O fator que tem desequilibrado a disputa pela presidência da Câmara não tem relação direta com ações do Poder Legislativo, mas sim do Executivo. Durante as duas últimas semanas, o candidato do governo, o deputado Arthur Lira (PP-AL), tem conseguido uma adesão maior de deputados em comparação com seu principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP), principalmente após a promessa do Planalto em realocar aliados em cargos de segundo e terceiro escalões a partir de fevereiro. Além disso, Lira também tem sido beneficiado por retaliações que são patrocinadas pelo governo.
Membros do Palácio do Planalto estão levantando quais cargos devem ser disponibilizados aos deputados que se comprometeram a ser fiéis aos interesses do governo federal e a apoiar a candidatura de Arthur Lira. Entre os postos em negociação, estão cargos nas esferas estaduais e municipais de ministérios como Minas e Energia, Desenvolvimento Regional, Infraestrutura e Turismo, Justiça e Economia.
Do outro lado, o governo federal tem intensificado exonerações em autarquias que eram comandadas pelo MDB – tais como no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Superintendência de Patrimônio da União (SPU), no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), entre outros.
No início de janeiro, após o MDB lançar candidatura própria à presidência da Câmara, o então superintendente do Incra em Sergipe, Victor Alexandre Sande Santos, foi exonerado. Ele durou seis meses no cargo. Santos era uma indicação política do deputado Fabio Reis (MDB-SE).
Na semana passada, após o Solidariedade ter decidido apoiar o candidato do MDB, o partido perdeu cargos que mantinha em órgãos federais como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a superintendência do Ministério da Agricultura do Rio de Janeiro.
Baleia Rossi vê sua candidatura perder força após oferta de cargos pelo governo
Coincidência ou não, está ocorrendo uma série de “traições” de deputados em favor de Lira. Tanto que a coordenação da candidatura dele já fala que pode levar a disputa na Câmara em primeiro turno. O presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (AL), foi além e classificou o pleito como definido.
Do outro lado, os aliados do candidato do MDB, Baleia Rossi, admitem que ele está em desvantagem numérica na disputa. Mas, para eles, essa desvantagem seria de, no máximo, 15 votos.
Oficialmente, o bloco de Baleia Rossi conta com apoio de partidos como o PT, MDB, PSDB, PSB, DEM, PDT, Solidariedade, Cidadania, PCdoB, PV e Rede. Entretanto, por causa dos cargos oferecidos pelo Planalto, a expectativa é que Lira consiga atrair pelo menos 30 votos de parlamentares do MDB, PSDB, PSB, DEM, PDT e Solidariedade.
No caso do DEM, apesar de ser o partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), que tem patrocinado a candidatura de Baleia Rossi, pelo menos sete deputados da sigla devem aderir à candidatura de Lira. As articulações entre deputados do DEM e membros do governo foram capitaneadas por Elmar Nascimento (DEM-BA), parlamentar preterido por Maia na disputa pela presidência da Câmara.
Parlamentares criticam a negociação de cargos
“À medida em o governo retira cargos, ele também está negociando ou entregando cargos e milhões em emendas, em troca do voto no candidato dele. Bolsonaro interfere desavergonhadamente e criminalmente na eleição de um outro poder”, criticou a deputada Perpétua Almeida (AC), líder do PCdoB na Câmara.
Já o deputado federal André Janones (Avante-MG), um dos candidatos à presidência da Câmara, chegou a afirmar em entrevista à Jovem Pan que as eleições para a Casa não são democráticas, em função da promessa de cargos e emendas. “Não vejo como uma manifestação da democracia as eleições que acontecem na Câmara dos Deputados para escolha do presidente, apenas um jogo de interesses. É um jogo de interesses para saber quem consegue a liberação de mais emendas, mais cargos no alto escalão do governo e na própria Câmara. Então não guarda qualquer semelhança com conceito de democracia”, declarou o parlamentar.
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