o preto e o vermelho, além de símbolos da UNE, MST e partidos políticos de esquerda, como PT e PCdoB. Palavras de ordem como "Lula Livre" e "Ele não" também compõem o cenário do protesto. As principais pautas defendidas pelos participantes são a educação e a Amazônia.
"Bolsonaro conseguiu o que ninguém mais conseguiu: unir todas as opiniões e bandeiras. Nós estamos aqui vestindo preto e com o rosto pintado de verde e amarelo porque queremos uma educação gratuita, laica, e de qualidade. Hoje é nítido o descuido do governo federal para com a educação e o meio ambiente", explicou Izabela Marinho, de 23 anos, estudante de gestão pública no Instituto Federal do Paraná (IFPR), diretora nacional das mulheres na UNE e presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPE). "A única maneira de tirar o país da crise é investir na educação", finalizou.
Diversas lideranças sindicais e de movimentos estudantis discursaram de cima de um caminhão de som. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, falou por oito minutos ininterruptos. "Nós temos 11 milhões de desempregados, 30 milhões de pessoas no subemprego, a fome voltou ao Brasil e não tem uma política, uma linha, uma proposta do governo Bolsonaro para tirar o povo da crise", disse Gleisi.
Também estiveram no ato o ex-senador Roberto Requião (MDB), o ex-deputado federal Angelo Vanhoni (PT) e a vereadora de Curitiba Professora Josete (PT).
Recife
No Recife, os manifestantes participaram de uma caminhada de quatro horas, que começou às 8 horas, em direção ao Parque Amorim, na área central.
Vestidos de preto e vermelho, os participantes reivindicaram verba para o ensino público. É o caso de Ranielle Vital, de 24 anos, que acaba de entrar em mestrado na Universidade de Pernambuco. "A gente inicia uma seleção já sem nenhuma perspectiva de bolsa e está muito difícil fazer ciência no Brasil sem incentivo", disse.
Estudante de pedagogia e vice-presidente da UNE em Pernambuco, Débora Carolyne lembra que as universidades federais pernambucanas sofreram bloqueio de 30% do orçamento, o que já rendeu atos políticos no estado.
A manifestação também chamou a atenção para as queimadas no Norte do Brasil. "São várias as situações que estão nos preocupando e a Amazônia é uma delas", destaca o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido.
A marcha ocupou quatro faixas da Avenida Agamenon Magalhães, uma das principais vias da capital, ao longo de duas quadras. Procurada, a Polícia Militar não estimou a quantidade de manifestantes.
Salvador
O Grito dos Excluídos começou a tomar forma por volta das 9 horas deste sábado, 7 de setembro, em Salvador. Vestidos de preto ou vermelho, manifestantes iniciaram uma marcha cerca de duas horas depois com um ato ecumênico. Entre os participantes, representantes de sindicatos, religiosos, estudantes e cientistas. O grupo tem a intenção de seguir até a Praça Castro Alves.
"O presidente convocou os patriotas para que usassem verde e amarelo em homenagem à Amazônia. Já os movimentos estudantis convocaram os estudantes e toda a sociedade para vir para a rua de preto, em luto pelo que está acontecendo na Amazônia e contra os atentados à educação. O que nos motiva é a defesa do nosso País, patriotismo de verdade, não essa imagem que ele está tentando vender", afirma Debora Nepomuceno, de 20 anos, vice-presidente nacional da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).
Questionada sobre o número de manifestantes, a Polícia Militar diz não ter uma estimativa.
Belo Horizonte
Manifestantes ainda realizam protesto em Belo Horizonte contra o governo de Jair Bolsonaro. O ato, que integra o Grito dos Excluídos, acontece sob o viaduto Santa Tereza, na região central da capital mineira.
Parte dos presentes veste preto, em reação a convocação de Bolsonaro para que a população saísse às ruas com roupas verde e amarelo neste sábado. Muitos, porém, preferiram o vermelho.
Faixas de "Lula Livre" foram espalhadas pela região. Predomina no protesto cartazes e placas exigindo investimentos na área da educação. Alunos e professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) usavam camisetas com a frase "conhecimento sem cortes".