A decisão do PSL, partido de Jair Bolsonaro, de liberar seus filiados para participar das manifestações pró-governo convocadas para domingo (26), mas sem dar apoio oficial aos atos, é um sintoma do "racha" registrado na direita nos últimos dias.
O presidente da legenda, o deputado Luciano Bivar (PE), e outros expoentes da sigla, como a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (SP), e a deputada estadual Janaina Paschoal (SP), se posicionaram contra os protestos. Ainda assim, outra ala do PSL apoia incondicionalmente as manifestações. A saída, anunciada nesta terça-feira (21), após reunião da bancada do partido, em Brasília, foi ficar em cima do muro.
Parte da direita desaprova a associação do movimento de apoio ao governo com algumas bandeiras radicais que têm sido sugeridas por simpatizantes de Bolsonaro, como o “fechamento” do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Para alguns grupos bolsonaristas, os outros poderes estariam dificultando que o presidente da República cumpra seu programa de governo.
“O PSL quer deixar claro que qualquer pauta antidemocrática não tem ligação com o partido”, explicou o deputado federal Márcio Labre (RJ), que mostrou apoio às manifestações. Líder da bancada do partido, Delegado Waldir (GO) também indicou apoio aos atos e rejeição a propostas extremistas.
Quem se opôs mais fortemente às pautas polêmicas das manifestações foi alvo de perseguição dos bolsonaristas de plantão. Neste grupo estão Janaina Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, e o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), além do Movimento Brasil Livre (MBL), do qual ele é líder.
Janaina chegou a dizer que seus colegas de partido “estão cegos” e tanto Kim quanto o MBL passaram a ser alvo de críticas de parte de simpatizantes de Bolsonaro. Montagens que circularam pelas redes chegaram a relacionar o deputado com o comunismo, ideologia combatida pelos bolsonaristas.
“Apoio incondicional a Bolsonaro”
Um mote que parte do PSL tentará passar é o de que os atos são, acima de tudo, de “apoio incondicional” a Jair Bolsonaro – ou seja, as críticas a outros poderes ou outras forças da política estarão em segundo plano.
“A nossa maior determinação é mostrar que apoiamos Bolsonaro de maneira incondicional. E cada um deve manifestar esse apoio como quiser”, declarou o deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS). O parlamentar circulou pela Câmara nesta terça-feira com um cartaz que dizia “Domingo todos na rua por Bolsonaro”.
Ao evitar formalizar o apoio da legenda aos atos, o PSL busca também reforçar a impressão de que as manifestações são apartidárias – e, portanto, expressões de um sentimento legítimo da sociedade.
“O PSL não é um movimento de rua. Não cabe ao partido convocar pessoas a ir às ruas e nem conduzir as manifestações”, disse o deputado Alexandre Frota (SP), que declarou que participará de uma manifestação em Campinas (SP). “A mobilização de domingo é apartidária. Portanto, não faria sentido colocarmos o PSL formalmente no meio disso”, reforçou Bibo Nunes.
Tiro no pé ou na cabeça
Para parlamentares de centro, porém, a adesão – ainda que informal – do governo e sua base às manifestações é um erro político.
“Acho que a convocação das manifestações foi uma ideia errada por parte do governo, tanto que percebemos que não há uma unanimidade. Foi um tiro no pé. E, se não houver muita gente na rua, isso pode se transformar em um tiro na cabeça”, declarou Luiz Flávio Gomes (PSB-SP).
Já Lafayette de Andrada (PRB-MG) é da opinião de que o endosso às manifestações fez com que o governo amplificasse um problema que estava restrito ao Legislativo. “Ao levar o debate à sociedade, o governo acirra os ânimos numa hora desnecessária. Não creio que poderá colher bons frutos desse processo”, disse.
A análise de ‘acirramento de ânimos’ é reforçada por Celina Leão (PP-DF): “a eleição já passou. Agora não é mais hora de fazer o debate com as ruas. A discussão tem que ser com o Parlamento, tem que ser com essa Casa da qual Bolsonaro fez parte por tanto tempo”.
Oposição fica entre o desprezo e o temor
Por parte dos membros da oposição, a expectativa em torno das manifestações do dia 26 oscila entre o desprezo, pela crença de que Bolsonaro já não seria mais capaz de reunir um grande número de apoiadores, e o temor das “ideias radicais” defendidas por parte dos apoiadores do presidente da República.
“Será um ato fracassado”, declarou o deputado João Daniel (PT-SE). Segundo o parlamentar, o chamamento para a mobilização é um “ato desesperado” de Bolsonaro, que, em sua avaliação, já não conta mais com o respaldo que detinha no período eleitoral. David Miranda (PSOL-RJ) relaciona os atos pró-Bolsonaro com os protestos contra os cortes na educação ocorridos no último dia 15.
“Se houver menos gente na rua do que houve no dia 15, a debilidade do governo vai ficar bem clara. De certo modo já percebemos essa debilidade aqui no dia a dia do Congresso, com as ‘batidas de cabeça’ entre integrantes do próprio governo, as desmentidas que os deputados da base e os ministros dão”, diz Miranda.
O deputado Afonso Florence (PT-BA), embora não acredite que a mobilização reunirá um número expressivo de pessoas, definiu como “preocupante” a presença das pautas tidas como extremas na lista de reivindicações.
“É preocupante e é uma irresponsabilidade de quem fala em fechamento do Congresso ou do Supremo. Há até previsão constitucional de cassação de mandato para quem age dessa forma contra o país e as instituições. Já era hora de essas pessoas perceberem que, estando no governo, precisam agir com mais responsabilidade”, afirmou.
Bolsonaro e ministros não vão às ruas
Mesmo com a participação de lideranças do seu partido, o presidente Jair Bolsonaro decidiu que não estará nas manifestações. "Por tratar-se de uma manifestação livre e espontânea, [o presidente] não quer associá-la ao governo", declarou o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros. A determinação foi também estendida aos ministros do governo.
A relação delicada entre governo e Congresso está no centro das insatisfações dos apoiadores de Bolsonaro que convocaram o ato de domingo. Na segunda-feira (20), o presidente negou que haja problemas entre ele e o Legislativo e citou como ‘justificativa’ os deputados que compõem o seu governo.
Bolsonaro tem cinco ministros que são deputados federais licenciados – Onyx Lorenzoni (DEM-RS), da Casa Civil; Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), da Saúde; Osmar Terra (MDB-RS), da Cidadania; Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), do Turismo; e Tereza Cristina (DEM-MS), da Agricultura.
Apesar do elogio, a relação entre Parlamento e Executivo viveu mais um abalo nesta terça-feira, após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciar que está rompido com o líder do governo na Casa, Major Vitor Hugo (PSL-GO). O motivo da briga seria o compartilhamento, por parte de Vitor Hugo, de ‘piadas’ que relacionavam deputados a propinas. O trabalho de Vitor Hugo já foi questionado por Maia em outras ocasiões e é atacado até mesmo dentro do PSL.
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