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Ato na escadaria da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) marca um ano da morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Vereador do PSOL Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram alvejados por tiros de metralhadora.| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A vereadora Marielle Franco (Psol) e seu motorista Anderson Gomes foram mortos em março de 2018. O carro em que estavam foi alvo de tiros, vindos de outro veículo, no centro do Rio de Janeiro. Outra passageira que estava junto com a vereadora sobreviveu ao ataque. O crime gerou comoção e, desde então, a investigação do caso está sendo feita pela Polícia Civil.

Nesta semana, a divulgação de que Jair Bolsonaro (PSL) foi citado em um depoimento por um porteiro do condomínio em que tem casa no Rio de Janeiro traz a possibilidade de o caso ser levado para o Supremo Tribunal Federal (STF) pela simples menção ao presidente.

Relembre os principais pontos do caso e veja o que já se sabe sobre até agora sobre a morte da vereadora

O assassinato

A vereadora Marielle Franco (Psol) e o motorista Anderson Gomes foram mortos no dia 14 de março de 2018. Ela havia participado de um debate promovido pelo Psol com jovens negras na Casa das Pretas, na Lapa. Por volta das 21h, quando ela, o motorista e uma assessora deixaram o local, outro veículo passou a seguir o carro em que o grupo estava. Perto das 21h30, esse veículo, um Cobalt, emparelha com o carro da vereadora e efetua ao menos 13 disparos. Marielle foi atingida por quatro tiros na cabeça e Anderson, por três tiros nas costas. O crime ocorreu menos de um mês após ser decretada a intervenção federal no Rio de Janeiro.

a vereadora Marielle Franco
Vereadora Marielle Franco foi assassinada em março de 2018.| Renan Olaz/AFP
A investigação

A Polícia Civil do Rio de Janeiro é responsável pela investigação do crime desde o princípio do caso, apesar da intervenção federal. A hipótese mais plausível que norteou os trabalhos foi de que a atuação política de Marielle seria o principal motivo para o crime. Vereadora, ela era moradora da favela da Maré e tinha atuado junto ao deputado Marcelo Freixo, também do Psol, na CPI que investigou as milícias no Rio de Janeiro. Em dezembro de 2018, o secretário de Segurança do Rio, general Richard Nunes, afirmou que a morte foi provocada por Marielle supostamente ameaçar a grilagem de terras da milícia. A arma usada para assassinar Marielle e Anderson era uma submetralhadora de uso restrito no Brasil, e cinco unidades deste modelo sumiram do arsenal da Polícia Civil, fato identificado em um recadastramento em 2011. As balas eram de um lote que foi vendido à Polícia Federal em 2006 e também estava ligado a outros crimes

Os acusados

Dois dias antes de o crime completar um ano, a operação Lume, ação conjunta entre a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro, prendeu dois acusados de participação na morte de Marielle e Anderson. Isso aconteceu no dia 12 de março de 2019. Os dois são ex-policiais militares: Ronnie Lessa foi apontado como o autor dos disparos e Élcio Vieira de Queiroz seria o motorista do carro usado no crime. Lessa, que é PM reformado, mora no condomínio Vivendas da Barra, o mesmo no qual o presidente Jair Bolsonaro tem casa e também onde mora seu filho Carlos. Já Queiroz foi expulso da corporação. OS dois foram denunciados por homicídio qualificado de Anderson e Marielle, e pela tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora da vereadora que também estava no carro e sobreviveu aos disparos. Nem o MP nem a Polícia civil nunca mencionaram quem seriam os mandantes do crime.

Ronnie Lessa e Elcio Queiroz, acusados pelo assassinato de Marielle Franco.
Ronnie Lessa e Elcio Queiroz, acusados pelo assassinato de Marielle Franco.| Reprodução/TV Globo
O autor e a obstrução

Em setembro de 2018, Raquel Dodge, então procuradora-geral da República, denunciou cinco pessoas, acusadas de tentarem interferir no processo de investigação. Posteriormente, a PGR determinou que a Polícia Federal fizesse uma “investigação da investigação” por causa disso. Entre os denunciados, estava o conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, Domingos Brazão, que foi apontado como o autor intelectual do crime. Naquela época, não estava clara qual a relação do conselheiro com os acusados de executar o crime, nem qual a motivação dele para arquitetar o crime. Ele teria, no entanto, agido para desviar o foco das investigações de si e direcioná-los para o miliciano Orlando Oliveira Araújo (Orlando de Curicica) e o vereador Marcelo Moraes Siciliano. Em outubro de 2019, a PGR enviou uma denúncia ao Superior Tribunal de Justiça acusando Brazão de ser o mandante do crime.

A ligação com Bolsonaro

Um porteiro do condomínio Vivendas da Barra afirmou, em depoimento à Polícia Civil, que o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, o motorista do veículo que perseguiu Marielle, foi ao local e indicou que iria à casa 58, que pertence a Jair Bolsonaro. Na realidade, ele foi à casa 65, que é de Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos. O porteiro disse que interfonou para a casa de Bolsonaro e falou com um homem com a voz do presidente. Naquele dia, Bolsonaro estava em Brasília, o que é comprovado pelo registro de presença na Câmara dos Deputados e também por vídeos que ele divulgou em duas redes sociais. O caso foi revelado pelo Jornal Nacional. A procuradora Simone Sibilio, chefe do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio, disse que o porteiro mentiu neste depoimento e que as provas técnicas coletadas indicam que foi Lessa quem autorizou a entrada de Queiroz. A simples citação ao presidente poderia levar a investigação do caso para o Supremo Tribunal Federal (STF), já que Bolsonaro tem foro privilegiado.

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