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Semana quente

Previdência, Coaf, ‘fogo amigo’: como as manifestações influenciam a agenda do Congresso

Manifestação pró-Bolsonaro em Curitiba, domingo, 26 de maio. Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Manifestação pró-Bolsonaro em Curitiba: atos públicos colocam pressão sobre deputados e senadores. (Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo)
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As manifestações pró-governo do último domingo (26) surpreenderam pela adesão e capilaridade com que ocorreram. Milhares de brasileiros foram às ruas das principais cidades do país dar apoio ao presidente Jair Bolsonaro e pressionar pela aprovação das reformas que o Brasil precisa. A dúvida que fica é se e como os atos públicos vão influenciar na agenda do Congresso daqui para frente.

A temperatura política deve continuar elevada nesta semana. Depois de perder o trecho da votação da Medida Provisória (MP) 870 na Câmara que remetia o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ao Ministério da Justiça, o governo Bolsonaro precisa encarar novamente o tema, mas agora no Senado – e aí com um cenário curioso, em que a derrota parece a melhor opção.

Na Câmara, a reforma da Previdência ainda domina os holofotes e os líderes do processo prometem o cumprimento do cronograma.

Os deputados e senadores precisarão também dar conta de uma série de temas de relevo que, por conta das prioridades de momento, acabam ficando em segundo plano. Muitos deles estão também conectados a MPs que têm prazo para serem votadas. Ou seja, ainda que os parlamentares prefiram se dedicar a outros tópicos, não conseguirão escapar dessas temáticas por muito tempo.

Há ainda a expectativa de um novo protesto nacional contra os cortes na educação, agendado para a próxima quinta-feira (30).

Ecos das manifestações

Os debates a serem travados no Congresso ao longo da semana terão como referência as manifestações populares. Tanto as favoráveis ao governo quanto as contrárias aos cortes das verbas da educação. Deputados e senadores estão sob pressão das ruas, disso ninguém tem dúvida.

Os atos a favor da gestão de Jair Bolsonaro lançaram críticas sobre o trabalho do Legislativo. A ponto de as manifestações terem nascido tendo entre as pautas bandeiras radicais, como a defesa do fechamento do Congresso, o que desagradou até mesmo membros da direita e apoiadores de Bolsonaro.

“Eu cheguei a temer que as manifestações pudessem ter como efeito uma piora nas relações entre Congresso e governo, mas não foi isso que ocorreu. Foi um ato ordeiro, e é positivo que as pessoas estejam nas ruas”, disse o deputado federal Enrico Misasi (PV-SP). “Democracia é isso aí, e todas as manifestações são bem-vindas”, endossou o também deputado federal Fábio Ramalho (MDB-MG).

Já o deputado Alex Manente (Cidadania-SP) disse que “as duas manifestações são válidas”, em referência aos atos dos dias 26 e 30, mas rebateu parte das críticas ao Parlamento: “nós [deputados e senadores] também fomos eleitos, também temos legitimidade para estarmos em nossas funções, e somos parte da sociedade”. Líder da minoria na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ) declarou ter identificado “ataques à democracia” no ato de domingo.

A parlamentar do PCdoB está entre os membros do Congresso que tem divulgado os atos do dia 30. A manifestação tem sido repercutida por outras lideranças de esquerda como Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Zeca Dirceu (PT-PR) e Talíria Petrone (PSOL-RJ). Os protestos contra os cortes na educação do dia 15 foram considerados um sucesso pela oposição e tiveram seu efeito admitido também por apoiadores de Bolsonaro – tanto que foram os principais motivadores dos atos favoráveis ao presidente da República.

Perder para ganhar

Protestos à parte, o governo vai vivenciar nesta terça-feira (28) uma votação no Senado em que a derrota se apresenta como um caminho melhor do que a vitória. O tema em questão é o destaque da MP 870 sobre o destino do Coaf, se com o Ministério da Justiça, como queria o Planalto, ou se com o Ministério da Economia, como votaram os deputados federais na última quarta-feira (22).

Os senadores avaliarão o tema e poderão votar como o governo desejava inicialmente. O problema é que se isso ocorrer a MP volta para avaliação da Câmara. E, se os deputados não a votarem até o dia 3, a norma deixa de ter validade – com isso, os outros pontos da MP 870, como a reestruturação dos ministérios, que já pareciam pacificados, podem voltar a ser uma dor de cabeça.

O presidente Bolsonaro já havia identificado a derrota como um cenário mais favorável e falou em uma live na semana passada que pediria aos senadores que não modificassem o texto. Mas, nesta segunda-feira (27), o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), disse que promete se esforçar para que o Coaf fique sob o controle do ministro Sergio Moro. Outro parlamentar simpático ao Planalto, Espiridião Amin (PP-SC), afirmou que não abriria mão do direito de analisar a MP e dar sua opinião sobre o texto.

Os senadores já haviam protestado, na semana passada, por conta do pouco prazo que têm para analisar medidas provisórias. O protesto se deu na apreciação da MP das companhias aéreas, a que permitiu a atuação de empresas com 100% de capital estrangeiro no setor. Senadores se queixaram de serem vistos como “carimbadores” das decisões tomadas pela Câmara, em especial pelo seu presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Cuidar desse “fogo amigo” é o que se mostra como o desafio do governo no Senado.

Reforma com prazos esgotados

A prioridade econômica do governo, a reforma da Previdência, tem também outra semana decisiva. A quinta-feira (30) é o dia limite para que os deputados apresentem emendas ao texto que está tramitando na comissão especial da Câmara sobre o assunto. O prazo inicial era a quinta-feira (23) passada, mas Maia aceitou prorrogar o período.

O presidente da comissão, Marcelo Ramos (PR-AM), reiterou no fim de semana que está “tudo certo” para que o grupo cumpra todos os prazos regimentais e que o relator Samuel Moreira (PSDB-SP) apresente seu texto no dia 15 de junho.

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