As manifestações em frente de quartéis indicam que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá uma oposição popular forte que pode dificultar o início do novo governo – ainda que os protestos não levem a uma “intervenção” das Forças Armadas, como esperam muitos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Essa é avaliação de parlamentares de direita e do centro que acompanham atentos os atos nas ruas. E eles acreditam que o principal ponto que pode ser afetado é a relação da futura gestão com o Congresso Nacional, já que os parlamentares são influenciados pela "voz das ruas".
Vários fatores contribuem para essa percepção. Embora Bolsonaro tenha perdido a disputa presidencial, o mundo político já percebeu que o bolsonarismo veio para ficar e está mais forte do que nunca. Afinal, 13 governadores eleitos são aliados do atual presidente e vários comandarão os estados mais ricos da federação. Além disso, a bancada conservadora e o centro cresceram no Congresso, enquanto a esquerda se manteve minoritária.
Outro impulso para o fortalecimento da oposição veio na terça-feira (8), quando o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, disse que o partido, que se tornou o maior da Congresso, “será oposição aos valores comunistas e socialistas, será oposição ao futuro presidente” – tom afinado com o discurso de Bolsonaro e com os grupos que estão nas ruas protestando contra a eleição de Lula.
“Nós queremos que ele comande nosso partido, queremos o Bolsonaro à frente dessa luta que ele construiu para levar nosso partido a um patamar mais importante”, disse, ao elogiar a gestão do presidente e anunciar que Bolsonaro será o presidente de honra do PL. Mais que isso: disse que ele será candidato a Presidência em 2026 e que o partido quer a presidência do Senado no ano que vem. O posto de presidente da Casa é estratégico para "frear" o Supremo Tribunal Federal (STF) – que ainda pode complicar a situação de Bolsonaro após o término do mandato em razão de inquéritos conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes.
O que dizem deputados do centro e da direita sobre os atos em frente dos quartéis
Para o atual líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PL-PR), as declarações de Valdemar foram importantes para consolidar a oposição. Questionado sobre o que pensa sobre os movimentos de rua e se eles fortaleceriam a oposição, Barros disse que ainda é cedo para saber. “São manifestações espontâneas da população que não se sente representada pelo presidente eleito e vem fazendo seus protestos. Vamos aguardar para ver como vai evoluir. Como é orgânico, não tem comando, não tem possibilidade de prever”, disse.
Ainda assim, Barros entende que, se Lula não conseguir pacificar o país, contemplando ou menos respeitando os anseios ou valores desse crescente segmento da população, vai ter muita dificuldade para governar. “Vamos ver que gestos fará. Mas ainda tem um longo tempo até a posse. Vamos ver como acontecerão as manifestações. É preciso ter paciência.”
O líder do governo na Câmara entende que também depende de Bolsonaro a consolidação da oposição. “Conforme Bolsonaro se manifestar, pode agregar mais gente. Vamos aguardar para ver qual será o esforço de formação de base do novo governo. Temos que aguardar.”
No campo da direita mais próxima ao presidente, a avaliação é de que o movimento indica algo nunca visto no país na história recente. "[As manifestações] servem para acirrar, formar um movimento de oposição forte, aliar os partidos e descredibilizar o Poder Executivo eleito, ou supostamente eleito, além de trazer luz sobre falta de transparência do sistema eleitoral”, disse o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PL-SP).
Questionado se vê risco de algum tipo de ruptura real, no embalo dos movimentos, ele desconversa. “Eu liderava movimentos de rua em 2016, no impeachment de Dilma Rousseff. Não tinha o que a gente está vendo. A gente precisava implorar para as pessoas irem para a rua. Agora não tem esse problema. São milhões que vem de forma espontânea, não precisa fazer nada. Ninguém controla isso.” Mas Bragança considera que um cenário mais factível são reformas na Constituição e nas instituições, para atender a essa parcela da sociedade.
Quanto ao novo governo, o deputado avalia que não só Lula entra mais desgastado, mas também todos os parlamentares que vierem a apoiá-lo. “O governo já entra totalmente fragilizado, sem chance de governar. Com pouca legitimidade para emplacar qualquer coisa. Os deputados que apoiarem já vão entrar chamuscados. E agora não tem mais aquele esquecimento por parte do eleitor. Essa eleição mostrou: quem ficou do lado errado perdeu. É um bom momento da política brasileira.”
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