O presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcelo Queiroga, vai assumir o Ministério da Saúde no lugar do general Eduardo Pazuello. O aceite de Queiroga foi confirmado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro e deve ser oficializado na edição desta terça-feira (16) do Diário Oficial da União.
O médico cardiologista se reuniu com Bolsonaro na tarde desta segunda-feira (15), no Palácio do Planalto. "Tem tudo para fazer um bom trabalho dando prosseguimento a tudo que o Pazuello fez até hoje", disse Bolsonaro a apoiadores. Ele e Marcelo Queiroga conversaram por quase três horas. Segundo o presidente, Pazuello não sairá imediatamente do ministério. "Vai começar uma transição que vai demorar uma ou duas semanas", afirmou.
Natural da Paraíba, Marcelo Queiroga foi indicado recentemente por Bolsonaro para ocupar uma das cinco cadeiras da diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mas a nomeação não chegou a ser efetivada porque ainda dependia de sabatina Comissão de Assuntos Sociais do Senado, o que foi prejudicado pela pandemia.
Queiroga assume o Ministério da Saúde em meio ao pior momento da pandemia de Covid-19, com recordes de mortes e vacinação em ritmo lento. Substitui um desgastado Pazuello, cuja demissão já era dada como certa desde o fim de semana. Bolsonaro vinha sendo pressionado por sua base, especialmente o Centrão, a trocar o comando do enfrentamento da Covid-19.
No sábado (13), Bolsonaro se reuniu com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ouviu que Pazuello havia perdido as condições de continuar como ministro devido ao seu fraco desempenho no combate à doença provocada pelo novo coronavírus.
O recado foi claro: a base aliada do presidente no Congresso, especialmente o Centrão, não queria mais Pazuello na Saúde. Os próprios parlamentares vinham sendo pressionados a dar andamento à CPI da Saúde para investigar supostas omissões do agora ex-ministro no combate à pandemia, como no caso da crise da falta de oxigênio no Amazonas.
Pouco depois do encontro com Lira, Bolsonaro se reuniu, fora da agenda, com três ministros da ala militar: Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Fernando Azevedo (Defesa). A reunião ocorreu no Hotel de Trânsito do Exército, local em que Pazuello mora em Brasília. Nos bastidores, a informação é de que a demissão do ministro da Saúde e a escolha do novo nome foram os assuntos discutidos.
No domingo (14), a informação de que Pazuello seria demitido veio a público. Nesse mesmo dia, Bolsonaro se reuniu com a médica cardiologista Ludhmila Hajjar, cotada para substituir Pazuello. Mas Ludhmila recusou oficialmente o cargo nesta segunda-feira (15). Ela era crítica da forma como o governo vinha conduzindo o combate ao coronavírus e tinha posições contrárias às de Bolsonaro em assuntos como isolamento social e tratamento precoce com remédios como a cloroquina.
A confirmação de Marcelo Queiroga ocorreu três horas depois do ministro Eduardo Pazuello negar, em entrevista coletiva, que tivesse pedido demissão. Ele, porém, reconheceu que o presidente Bolsonaro já estudava outros nomes para ocupar a pasta. "Não vou pedir para ir embora, não é da minha característica", declarou Pazuello. Ele disse que uma eventual demissão eras uma decisão de Bolsonaro e que, se ocorresse, ele conduziria a transição com o novo comandante da pasta. "Estamos trabalhando com foco na missão, quando o presidente decidir, faremos uma transição correta", afirmou.
Troca de Pazuello por Marcelo Queiroga é reação à perda de popularidade de Bolsonaro
Além dos resultados negativos no combate à pandemia, a troca na Saúde também é vista por aliados de Bolsonaro como uma reação a dois outros fatores: a perda de popularidade do presidente por causa da piora da pandemia e a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no jogo eleitoral de 2022.
Pesquisa Exame/Ideia mostrou, por exemplo, que 52% da população brasileira culpa Bolsonaro pelo ritmo lento na vacinação contra o coronavírus. Por muito tempo, o presidente conseguiu, segundo as pesquisas, não ser apontado como o principal responsável por deficiências no enfrentamento da pandemia. Mas, com as vacinas, foi diferente. E isso impactou a popularidade dele.
Já Lula, desde que recuperou os direitos políticos por decisão do ministro do STF Edson Fachin, vem criticando Bolsonaro justamente pelos problemas na vacinação. E, ao contrário de Bolsonaro, que desacreditou por várias vezes a eficácia das vacinas, o petista faz propaganda positiva da imunização. No sábado passado (14), por exemplo, Lula transmitiu ao vivo o momento em que foi vacinado em suas redes sociais.
Além disso, o petista já aparece isolado em segundo nas pesquisas de primeiro turno e até mesmo em situação de empate técnico com Bolsonaro para o segundo turno.
Como foi a trajetória de Pazuello como ministro da Saúde
O general Eduardo Pazuello assumiu o cargo de ministro interino da Saúde em 16 de maio do ano passado, após a saída de Nelson Teich – que, por sua vez, havia ficado apenas um mês no cargo depois que Bolsonaro demitiu Luiz Henrique Mandetta. Pazuello acabou sendo efetivado no cargo em junho.
Quando nomeou Pazuello, Bolsonaro havia argumentado que tinha escolhido o general porque ele era um "especialista em logística". Pazuello havia coordenado as ações para receber em Roraima imigrantes venezuelanos que fugiam da ditadura de Nicolás Maduro. O desempenho dele, considerado um sucesso, chamou a atenção de Bolsonaro.
Mas Pazuello acumulou resultados negativos como ministro. Não conseguiu conter uma segunda onda da Covid-19 ainda mais grave que a primeira, com recordes de mortes e o sistema de saúde do país à beira de um colapso. Para 2021, por exemplo, o ministério cortou previsão de verba para o financiamento de UTIs. Secretários estaduais de Saúde apontaram um problema de planejamento da pasta, levantando a suspeita de que o governo federal acreditava que neste ano a pandemia estaria contida.
Além disso, Pazuello é investigado por ter sido negligente no caos sanitário enfrentado recentemente em Manaus (AM), quando faltou até mesmo oxigênio para atender os pacientes.
Pazuello também não conseguiu antecipar a compra de vacinas – o que se reflete atualmente no ritmo lento de vacinação. Ele também perdeu credibilidade ao anunciar cronogramas de vacinação com números inflados de doses – que acabavam não se realizando.
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