A Polícia Federal concluiu que houve tentativa de atrapalhar as investigações dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes. O relatório com os resultados da investigação foi enviado a Raquel Dodge, procuradora-geral da República.
A PF entrou no caso em novembro do ano passado, quando começou uma "investigação da investigação", paralela, para verificar denúncias de irregularidades no trabalho estadual. Quem está apurando a autoria e motivação do crime em si é a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio.
Com 600 páginas, o documento concluído pela PF aponta que os responsáveis pela obstrução foram o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, e sua advogada, Camila Nogueira. O agente teria dado um depoimento falso para dificultar a solução do caso.
Ele procurou a polícia menos de um mês após o crime, em maio do ano passado, acusando o miliciano e ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, de ter planejado a morte da política junto com o vereador Marcello Siciliano.
Ferreira contou aos policiais ter ouvido uma conversa, num restaurante em 2017, em que os dois diziam que "precisavam resolver" um problema com Marielle e o deputado Marcelo Freixo (PSOL). Essa foi durante meses uma das principais linhas de investigação da Polícia Civil, mas ambos sempre negaram envolvimento.
O policial militar é ex-segurança de Orlando e pediu proteção ao procurar a polícia, alegando ter sido ameaçado de morte pelo miliciano. Depois, porém, a Polícia Federal descobriu que Ferreira poderia ter algum tipo de interesse em prejudicá-lo: três meses depois de fazer a delação, o PM assumiu o controle de um complexo esportivo na zona oeste do Rio que antes era dominado por Orlando.
Nessa época, a PF cumpriu oito mandados de busca e apreensão ligados ao caso. Os alvos incluíram as casas de Ferreira e de sua advogada; de um delegado federal que levou o PM até os investigadores, Hélio Khristian; do conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão; e de mais um ex-policial civil e um ex-policial federal.
A advogada de Ferreira, Camila Nogueira, disse à Polícia Federal na ocasião que desconfiava da versão de seu cliente e que se sentiu usada, conforme depoimento divulgado pela TV Globo em março. Ela afirmou que a suposta "manobra" de Ferreira poderia ter ocorrido por ordem de outra pessoa, já que ele "não teria capacidade para tanto".
Segundo o jornal O Globo, além de Ferreira e Nogueira, o inquérito concluído agora pela PF também cita dois advogados que atuaram na defesa de Orlando da Curicica como suspeitos de tentar obstruir as investigações. Haveria, inclusive, uma conexão entre eles e um policial da Delegacia de Homicídios, que investiga o caso Marielle.
Eles teriam tentado obter uma delação do miliciano, preso desde 2017 em Mossoró (RN), a mando da contravenção. O motivo seria o medo de as apurações do assassinato trazerem à tona outros crimes cometidos por um grupo de matadores de aluguel apelidado de Escritório do Crime, formado por PMs da ativa e ex-policiais.
A entrada da Polícia Federal no caso aconteceu justamente depois que Orlando acusou a Polícia Civil do Rio de coagi-lo a assumir a morte da vereadora e de ser paga para proteger matadores de aluguel. Ele havia dito que policiais da Delegacia de Homicídios recebiam mesadas para não elucidar assassinatos cometidos por esse grupo.
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