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O advogado Cezar Bitencourt, que defende o tenente-coronel Mauro Cid, afirmou nesta sexta (18) que a confissão que vai propor ao Supremo Tribunal Federal (STF) na semana que vem será um “esclarecimento” sobre as circunstâncias da venda de um relógio de luxo nos Estados Unidos, recebido de pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) do governo da Arábia Saudita. O objeto é alvo de investigações da Polícia Federal em um inquérito que apura o desvio de presentes oficiais da União.
A declaração foi dada no começo da tarde desta sexta (18) pouco depois do jornal O Estado de São Paulo publicar uma reportagem em que Bitencourt muda a versão de uma entrevista à revista Veja na quinta (17), de que Mauro Cid iria explicar como era sua atuação no esquema de desvio das joias a mando de Bolsonaro. O advogado chegou a confirmar a confissão à GloboNews e à Folha de São Paulo, e foi procurado pela Gazeta do Povo para explicar mais detalhes.
Segundo o Estadão, Bitencourt enviou uma mensagem à reportagem durante a madrugada dizendo que “não tem nada a ver com joias”, e que a apuração da Veja teria falhado. De acordo com o advogado, pode ter havido um “equívoco” no entendimento da declaração.
“Não tem nada a ver com joias, o Mauro não trabalhou com essa hipótese. Não foi isso que se comentou. Eu tenho apenas o relógio”, disse em entrevista à GloboNews nesta tarde ressaltando que “relógio é uma joia, evidentemente”.
A mudança de versão, no entanto, ocorreu após dois advogados que representam Bolsonaro entrarem em contato com ele após a publicação da revista. O primeiro ele não soube dizem quem era, e o segundo foi Paulo Cunha Bueno, já na madrugada desta sexta (18).
Bitencourt negou que tenha sofrido alguma pressão, e disse que mudou a versão de uma “confissão” para um “esclarecimento” sobre “apenas o relógio”, após ter feito uma “reflexão” para “verificar até onde se pode ir”.
“Eu falei com ele [Bueno] na madrugada. Ele me ligou. E não tem nenhum problema, não sei qual é a diferença. É um grande profissional com referências que me foram dadas por outro grande profissional. Qual é o problema? Não tenho censura não. Se eu quero falar, eu falo, não tem problema nenhum. Não preciso esconder e nem revelar", afirmou Bittencourt.
A conversa, diz, durou um minuto em que o advogado disse que estava indo a Brasília fazer a defesa do ex-presidente e que gostaria de encontrá-lo. Bitencourt negou que a ligação da defesa de Bolsonaro o tenha intimidado para mudar a versão dada inicialmente.
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Cid foi “resolver esse problema” do Rolex
O relógio a que Cézar Bitencourt se refere é um Rolex que teria sido vendido pelo pai de Cid, o general Lourena Cid, a uma joalheria nos EUA junto com outro relógio da marca Phillipe Patek, ambos por US$ 68 mil. O Rolex, segundo apuração da PF, foi recomprado pelo advogado Frederick Wassef para ser devolvido ao governo brasileiro por ordem do Tribunal de Contas da União (TCU), em abril.
Bitencourt também negou a informação dada inicialmente de que Mauro Cid iria indicar expressamente que agiu a mando de Bolsonaro nas transações com as joias. De acordo com ele, o tenente-coronel disse que “quando teve o problema que surgiu [da ordem do TCU], do relógio, [Bolsonaro] disse ‘olha, resolve esse problema aí do Rolex’. Para bom entendedor, meia palavra basta, o Cid foi atrás resolver”.
“Tentou vender, as condições não eram boas, embora tenha conseguido realizar, e depois deu um problema. E ele [Bolsonaro] disse: ‘vai atrás do Rolex, vai por conta, vai buscar esse Rolex’, porque ele tinha feito a venda e tinha que trazer de volta. Essas são as circunstâncias que o Cid está admitindo”, completou Cezar Bitencourt.
O advogado confirmou que uma parte do dinheiro da venda do Rolex foi depositada na conta do pai de Cid, mas apenas por não ter como trazer o montante todo em dinheiro em espécie ao Brasil. Bitencourt ressaltou que Lourena Cid não tem nenhum envolvimento neste caso específico do Rolex.
Ele disse que, depois, Mauro Cid trouxe US$ 35 mil em espécie para o Brasil e entregou a Bolsonaro ou a ex-primeira-dama, mas não soube detalhar exatamente a quem e nem em quais circunstâncias -- pode ter sido no bolso ou em uma carteira, disse Bitencourt.
“Pelo que eu sei, [o dono] era o presidente. Isso não quer dizer que [Cid] tenha entregue [o dinheiro] direto para o presidente, pode ter sido para a primeira-dama”, afirmou,
A apuração apontava, até então, que Cid apontaria que Bolsonaro tinha conhecimento das irregularidades envolvidas. A defesa do ex-presidente sempre negou desvios de bens públicos e afirmou ter devolvido voluntariamente alguns itens, mesmo aqueles considerados “personalíssimos”.
Cid era um “assessor” que cumpria ordens
Ainda na entrevista, Cezar Bitencourt reafirmou que Cid vai alegar que, devido à sua posição militar, um “assessor”, apenas cumpria ordens superiores – ele era subordinado a Bolsonaro na função de ajudante de ordens.
Na última quarta (16), Bitencourt disse que uma das estratégias adotadas para defender Cid seria de que ele apenas cumpria ordens por conta da sua formação militar, e que estava sendo duplamente injustiçado pela prisão em uma cela com restrições no Batalhão da Polícia do Exército, em Brasília.
Bolsonaro rebateu as afirmações, na manhã desta sexta (18), e disse que Mauro Cid “tinha autonomia” nas suas funções e que quer “clarear o mais rápido possível” o caso das joias. Ele e a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, tiveram os sigilos bancário e fiscal quebrados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Polícia Federal.
“Desde quando assessor tem autonomia pra fazer coisa que o chefe não quer, não autoriza, não permite? Não tem. Quem é assessor, assessora. Quem assessora cumpre determinações, tem o limite de realização”, disse Cezar Bitencourt ressaltando que só teve uma versão genérica com Mauro Cid sobre a confissão.
Bitencourt afirmou, ainda, que Cid fazia compras para a ex-primeira-dama, e que ele cuidava de uma conta que poderia pertencer a ela, que não deixou claro na explicação.