O tenente-coronel Mauro Cid será ouvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira (22) após um áudio atribuído a ele apontar críticas à Polícia Federal e ao ministro Alexandre de Moraes por conta do avanço das investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e militares a partir do acordo de delação premiada.
Cid será ouvido às 13h pelo desembargador Airton Vieira, o juiz instrutor designado por Moraes para a sessão que, segundo confirmou o STF à Gazeta do Povo, terá também a presença da defesa dele e de um representante da Procuradoria-Geral da República (PGR). O advogado Cezar Bittencourt, que defende o tenente-coronel, foi procurado pela reportagem e ainda não se pronunciou.
O STF vai cobrar de Cid explicações pelas críticas atribuídas a ele no áudio divulgado na noite de quinta (21) pela revista Veja em que aponta uma certa insatisfação com a condução das investigações dos casos apurados a partir da delação premiada que firmou com a Polícia Federal no ano passado. O tenente-coronel supostamente afirma que foi pressionado para o acordo, e que os investigadores “não queriam saber a verdade”.
“Eles queriam só que eu confirmasse a narrativa dele. É isso que eles queriam, e toda vez eles falavam ‘olha, a sua colaboração tá muito boa’. Ele até falou, ‘vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa’, e mais um termo lá. Ele disse assim: ‘só essa brincadeira vai ser trinta anos pra você”, relatou o tenente-coronel em um dos áudios.
A reportagem da Veja apurou que os áudios foram gravados na semana passada após Cid prestar depoimento à PF no último dia 11. Ele ainda criticou a condução do processo no STF, afirmando que Moraes “é a lei” que prende e solta quando e como quiser. “Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, completou.
Ao site G1 ainda na noite de quinta (21), Cezar Bittencourt afirmou que a fala do tenente-coronel foi um “desabafo” e que “em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador. Aliás, seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios”.
A divulgação do áudio gerou uma reação imediata durante a madrugada, com um dos integrantes da defesa do ex-presidente, Fabio Wajngarten, afirmando que Cid poderia estar fazendo um “potencial jogo duplo”, e que apenas a divulgação do conteúdo da delação poderia esclarecer o que ele realmente disse.
“O levantamento do sigilo das gravações dos depoimentos dele, na íntegra, poderá dirimir potenciais dúvidas e dará a transparência necessária para a elucidação de parte dos fatos”, afirmou Wajngarten emendando que a defesa deve tomar providências ao longo do dia.
Além de Wajngarten, o ex-deputado e ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol (Novo) afirmou que a crítica de Cid “destrói a credibilidade da sua delação e do trabalho da PF e do STF no caso contra Bolsonaro”.
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