O deputado federal e pastor Marco Feliciano (Podemos-SP) convocou seus seguidores para um ato de "sete minutos de oração pelo Brasil" na última quarta-feira (22). A prece foi transmitida ao vivo e contou com 168 mil visualizações apenas no Facebook.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi o principal destinatário da oração: o deputado-pastor pediu proteção ao chefe do Executivo, disse que Bolsonaro "firmou um pacto com mais de 57 milhões de brasileiros" e que ele tem sofrido pressões "como presidente e como pai".
Na fala, Feliciano pediu: "nós podemos proteger o presidente, o governo e aquelas pessoas que amam nosso país. Vamos orar pelos ministros, vamos orar pelos deputados federais, pelos senadores, pelos governadores, pelos prefeitos e vereadores, e por todos que sonham com o país melhor".
O ato de fé não foi o único esforço recente de Feliciano em prol do governo Bolsonaro. No campo terreno, o deputado também tem se movimentado bastante. Ele fez uma enfática defesa das manifestações pró-Bolsonaro convocadas para o próximo domingo (26).
"Ficaram todos loucos ou com amnésia seletiva? Desde quando protestar é flertar com a ditadura? Protestar é o direito mais elementar de uma democracia, instrumento legítimo de pressão popular sobre os representantes eleitos!", escreveu em seu perfil no Twitter na terça-feira (21).
A mensagem tinha como destinatários setores direitistas, como o Movimento Brasil Livre e a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP), que estavam criticando a agenda dos protestos.
O deputado acrescentou que "mídia e os suspeitos de sempre" estariam empenhados em desqualificar as manifestações, e provocou: "quem tem medo do povo nas ruas?".
Além disso, o deputado tem se esforçado para fazer com que as pautas do Executivo tenham melhor trânsito no Congresso Nacional.
Vice-líder do governo
Feliciano é um dos vice-líderes do governo no Congresso. Ele exerce influência natural sobre os parlamentares da atual legislatura. O que se explica por dois fatores, como o próprio Feliciano reconheceu em entrevista à Gazeta do Povo: o aumento do número de deputados evangélicos e a relação pessoal que ele tem com o presidente Bolsonaro. "Hoje, um quinto dos deputados é evangélico. É um número expressivo. E são deputados com quem, naturalmente, tenho uma grande articulação", disse.
O total de parlamentares evangélicos cresce, de fato, a cada legislatura. Em outubro foram eleitos 84 deputados identificados com a fé evangélica, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). É menos do que o "um quinto" citado por Feliciano – mas a conta do parlamentar pode considerar congressistas que, mesmo não sendo evangélicos, aderem a pautas conservadoras, como o combate ao aborto e a legalização das drogas, entre outras.
Em tempos em que o governo registra derrotas dentro do Legislativo e precisa aprovar uma difícil reforma da Previdência, a atuação de Feliciano pode ser imprescindível.
"Ele tem luz própria"
Colega de partido, o deputado José Medeiros (Podemos-MT) define Feliciano como "um cara de luz própria". Medeiros explica o raciocínio apontando o pastor como um parlamentar que chegou ao Congresso respaldado por uma trajetória pessoal, e não por uma escalada política.
"Há os que são vereadores, depois prefeitos de cidades pequenas, e aí se tornam deputados. O Feliciano não é um desses. Ele chegou aqui com um histórico como pastor, e isso faz diferença aqui dentro, dá forças para ele se posicionar", afirmou.
Um deputado da bancada evangélica também destacou o status "superior" de Feliciano – principalmente pela amizade que o deputado tem com Bolsonaro, que o incluiu na recente viagem aos EUA. "Ele realmente está em outro nível", brincou.
Apoio à Previdência
A popularidade de Feliciano pode ser essencial para que o governo angarie mais apoio para a reforma da Previdência. Por ser, além de político, um religioso, o deputado tem um trânsito adicional com diferentes segmentos da população. Hoje, 44% dos evangélicos são a favor da reforma da Previdência e 45%, contrários, de acordo com levantamento feito pelo Datafolha em abril. Os números são menos negativos do que os da população em geral (onde a reprovação é de 51%), mas ainda assim indicam um terreno a ser explorado.
O deputado federal Roberto de Lucena (Podemos-SP), também membro da bancada evangélica, disse que os líderes religiosos "têm papel importante" no convencimento popular em relação ao tema. "Como as lideranças têm uma interlocução especial com o povo e são muito ouvidos, têm papel importante", declarou. Lucena criticou a atuação do governo no caso – segundo o deputado, o Executivo tem falhado na sua comunicação com a população sobre o assunto. O parlamentar também destacou que Feliciano pode contribuir para a interlocução.
Para reforçar a condição de articulador-chave, entretanto, Feliciano precisava resolver um problema que sanou nesta semana: a briga com o núcleo militar do governo. Quando se instalou a disputa pelo poder entre "olavistas" e militares, o deputado visitou o filósofo Olavo de Carvalho nos Estados Unidos. Defendeu publicamente o guru do governo Bolsonaro e, assim como outros "olavistas", elegeu como inimigos o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz, ambos generais da reserva.
Mourão foi alvo de um inusitado pedido de impeachment. "Nós não queremos dividir o país. Que isso seja apenas um recado. Não é um tiro para matar, é um tiro para o alto, é um tiro de alerta: 'alguém o está observando, Sr. Hamilton Mourão!'", falou Feliciano no plenário da Câmara, em 16 de abril.
Segundo o deputado, o motivo da bronca foram decisões e, principalmente, declarações do vice-presidente, como a de que o aborto deve ser uma escolha da mulher e que a embaixada do Brasil em Israel deveria ser mantida em Tel-Aviv. Os mesmos assuntos, aliás, foram mencionados na oração de Feliciano da última quarta-feira.
Já Santos Cruz foi detonado pelo deputado por conta da controversa propaganda do Banco do Brasil, que foi veiculada e depois retirada do ar por ordem do presidente Bolsonaro. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Feliciano disse que o anúncio indicou que "o Santos Cruz não sabe a ideologia do nosso presidente". A propaganda em questão mostrava jovens, entre eles uma atriz trans, e foi criticada por ter "muita juventude descolada", nas palavras do presidente do banco, Rubem Novaes.
O clima bélico, porém, parece ter chegado ao fim. Feliciano e Santos Cruz integraram a comitiva de Bolsonaro na recente viagem a Dallas (EUA). Dias depois, na última terça-feira (21), ambos se reuniram na Secretaria de Governo. Do encontro resultou uma foto de tom alegre e declarações de viés positivo: segundo o deputado, os dois "fumaram o cachimbo da paz".
Mais bastidores, menos holofotes
A disputa com os militares foi um dos raros momentos de exposição que Feliciano teve em 2019. Em seu terceiro mandato, o deputado está adotando uma atitude mais discreta. Parte disso pode ser explicado pelo fato de se ter um Congresso mais conservador e Bolsonaro na Presidência da República. Com menos antagonistas, Feliciano se vê menos estimulado a se posicionar publicamente e criar polêmicas.
Cenário bem distinto do que Feliciano viveu em 2013, quando, subitamente, passou de um parlamentar desconhecido a um dos nomes mais comentados do Congresso Nacional. A transformação ocorreu após ele ser eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. O colegiado era historicamente presidido por parlamentares de esquerda. A chegada de Feliciano modificou o perfil da comissão e motivou uma série de manifestações públicas contra sua atuação – o bordão "Não me representa" era um dos mais entoados à época.
Apesar da controvérsia – ou mesmo por conta dela –, o capital eleitoral de Feliciano cresceu na ocasião. Ele saltou de 211.855 votos na eleição para deputado federal em 2010 para 398.087 em 2014, sendo o terceiro colocado para o cargo em São Paulo.
O crescimento estimulou Feliciano a almejar voos mais altos. Em 2016, ele foi lançado pelo seu partido à época, o PSC, como pré-candidato a prefeito de São Paulo, mas o projeto não se consolidou. Já em 2018 a candidatura a deputado federal foi a terceira opção – seu nome foi ventilado para o Senado e até mesmo para a vice-presidência na chapa de Alvaro Dias. Feliciano acabou concorrendo à Câmara e foi reeleito, mas com cerca de 150 mil votos a menos do que obtivera em 2014.
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