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Milhares de manifestantes vestidos com as cores verde e amarelo se reuniram em praças e ruas de diversas capitais neste domingo (10) para protestar contra a indicação do ministro da Justiça, Flávio Dino, para o Supremo Tribunal Federal (STF). A presença de políticos de direita marcou esses eventos, que, de acordo com os seus organizadores, simbolizaram a volta em escala nacional das reações públicas aos abusos judiciais e ao avanço da agenda de esquerda no país.
A mobilização ocorreu em meio a preocupações ainda geradas pelas reações do STF aos atos de 8 de janeiro, que resultaram em mais de mil prisões sem o devido processo legal. Além da rejeição ao nome de Flávio Dino para ocupara vaga deixada pela ministra aposentada Rosa Weber, os manifestantes e os líderes políticos envolvidos nos protestos também pediram o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Onze meses após a última manifestação na Praça dos Três Poderes, Brasília novamente concentrou cidadãos com bandeiras conservadoras e de direita, juntamente com líderes político e religiosos. O esquema de segurança na área central da capital foi reforçado pelo governo do Distrito Federal em resposta preventiva aos protestos. Centenas de pessoas se reuniram em um trecho do gramado da Esplanada dos Ministérios pela manhã, expressando suas opiniões por meio de palavras de ordem, faixas e cartazes.
Durante o evento, os manifestantes ouviram discursos de deputados e de senadores, do desembargador aposentado Sebastião Coelho (que disse aos ministros do STF que eles são os mais odiados do país) e da esposa e das filhas de Cleriston Pereira da Cunha, conhecido como Clezão, que morreu na prisão em novembro devido a problemas de saúde, apesar dos apelos pela sua libertação vindos da defesa, da família e do Ministério Público, dirigidos ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no STF. Clezão se tornou símbolo dessa etapa do movimento contra o ativismo judicial.
Parlamentares como os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Marcel Van Hattem (Novo-RS), juntamente com os senadores Eduardo Girão (Novo-CE), Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta (PL-ES), expressaram apoio a essas pautas nas manifestações e nas redes sociais. Do carro de som, eles enfatizaram a importância de a população ser ouvida pelos senadores, que votarão a indicação de Dino na próxima quarta-feira (13), na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde será sabatinado, e no plenário, onde precisa receber ao menos 41 votos favoráveis. A expectativa do governo é de que Dino receba 53.
“Oremos de joelhos para que os senadores pensem no futuro desta nação”, discursou Girão. Malta destacou o desejo de ministros de STF de se vingar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus eleitores, passando por cima do Congresso e das leis. Ferreira pediu a soltura de todos os presos do dia 8 de janeiro e fez críticas ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo, e ao ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Van Hattem pediu apoio popular para a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Abuso de Poder, protocolada na semana passada na Câmara.
“Fora Alexandre de Moraes e não ao comunista Dino, que persegue as pessoas e as liberdades. O Senado tem de dizer não a ele”, disse Coelho, que é advogado de presos do 8 de janeiro e que também participou do evento na Avenida Paulista.
Ato na Avenida Paulista foi o destaque do dia de protestos
O destaque do dia ocorreu à tarde, na Avenida Paulista, com milhares de manifestantes e discursos de líderes políticos e religiosos centrados na defesa da liberdade de expressão. Um momento animado foi a apresentação de uma canção criada pelo sambista Boca Nervosa, especificamente contra a indicação de Flávio Dino para o STF, com o refrão "Dino, não" sendo entoado pelo público.
Em Belo Horizonte, a Praça da Liberdade reuniu centenas de manifestantes que protestaram contra a possível nomeação do ministro para o STF, destacando a frase "comunista não é cristão". Em Salvador, no Farol da Barra, o evento público liderado por igrejas cristãs expressou preocupação com o risco de mais censura judicial no país, uma situação semelhante à verificada em Copacabana, no Rio de Janeiro.