O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se reuniram nesta quinta-feira (9), em Los Angeles, na primeira agenda bilateral entre os dois. Ambos conversaram sobre diferentes temas das agendas econômica, ambiental e sobre o fortalecimento da democracia na América Latina. O diálogo ocorreu em decorrência da nona edição da Cúpulas das Américas.
Após a reunião reservada com Biden, que durou cerca de 30 minutos, Bolsonaro se disse "maravilhado" com o presidente norte-americano e disse que "com toda a certeza" novos encontros ocorrerão. “É um relacionamento que, no meu entender, mais do que reatou, se consolidou”, afirmou. Para Bolsonaro, foi uma reunião produtiva, onde expôs e sua visão sobre a Amazônia, que, segundo o próprio chefe do Executivo brasileiro, Biden "concordou" com os pontos apresentados.
"Falamos abertamente sobre a Amazônia, depois reservadamente também, ele concorda conosco, ela é muito grande, o Brasil é um exemplo para a preservação ambiental como um todo", disse. Bolsonaro também disse que Biden aproveitou a reunião para falar sobre o conflito na Ucrânia, pauta que era um dos principais objetivos do presidente norte-americano.
"Ele está preocupado, falei sobre as minhas preocupações sobre as consequências da guerra, as consequências para o mundo. Todos sabem que ele quer uma solução, eu também quero, foi sinalizada uma fresta ali aberta que comungamos da mesma percepção", comentou Bolsonaro. "Ficou bom para ele e ficou bom para mim", destacou.
Os presidentes brasileiro e americano dialogaramsobre a recuperação econômica pós-pandemia da Covid-19, o impacto do conflito na Ucrânia no suprimento de fertilizantes e seu efeito sobre a segurança alimentar global. Também foi debatido os esforços e compromisso com o desenvolvimento sustentável e as energias limpas.
Todas essas pautas faziam parte de uma agenda prévia e comum elaborada pelas chancelarias de ambos os países. No caminho para a sessão plenária de abertura da Cúpula das Américas, Bolsonaro disse à imprensa que só aceitou ir à cúpula porque Brasil e Estados Unidos acertaram a agenda a ser debatida.
"Não aconteceria, eu não estava previsto para vir aqui. Ele [Biden] mandou um enviado especial para lá [Brasil] e acertamos a agenda", afirmou Bolsonaro. "É igual a um casamento, você vai aceitar os meus defeitos, eu vou aceitar os seus e vamos ser felizes", complementou. Questionado por jornalistas sobre os pontos importantes da reunião, ele citou "Rússia, fertilizantes" e o Brasil como "cada vez mais um ator importante para a humanidade".
Como foi a conversa inicial entre Bolsonaro e Biden
Em torno de 10 minutos da conversa inicial entre Bolsonaro e Biden foram televisionados pela imprensa, que pôde acompanhar o diálogo entre os dois. O presidente americano citou que ambos os países compartilham valores semelhantes, fez defesas às instituições democráticas e falou em ajudar a proteção da Amazônia com o financiamento de recursos do "quanto for possível". "É uma responsabilidade internacional do qual todos nos beneficiamos", declarou Biden.
Ao fazer uso da palavra, Bolsonaro reforçou que Brasil e Estados Unidos compartilham os mesmos valores em defesa da liberdade e da democracia, e destacou que o país já adota esforços para proteger a Amazônia. Deixou claro, contudo, que "muitas vezes" o governo brasileiro sente sua soberania ser ameaçada na região amazônica.
"Mas o fato é que o Brasil preserva muito bem o seu território. Tanto que dois terços do território brasileiro são preservados, mais de 85% da Amazônia brasileira é preservada. Nossa legislação ambiental é muito estrita, e fazemos todo o possível para cumprir e assegurar o bem-estar de nossa nação", declarou.
Bolsonaro declarou que, em um "futuro próximo", o Brasil talvez se torne o maior exportador de energia limpa. O governo federal sustenta ser um dos principais líderes no debate sobre o mercado global de créditos de carbono e tem como principal eixo da política ambiental a criação de "soluções climáticas lucrativas", como diz o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.
Ainda na reunião com Biden, Bolsonaro falou dos esforços do país para desenvolver seu setor agropecuário, que, segundo ele, "alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo". Sem fazer menção direta à viagem à Rússia realizada no início do ano, o presidente brasileiro pregou a paz entre russos e ucranianos, mas frisou que o Brasil sempre adotou uma posição de "equilíbrio" e que age pragmaticamente com vistas a atender suas relações comerciais, como o fornecimento de fertilizantes russos.
"O Brasil ainda é dependente de algumas coisas de outros países. Sempre adotamos posição de equilíbrio. Queremos a paz e tudo faremos para que a paz seja alcançada. Lamentamos os conflitos, mas eu tenho um país para administrar, e pela sua dependência, temos sempre que sermos cautelosos", justificou. "Nós torcemos e estamos à disposição para colaborar na construção de uma saída deste episódio que não queremos entre Ucrânia e Rússia", acrescentou.
O presidente brasileiro também não citou suas menções recentes sobre acusações de fraude nas últimas eleições norte-americanas. Bolsonaro manifestou a Biden seu desejo por "eleições limpas, confiáveis e auditáveis" para que não sobre "nenhuma dúvida após o pleito". "E tenho certeza que será realizado neste espírito democrático. Cheguei pela democracia e tenho certeza de que, quando deixar o governo, também será de forma democrática", afirmou.
No caminho para a Cúpula das Américas, após sua saída do hotel onde está hospedado, Bolsonaro disse que as acusações de fraude nas eleições dos EUA são "passado". "Não vim aqui tratar das eleições americanas, isso é passado. Todos sabem que eu tinha uma ótima relação com o presidente Donald Trump, mas o presente agora é Joe Biden, é com ele que converso, ele é o presidente", declarou.
O que Bolsonaro ganha nesse "casamento" com os Estados Unidos
A reunião entre Bolsonaro e Biden é benéfica politicamente para ambos. O governo norte-americano se prontificou a ajudar o governo brasileiro a buscar fontes alternativas de fertilizantes para o setor agropecuário do Brasil. Mesmo sendo concorrentes na produção de commodities, os EUA se comprometeram a aproximar empresários brasileiros de produtores norte-americanos e de nações parceiras.
Os esforços do governo federal para garantir a importação de fertilizantes ao mercado interno é uma das principais metas de Bolsonaro. Principalmente após a alta da inflação, ele tem enfatizado de forma reiterada que sua viagem à Rússia no início do ano foi importante para assegurar o fornecimento do insumo para o setor agropecuário do país.
Os fertilizantes são utilizados como "alimento" para as plantas, o que, por sua vez, viabiliza a produção de grãos e alimentos para o país. A busca pelo insumo é uma demanda de empresários do setor do agro, que teme possíveis embargos que impeçam os produtores de comprar fertilizantes da Rússia e Bielorrússia.
No atual cenário econômico e eleitoral, Bolsonaro se esforça para evitar quaisquer impactos ao setor agropecuário brasileiro. Além de ser um setor importante para sua agenda política e eleitoral, assegurar a produção de alimentos é uma defesa do governo para evitar a pressão inflacionária e consequentes impactos à pré-candidatura presidencial à reeleição.
Além da pauta alimentar, a reunião com Biden também coloca o Brasil em uma caminho de reaproximação com os Estados Unidos. Ambos os países eram politicamente mais próximos na gestão de Donald Trump, mas as relações esfriaram após a derrota do ex-presidente norte-americano.
O realinhamento com os EUA e a agenda bilateral na Cúpula das Américas permite a Bolsonaro mostrar que, a despeito do que apontam críticos, seu governo não está isolado no cenário internacional. O Itamaraty e militares defendem que a agenda pode impulsionar a projeção internacional da política externa brasileira em fóruns internacionais ao longo do ano.
O que Biden e os EUA ganham ao se reaproximar do Brasil
O presidente dos EUA também tem a ganhar com a reaproximação com os EUA. Biden vislumbra nesse realinhamento a oportunidade de se fortalecer na América Latina como uma demonstração de força ao presidente russo, Vladimir Putin. Há uma tentativa do governo norte-americano de se aproximar do Brasil a fim de enfraquecer as relações russas com o mundo, uma vez que o mercado brasileiro é importante para o comércio russo.
A aposta no fortalecimento da política externa norte-americana é importante para Biden. Por isso, os Estados Unidos tem apostado em diferentes estratégias e movimentos políticos para isolar a Rússia. Em sua fala de abertura da Cúpula das Américas, apostou em um discurso calcado na defesa da democracia com direito a alfinetadas.
"A democracia é uma marca registrada de nossa região", destacou. "E, ao nos reencontrarmos hoje, é o momento em que a democracia está sob assalto em todo o mundo. Vamos nos unir novamente para renovar nossa convicção de que a democracia não é apenas uma característica marcante definidora de nossas histórias americanas, mas um ingrediente essencial para o nosso futuro comum americano", disse Biden.
Além da Rússia, Cuba e Nicarágua, que foram excluídas da Cúpula das Américas, são outros desafetos da política externa norte-americana. Biden também manifestou ao longo do evento o desejo em financiar a recuperação econômica pós-Covid com concentração no meio ambiente e defendeu o aumento da produção de alimentos para a exportação, pauta que interessa o agronegócio norte-americano e brasileiro.
"Durante os próximos dias lançaremos outras iniciativas criadas em cooperação com muitos de seus países, que incluem uma parceria Estados Unidos-Caribe para enfrentar a crise climática. Uma colaboração entre os Estados Unidos, Argentina, Brasil, Canadá, Chile e México, os maiores exportadores de alimentos do hemisfério, para aumentar a produção de alimentos para exportação, assim como aumentar a produção e o transporte de fertilizantes", destacou.
Bolsonaro discursa nesta sexta
O presidente Jair Bolsonaro ficou tão satisfeito com o diálogo travado com Joe Biden que disse que poderia sair de Los Angeles com sentimento de "missão cumprida". Mas ele ainda retorna nesta sexta-feira (10) para a Cúpula das Américas, onde discursará na segunda sessão plenária.
Bolsonaro também disse que o evento foi positivo para conversar com outros chefes de Estado em conversas informais. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, foi um dos que ele afirma ter dialogado.
"Posso até dizer que essa conversa informal que tive com alguns outros chefes de Estado vale mais que uma bilateral que, às vezes, tem um certo elemento de tensão. Conversamos com várias pessoas, o mundo está ajudando a gente, as Américas também. O Brasil um grande país que cada vez mais se destaca no cenário mundial", sustentou.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF