Com bandeiras, faixas e camisetas amarelas, movimentos de apoio à Lava Jato e grupos de direita realizaram manifestações de rua, neste sábado (9), em diversas capitais do Brasil. Eles protestaram contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que permitiu a libertação de presos envolvidos em escândalos de corrupção, como o ex-presidente Lula e o ex-ministro petista José Dirceu.
Os manifestantes fizeram um apelo ao Congresso Nacional para que se aprove a proposta de emenda à Constituição (PEC) 410, que autoriza a prisão após a condenação em segunda instância. Também deram apoio ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e à Operação Lava Jato, além de defender a abertura da "CPI da Lava Toga" para investigar atos do Judiciário. Veja como foram os atos em algumas cidades do país.
Avenida Paulista encheu de gente
Em São Paulo, milhares de pessoas se concentraram na Avenida Paulista, tradicional palco de protestos. Os manifestantes foram convocados pelo Nas Ruas, Vem Pra Rua (VPR) e Movimento Brasil Livre (MBL), além de outras organizações menores, para protestar contra a soltura de Lula e defender a PEC da prisão segunda instância. Eles ocuparam um trecho entre o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). A Polícia Militar não fez estimativa de público.
Estacionado em frente ao Masp, o caminhão do Nas Ruas reuniu os bolsonaristas do PSL, que fizeram um discurso duro contra o STF. O Nas Ruas e o Vem Pra Rua defenderam até mesmo o impeachment de ministros do STF.
Para a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), uma das fundadoras do Nas Ruas, a liberdade de Lula vai unificar o campo da direita. "A saída do Lula da cadeia vai reforçar a liderança de Bolsonaro no campo da direita. A soltura dele traz de volta o sentimento que nos uniu no impeachment da Dilma", disse.
Aliado de Bolsonaro, o empresário Luciano Hang, dono da rede lojas Havan, foi um dos mais exaltados oradores no caminhão do Nas Ruas. "Esse pessoal de vermelho foi treinado em Cuba. Vão para a Cuba que os pariu", disse ao microfone. "A soltura do Lula conseguiu unir as pessoas de bem que estavam divididas. A esquerda destruiu o Brasil", disse Hang. O jurista Modesto Carvalhosa também discursou no carro de som e defendeu o impeachment de ministros do STF.
Entre os manifestantes em frente ao caminhão do Nas Ruas se viam faixas em defesa da intervenção militar, exaltando o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sergio Moro.
"Tomataço" em ministros do STF
Em Curitiba, os manifestantes se reuniram na praça Pedro Alexandre Brotto, em frente à Justiça Federal, onde trabalhava o ex-juiz Sergio Moro. O tempo estava bastante instável, com chuviscos constantes, mesmo assim, cerca de mil pessoas compareceram à manifestação, segundo a organização.
No carro de som, os diversos movimentos discursaram em tom de repúdio ao STF pela mudança no entendimento da prisão em segunda instância e aos partidos de esquerda. O hino do Brasil foi entoado diversas vezes e os gritos de “a nossa bandeira jamais será vermelha” foram constantes. Como forma de protesto, houve ainda um "tomataço" em uma placa disposta especialmente para isso com as fotos dos ministros Ricardo Lewandowski, Rosa Weber, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Marco Aurélio e Dias Toffoli.
Willian Rocha, do MBL, um dos organizadores do evento, disse que “o movimento vai agir pela via institucional” e estima haver “condições no Congresso para a aprovação da PEC”. Afirmou ainda que a CPI da Lava Toga deve ser uma pauta urgente.
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, Felipe Francischini (PSL-PR), também participou do ato. À Gazeta do Povo, ele disse que pretende dar um andamento ágil à tramitação da PEC, tendo pautado o tema já para os dias 11 e 12 de novembro, e espera que o projeto passe à votação na CCJ ainda na próxima terça-feira.
Segundo ele, a tramitação “será parecida com a reforma da Previdência” e percebe condições para que o projeto seja aprovado até fevereiro do próximo ano, fazendo notar que questões regimentais não permitiriam um andamento mais célere. O deputado também prometeu “correr para que o projeto seja votado em plenário já na volta dos trabalhos do Legislativo”, em 2020.
Rio de Janeiro
Os manifestantes se reuniram em torno de um pequeno carro de som e ocuparam menos de um quarteirão da praia de São Conrado, bem em frente ao prédio onde mora o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM). Muitos deles estavam vestidos de preto em protesto contra o STF. A maioria, no entanto, manteve a tradição do movimento e se vestiu de verde e amarelo.
"A decisão do STF foi um golpe, um ato político", discursou uma das organizadoras do evento, Adriana Balthazar, do Vem Pra Rua. "Estamos na rua para pedir o fim da impunidade."
Porto Alegre
O protesto se concentrou na Avenida Goethe, em frente ao Parcão, local tradicional de encontro de grupos de direita. O número de manifestantes não foi informado pela Polícia Militar, mas havia bastante gente. A empresária Andressa Nardes, de 43 anos, afirmou que “a esquerda está desmoralizada” e, segundo ela, “o grande problema é o Centrão”.
Belo Horizonte
Na capital de Minas Gerais, as manifestações não contaram com caminhões de som, contudo se fizeram presentes na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul, embora em número menor de pessoas que os protestos anteriores.
O coordenador do Vem pra Rua em Minas, Max Fernandes, disse que cabe aos parlamentares “corrigir” o posicionamento do Supremo, considerando um “dever moral a aprovação da PEC que corrija o posicionamento do STF”.
Manifestações pelo Brasil
Também no Nordeste ocorreram manifestações, como em Salvador e Recife, embora com menor comparecimento que em outras capitais. Em outras cidades pelo Brasil, protestos foram confirmados, mas não havia informação sobre adesão.
Em todas os locais de manifestação não foram relatados incidentes, e a pauta foi praticamente a mesma: repúdio pela libertação dos presos que estavam condenados em segunda instância, rapidez na aprovação da PEC 410, apoio à operação Lava Jato e a CPI da Lava Toga.