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O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), afirmou que a Polícia Federal tem uma “narrativa pronta” nas investigações contra o ex-presidente. Os áudios atribuídos a Cid foram divulgados nesta quinta-feira (21) pela revista Veja. O militar disse que os investigadores "não queriam saber a verdade".
Nas gravações, ele também critica o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator de investigações envolvendo ele e Bolsonaro, como a suposta tentativa de golpe, a venda de joias do acervo presidencial e a falsificação de registros de vacina contra Covid-19.
“Eles já estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa dele. É isso que eles queriam, e toda vez eles falavam ‘olha, a sua colaboração tá muito boa’. Ele até falou, ‘vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa’, e mais um termo lá. Ele disse assim: ‘só essa brincadeira vai ser trinta anos pra você”, relatou o tenente-coronel.
Segundo a Veja, os áudios foram gravados na semana passada após Cid prestar depoimento à PF no último dia 11. O militar foi preso em maio do ano passado durante a Operação Venire, que apurou supostas fraudes em cartões de vacina. Ele foi solto em setembro, depois de fechar um acordo de delação premiada, homologado por Moraes.
A colaboração de Cid foi utilizada pela PF para embasar mandados de prisão e de busca e apreensão na Operação Tempus Veritatis, que investiga uma suposta trama golpista. Além disso, os relatos do ex-ajudante de ordens foram considerados na decisão da PF de indiciar Bolsonaro e outras 16 pessoas no caso dos certificados de vacinas.
No depoimento mais recente, Cid teria detalhado reuniões em que Bolsonaro supostamente pressionou os ex-comandantes das Forças Armadas a participarem de um golpe de Estado. Nos áudios divulgados pela Veja, Cid afirmou que Moraes já tem a “sentença pronta” e só está esperando o momento certo para prender “todo mundo”.
“O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, disse. O militar relatou durante a conversa com um interlocutor sua insatisfação com os desdobramentos das investigações.
“Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né? O presidente teve Pix de milhões, ficou milionário, né?”, afirmou o tenente-coronel.
Ele apontou ainda que, se não colaborar, vai “pegar trinta, quarenta anos”, por ser alvo de vários inquéritos. “Vai entrar todo mundo em tudo. Vai somar as penas lá, vai dar mais de 100 anos para todo mundo. Entendeu? A cama está toda armada. E vou dizer: os bagrinhos estão pegando 17 anos. Teoricamente, os mais altos vão pegar quantos?”, questionou.