A médica Mayra Pinheiro se tornou um dos nomes mais conhecidos Na defesa da cloroquina e de outros medicamentos para o tratamento precoce da Covid-19. Secretária do Trabalho e da Gestão do Ministério da Saúde desde abril de 2019, ela se formou em Medicina pela Universidade Federal do Ceará e obteve um mestrado pela Universidade de São Paulo (USP). Em 2018, disputou uma vaga ao Senado pelo PSDB, mas acabou derrotada com cerca de 11% dos votos, 882.019 eleitores. Agora, Mayra se prepara para ser ouvida na terça-feira (25) pela CPI da Covid, que pretende questioná-la, dentre outras coisas, sobre seu papel na posição favorável do governo à prescrição da cloroquina.
Em entrevista à Gazeta do Povo, a secretária afirma que a Organização Mundial da Saúde (OMS) se baseou em evidências inadequadas ao se posicionar contra o uso do medicamento, e promete que vai responder a tudo o que for de sua competência. Ela havia pedido um habeas corpus ao STF, mas foi negado pelo ministro Ricardo Lewandowski. Mas ela poderá ficar em silêncio quando o assunto for o desabastecimento de oxigênio hospitalar em Manaus, capital do Amazonas.
A cloroquina funciona?
Mayra Pinheiro: Assim como todos os tratamentos na medicina, sem exceção, essa droga possui graus de eficácia e eficiência que irão variar, segundo as evidências atuais, de acordo com a gravidade da doença, tempo de início do seu uso e medicações associadas. A preocupação dos médicos brasileiros, e sou um deles, é utilizar todos os recursos disponíveis ao nosso alcance, incluindo medidas farmacológicas e não-farmacológicas que possam contribuir para salvar vidas e diminuir a sobrecarga sobre o sistema de saúde. Utilizar um desses recursos como estratégia política e estimular a sua criminalização é negar socorro a população. O nosso inimigo comum é o vírus. Ele não tem partido.
Existem muitos estudos apontando que a cloroquina, especialmente quando combinada com outros medicamentos, tem um efeito positivo no tratamento precoce. Mas também é verdade que existem ainda mais estudos afirmando o contrário – e que a maior parte das autoridades de saúde, como a OMS e o CDC americano (equivalente à Anvisa dos EUA) não recomenda o uso da cloroquina. Onde foi que esses órgãos erraram?
Mayra Pinheiro: Esses órgãos estão errando ao considerar estudos que usaram a droga em tratamento de doentes hospitalizados como referência para julgar sua eficácia no tratamento ambulatorial. Já se sabe que pacientes que necessitam de hospital não se beneficiam tanto dessa intervenção. Mas sabemos também que, quanto mais cedo se inicia o tratamento, melhores as chances de sucesso terapêutico. Esses órgãos também erram ao exigir que essa e outras drogas propostas para o tratamento da Covid-19 só possam ser chanceladas se tiverem o chamado “nível máximo de evidência”, algo que não existe para 90% dos demais tratamentos existentes na medicina e que esses mesmos órgãos aceitam e recomendam, como por exemplo o uso do oseltamivir [Tamiflu] para tratamento de gripe influenza, que tem apenas evidência “C”. Não podemos ter dois pesos e duas medidas. Não podemos exigir que apenas para Covid-19, doença nova, pandêmica e que causa grande impacto a vida social, só sejam aceitos estudos de ouro, enquanto que para as demais doenças se aceitam até mesmo a opinião de especialistas.
A senhora acredita que a oposição à cloroquina é baseada em algum tipo de interesse?
Mayra Pinheiro: Quem tem que responder isso é quem faz oposição a que pessoas se tratem. Elas é que têm que justificar sua posição.
Como a senhora chegou ao cargo no Ministério da Saúde? A senhora teve algum padrinho?
Mayra Pinheiro: O convite partiu do ex-ministro [Luiz Henrique] Mandetta. Não tenho padrinhos, mas pessoas que reconhecem meu trabalho.
Por que pedir um habeas corpus à CPI?
Mayra Pinheiro: Por causa da crescente agressividade com que têm sido tratados os depoentes que comparecem à CPI, inclusive com ameaças de prisão. O habeas corpus também busca garantir minhas prerrogativas legais diante de provocações e hostilidades de inquisidores que ficam insatisfeitos quando não ouvem o que desejam.
A senhora pretende se manter em silêncio na CPI da Covid?
Mayra Pinheiro: A CPI será uma oportunidade de esclarecer a verdade ao povo brasileiro. Meu desejo é responder e esclarecer todas as questões de minha competência.
A senhora esteve em Manaus por duas vezes no mês de janeiro, pouco antes do sistema de saúde do Amazonas entrar em colapso. Qual foi o objetivo das viagens?
Mayra Pinheiro: Não tratei de oxigênio e nem distribuímos kits-covid como é narrado. Falamos e orientamos sobre o tratamento na fase inicial da doença porque essa é a orientação do Ministério da Saúde, pela Nota Informativa número 17, e é uma das estratégias de enfrentamento à doença. A autonomia para prescrever é dos médicos e foi dada pelo CFM. O papel da minha secretaria é a formação de recursos humanos.
De forma geral, como a senhora avalia o desempenho do governo no combate à pandemia?
Mayra Pinheiro: Acredito que foram feitos esforços nunca vistos antes neste país para o enfrentamento de uma pandemia com graves repercussões sociais.
O apelido de "Capitã Cloroquina", que parte dos críticos criou para a senhora, incomoda?
Mayra Pinheiro: Acho que usam o termo de forma pejorativa, e por isso entendo que devo ser respeitada como uma profissional médica e chamada pelo meu nome. Não sou oficial militar.
O que houve com a Nota Informativa n.º 17, que orientava o tratamento da cloroquina, mas saiu do ar?
Mayra Pinheiro: A nota está sendo revisada para ser encaminhada a Conitec [a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, que decide sobre a inclusão de novos medicamentos pelo Sistema Único de Saúde].
A senhora fraudou o currículo para incluir um artigo que não é de sua autoria?
Mayra Pinheiro: Esse fato aconteceu em 2005. Para realizar inscrição em uma seleção para professor da Universidade de Fortaleza, era preciso atualizar o currículo Lattes. Devido ao tempo reduzido, solicitei ajuda com essa finalidade a um secretário da Sociedade Cearense de Pediatria. Ele se equivocou na digitação de um artigo e, ao invés de citar o artigo no qual fui incluída como pesquisadora, digitou por engano a citação de outro artigo constante na mesma revista. Levei a comprovação para a instituição suscitando a seguinte pergunta: com que interesse alguém deixaria de citar algo em que consta oficialmente seu nome para citar outro de mesmo valor? E recorri à Justiça para deixar claro o erro e não a disposição de fraude. Infelizmente, pessoas com intensa militância ideológica na Universidade de Fortaleza e que também fazem parte do grupo autodenominado “Médicos pela Democracia” utilizaram esse fato para tentar suscitar dúvidas sobre minha idoneidade. Esse mesmo grupo no meu estado faz oposição ao tratamento na fase inicial da Covid e ataca o presidente do Conselho Federal de Medicina pela posição de respeito a autonomia médica. Agem tentando interditar quem pensa diferente das suas orientações político-ideológicas.
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