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Na CPI

Mayra diz que cloroquina não cura Covid-19, mas pede fim de “ideologia” contra tratamento

A secretária Mayra Pinheiro
Secretária no Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro acredita que estudos que contestam a eficiência da cloroquina usaram critérios metodológicos inadequados. (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad)

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A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, afirmou em depoimento nesta terça-feira (25) à CPI da Covid do Senado que "nunca disse" que a cloroquina e os outros medicamentos utilizados no chamado tratamento precoce proporcionam a cura para o coronavírus. Os efeitos da substância, segundo a médica, são de reduzir os impactos negativos causados pela Covid-19 no organismo e, assim, contribuir para a redução no número de internações de pessoas acometidas pela doença.

A médica declarou que existe um "policiamento ideológico" em torno do tratamento precoce e isso, na avaliação dela, inibe a disseminação da prática em mais localidades. Para Mayra, a adoção do tratamento precoce poderia representar a redução do número de mortes causadas pela pandemia de coronavírus no Brasil, que atualmente beira os 450 mil óbitos.

Mayra Pinheiro é uma conhecida defensora da cloroquina, medicamento que não tem eficiência comprovada contra a Covid-19. Ela foi chamada à CPI para falar sobre seu posicionamento a favor do tratamento precoce e também pela sua atuação no Ministério da Saúde, que ela integra desde o começo da gestão do presidente Jair Bolsonaro.

A secretária também falou que estudos que contestam a eficiência da cloroquina e de outros medicamentos "usaram critérios metodológicos inadequados" e que isso ajudou o processo de estigmatização da medicação. Neste sentido, sua fala foi endossada pelo senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), que integra a base do governo Bolsonaro, e disse que a revista científica The Lancet publicou um "estudo fraudulento" que tiraria a credibilidade do tratamento precoce.

Ela foi também questionada pelo seu desempenho durante a crise registrada no início do ano no Amazonas, quando mais de 2 mil pessoas morreram por conta do coronavírus, em um episódio marcado pela crise de desabastecimento de oxigênio.

Mayra disse ter tomado conhecimento da crise em Manaus no dia 8 de janeiro, após a empresa White Martins ter informado a Secretaria de Saúde do Amazonas sobre o problema. A fala contradiz o afirmado na comissão pelo ex-ministro Eduardo Pazuello, que relatou ter sido informado do problema no dia 10.

Senadores contestam Mayra por defesa de tratamento precoce

A defesa do tratamento precoce feita por Mayra foi contestada por outros senadores. Alessandro Vieira (Cidadania-SE) recordou que a adoção maciça do tratamento precoce não é feita em nenhum país, e ironizou a secretária, ao questioná-la se apenas ela estaria correta, e os outros líderes mundiais estariam errados.

Na mesma linha, o senador Otto Alencar (PSD-BA), que é médico, questionou Mayra pelo fato de a Covid-19 ser uma doença de origem viral, assim como é, por exemplo, o sarampo, e os males de cunho viral são habitualmente combatidos com vacinas, e não com medicamentos. Ele e o senador Eduardo Braga (MDB-AM) recordaram que a cloroquina é um medicamento conhecido no tratamento da malária e no combate a protozoários, e não vírus.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que é vice-presidente da comissão, perguntou à secretária a opinião dela sobre a postura de alguém que diria não precisar tomar vacina contra a Covid-19 por já ter contraído o vírus. Após a médica dizer que discordava da frase, o parlamentar relatou que a sentença fora dita pelo presidente Jair Bolsonaro. O senador Rogério Carvalho (PT-SE) também contrastou declarações da médica com posturas de Bolsonaro — como a defesa do uso de máscaras e o combate a aglomerações — e a questionou por ainda estar no governo.

Brasil ainda vai exportar vacinas, diz líder do governo

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse em sua fala que o Brasil já negociou a compra de 660 milhões de doses de vacina e que acredita que o país exportará, até o fim do ano, imunizantes a países mais pobres.

Sobre as negociações para a compra de vacinas, o parlamentar declarou: "pode ter havido atraso, mas não houve dolo". A negociação para a compra de vacinas é um dos assuntos mais discutidos pela CPI até o momento. Membros da oposição acusam o governo de ter sido lento ou mesmo de ter, de forma intencional, retardado a aquisição de imunizantes, sob o pretexto de implantar no Brasil a chamada "imunidade de rebanho".

Outro senador alinhado com o governo, Eduardo Girão (Podemos-CE), disse reconhecer que o presidente Bolsonaro "não age como um líder" durante a pandemia. Ele declarou ser contrário a falas do chefe do Executivo sobre temas como o uso de máscaras e as aglomerações. Mas em relação ao tratamento precoce, Girão declarou que identifica uma reação desproporcional à ideia — o que, segundo ele, é causado apenas porque Bolsonaro se colocou em defesa da medida.

A CPI foi encerrada na tarde desta terça por volta de 17h30, quando mais de 10 senadores ainda estavam inscritos para falar. A conclusão se deu pelo início da ordem do dia do Senado, como já tem sido recorrente no dia a dia da comissão.

Votação de requerimentos

Nesta quarta-feira (26), a CPI se reúne não para receber uma testemunha, mas sim para votar requerimentos dos parlamentares. A lista é grande: são mais de 400 requerimentos que aguardam apreciação.

A sessão deve ter ainda debates acalorados porque colocará em votação a convocação de personagens cuja presença não é unânime entre os parlamentares. Serão discutidas as chamadas, por exemplo, dos governadores Rui Costa (PT-BA), Wilson Lima (PSC-AM) e Ibaneis Rocha (MDB-DF), entre outros.

A presença dos governadores é desejada pelos parlamentares bolsonaristas, que identificam que a CPI deveria investigar mais falhas supostamente cometidas pelos gestores estaduais e municipais.

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