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Pró-Bolsonaro

Manifestações pró-Bolsonaro tentam minimizar radicalismo: “Fechar Supremo é para Maduro”

Dia 30 de junho: manifestação
Domingo, dia 30 de junho tem manifestação e atos pró-Moro e Lava Jato estão programadas em todo o país (Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo)

Os atos de apoio ao governo de Jair Bolsonaro, que estão ocorrendo neste domingo (26), foram alvo de uma verdadeira "montanha russa" no meio político. De extremamente controversas há uma semana - a ponto de provocarem um racha dentro da própria direita -, as manifestações pró-Bolsonaro acabaram por se fortalecer, ganhar respaldos de peso e se colocar como uma fonte de ânimo para o Palácio do Planalto, que vive o momento mais delicado desde o início da gestão. Siga os atos em tempo real clicando aqui.

O presidente decidiu não ir às ruas - embora tenha compartilhado em sua conta de Twitter imagens das manifestações - e pediu que seus ministros também não compareçam. Mas a expectativa é que lideranças do PSL e outros políticos simpáticos ao governo, como o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP), estejam nos atos - em São Paulo, a manifestação está marcada para o período da tarde. Os bolsonaristas esperam a realização de manifestações em 350 cidades do país. Pela manhã, o pedido do presidente foi atendido e não se viu aliados integrando as marchas.

Nos atos, o objetivo é mostrar suporte ao governo Bolsonaro, protestar contra a conduta do chamado "centrão" dentro do Congresso Nacional e também tentar descolar dos bolsonaristas a pecha de radicais - o que motivou as controvérsias dentro da direita.

Fechar Supremo e Congresso é "pauta de Maduro"

Os atos pró-Bolsonaro foram idealizados após o sucesso das manifestações convocadas pela oposição no último dia 15, que protestaram contra o corte de verbas na educação. Diante do grande número de pessoas que foi às ruas, núcleos bolsonaristas começaram a veicular mensagens sugerindo uma manifestação a favor do presidente - e algumas das convocações continham bandeiras consideradas antidemocráticas como o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional, que estariam, na visão destes grupos, "impedindo" Bolsonaro de governar.

A postura radical fez com que lideranças da direita, como a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) e o Movimento Brasil Livre, rejeitassem as manifestações. E levou a um racha dentro da bancada federal do PSL, que só foi minimizado na terça-feira (21), após a decisão do partido de não apoiar institucionalmente os atos, mas de permitir que cada deputado atue como quiser.

Daquele dia até o domingo dos atos, o PSL se empenhou para dizer que as reivindicações radicais não tinham o aval do partido. Deputados da sigla que defendiam as manifestações pró-Bolsonaro, como Carlos Jordy (RJ), Márcio Labre (RJ) e Carla Zambelli (SP), se revezavam em dizer que as posturas antidemocráticas não eram endossadas pela legenda.

O presidente Bolsonaro endossou o discurso: em café da manhã com jornalistas na quinta-feira (23), ele disse que "quem defende o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional está na manifestação errada" e que "essas pautas são estão mais para [Nicolás] Maduro", numa referência ao ditador da Venezuela, frequentemente criticado pelos bolsonaristas.

Um elemento importante para que o discurso radical fosse minimizado foi a adoção de uma pauta mais específica para as manifestações. Os atos passaram a ter como principais bandeiras a defesa da reforma da previdência, do pacote anticrime do ministro Sérgio Moro (Justiça) e, em menor escala, da instalação da CPI "Lava Toga" (para investigar supostos abusos do Poder Judiciário) e da operação Lava Jato.

Com a nova ótica, antigos críticos dos atos mudaram de lado. Um deles é o presidente do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE). Se no começo da semana ele havia dito que a manifestação "não fazia sentido", na quinta-feira (23) ele declarou "muito feliz" com o ato e disse pretender estar nas ruas, em São Paulo ou no Recife. "A mobilização é algo de rua, que nós não sabemos a origem, mas sabemos o objetivo, que é defender as reformas propostas pelo governo. E isso me deixa muito feliz. Estamos caminhando muito bem", disse, à Gazeta do Povo.

Reforços institucionais

A mudança no discurso trouxe às manifestações pró-Bolsonaro, ao longo das semanas, novos apoios. Um suporte de peso veio do Clube Militar. O grupo reúne 38 mil associados das três forças armadas e convocou seus integrantes para as ruas. O diretor de Comunicação Social da instituição, Ivan Cosme, disse que o Clube identifica que "está havendo na verdade um cerceamento da possibilidade de o governo realmente governar", e que por isso se mostrar ao lado de Bolsonaro seria essencial.

A adesão dos militares ao governo Bolsonaro seria natural pela origem profissional do presidente da República e pela defesa da categoria que ele fez em sua trajetória política. Mas é também relevante porque, apesar do "background", a condição dos militares no atual governo não é plenamente pacífica - a briga da ala militar com os "olavistas", os seguidores do filósofo Olavo de Carvalho, é um dos principais ruídos deste primeiro semestre de gestão. Até o momento, o apoio à manifestação tem reunido expoentes dos dois segmentos.

Outro apoio de relevo que a manifestação pró-Bolsonaro obteve veio do meio empresarial, com o grupo Brasil 200. O núcleo, liderado pelo empresário Flávio Rocha, do grupo Riachuelo, formalizou seu apoio às manifestações na sexta-feira (23). O Brasil 200 conta também com nomes como o dono da Havan, Luciano Hang, e da Polishop, João Appolinário.

Presidente atual do Brasil 200, Gabriel Rocha Kanner disse que o grupo demorou a aderir ao movimento justamente pela pauta radical que aparecia com mais destaque no início dos preparativos para o ato.

As diferentes frentes de suporte se mostram necessárias ao governo Bolsonaro principalmente porque os últimos dias não foram cômodos para o Palácio do Planalto. A sessão da Câmara de quarta-feira (21) registrou uma derrota do Executivo, com a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça.

Mesmo com Planalto e o PSL tentando minimizar os impactos da derrota, a votação indicou que o governo não dispõe de tanto apoio dentro do Congresso. Outra notícia ruim veio com a pesquisa XP/Ipesp divulgada na sexta-feira (23): o número de brasileiros que considera o governo "ruim/péssimo" é de 36%, superior ao dos que consideram o governo "ótimo/bom", que está em 34%. É a primeira vez, desde o início da gestão, que a avaliação negativa supera a positiva.

Centrão sob ataque em manifestações pró-Bolsonaro

A mudança no discurso radical, entretanto, não mudou um dos focos das manifestações pró-Bolsonaro: o chamado "centrão" do Congresso Nacional.

O grupo de parlamentares - principalmente deputados federais - que não pertence formalmente nem à oposição e nem à base aliada é tido por apoiadores do governo como os principais "vilões" do momento, por imporem derrotas a Bolsonaro e impedirem a aprovação de projetos favoráveis ao Planalto.

"A manifestação é contra as ações do centrão, que era para ser governo, para ser base governista, e está traindo o governo, fazendo corpo mole com as reformas", disse à revista Época o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).

O clima entre as partes, que já era árduo, se dificultou ainda mais após a divulgação de entrevista do ministro da Economia, Paulo Guedes, à revista Veja, em que ele disse que deixaria o cargo se o Congresso aprovasse uma "reforminha" da previdência. Presidente da comissão da Câmara que avalia a reforma, Marcelo Ramos (PR-AM) disse que a declaração de Guedes "beira a chantagem" e que haverá reforma da previdência "com ou sem ele [Guedes]".

O "centrão" é de difícil classificação - principalmente porque os deputados não gostam de ser associados ao grupo, em virtude da má reputação do bloco. Siglas como PP, PR, Solidariedade, PTB e outras são mencionadas como sendo as principais que abrigam os integrantes do núcleo. Membro de uma dessas siglas, Evair Vieira de Melo (PP-ES) - que nega ser do "centrão" - disse ver com bons olhos as manifestações pró-Bolsonaro.

"Acho que esse tipo de movimento é necessário. Porque garante que a população permaneça mobilizada. É algo que ajuda o Brasil a andar para a frente, que também colabora para o nosso trabalho parlamentar", disse o deputado - que, por outro lado, apontou "não ver nada de novo" nos atos programados para domingo, por, segundo ele, serem uma continuidade das movimentações que levaram ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Outro integrante de um partido relacionado ao "centrão", Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ) também define como positivo o ato das pessoas irem às ruas, mas acredita que as mobilizações terão pouca capacidade de mudarem o voto dos parlamentares. "O Congresso é uma casa muito plural - há um deputado que representa os professores, outro que representa os advogados, e assim por diante. Então os parlamentares acabam por ouvir mais esses grupos", disse.

Apesar de "respeitar" a mobilização, Aureo criticou uma bandeira dos manifestantes, a briga pela retirada do Coaf do Ministério da Justiça. "Isso [transferência do Coaf para o Ministério da Economia] serviu para darmos um voto de confiança ao ministro Paulo Guedes. Se ele perde nossa confiança, é sinal que ele não tem legitimidade para tocar a reforma da previdência, que é essencial para o país", disse.

Bronca na direita

Além dos alvos já mencionados, as manifestações têm um inusitado ponto de críticas: o Movimento Brasil Livre. Mesmo sendo uma das principais forças da direita e de ter exercido papel chave no processo de impeachment de Dilma Rousseff, o MBL caiu em desgraça entre os bolsonaristas por criticar as manifestações - e por não mudar de opinião.

Os membros do grupo contestaram, de início, as bandeiras radicais, como as de fechamento de STF e Congresso. Posteriormente, acrescentaram a isso a ideia de que as manifestações pró-Bolsonaro representariam uma espécie de "carta branca" ao presidente.

"Eu não vou participar e nenhum coordenador do MBL também não vai. As manifestações podem se tornar um salvo-conduto para que Bolsonaro faça o que quiser", disse o principal líder do MBL, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP).

Apesar do posicionamento do parlamentar, alguns integrantes do MBL que participaram de ato em defesa da reforma da Previdência no Congresso na última quarta-feira (22) falavam publicamente sobre a participação nos protestos de domingo. Sobre eles, Kataguiri disse que não tinha como controlar a totalidade dos integrantes do grupo, mas reiterou a negativa em relação aos coordenadores.

O deputado disse ainda que não teme a perda de seguidores nas redes sociais - segundo ele, esse movimento já ocorreu em 2017, quando o grupo se posicionou a favor da reforma da Previdência apresentada pelo ex-presidente Michel Temer.

A postura de Kataguiri foi ironizada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) na sexta-feira (24). O filho do presidente compartilhou em seu perfil no Twitter uma imagem que continha críticas às manifestações feitas por Kataguiri, pela presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), e pelo ex-presidenciável do PSOL, Guilherme Boulos. "PT de Gleisi, PSOL de Boulos e DEM de Kim Kataguiri unidos?", escreveu Eduardo Bolsonaro.

E a esquerda?

Em meio às discussões sobre centro e a própria direita, os partidos de esquerda, inimigos de primeira hora do bolsonarismo, acabaram em segundo plano. Os nomes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros expoentes do campo esquerdista ficaram em segundo plano nas manifestações pró-bolsonaro.

Os representantes da oposição, entretanto, têm monitorado as movimentações da direita. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Gleisi Hoffmann e Boulos acreditam que a mobilização bolsonarista pode ser bem-sucedida. A deputada é da opinião de que o grupo que apoia o presidente não tem a mesma força que tinha no período eleitoral, mas, por outro lado, passou a contar com o reforço da máquina pública.

No Rio de Janeiro, a esquerda promoverá uma manifestação no mesmo dia e hora da dos apoiadores do governo. Divulgado pelo ex-deputado Chico Alencar (PSOL), o ato terá como mote o combate à violência policial, definida pelo ex-parlamentar como "política de extermínio do Estado criminoso de Bolsonaro e Witzel".

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