Candidatura de Simone Tebet à presidência do Senado pode frustrar planos do MDB na Câmara.| Foto: Roberto Castello/Ascom
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O MDB está sorrindo à toa com o lançamento da candidatura da senadora Simone Tebet (MS) à presidência do Senado. O partido também tem candidato na Câmara, o deputado Baleia Rossi (SP). Mas a vitória nas duas Casas pode ser uma missão difícil. Não porque Tebet e Baleia não tenham força política o suficiente. Mas, sim, porque uma candidatura emedebista pode tirar votos da outra.

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Tal paradoxo político se deve ao fato de que, com a candidatura de Tebet, o MDB deixa de apoiar a candidatura do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Deputados do DEM na Câmara ouvidos pela Gazeta do Povo afirmam que, em troca do apoio do partido à candidatura de Baleia Rossi, o MDB apoiaria o DEM no Senado. “No momento em que eles [emedebistas] não mais nos apoiarão no Senado, não temos mais compromisso nenhum com o Baleia na Câmara”, explica um parlamentar.

Na Câmara, o bloco de Rossi é apoiado pelo DEM e outras 10 legendas: MDB, PT, PSL, PSDB, PSB, PDT, PCdoB, Cidadania, PV e Rede. O adversário do emedebista, Arthur Lira (PP-AL), que tem o apoio do governo federal, afirma contar, hoje, com 17 votos de demistas. Ou seja: número suficiente para rachar o partido e levar a bancada para o bloco de Lira, tal como fez o PSL.

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O único motivo pelo qual o DEM não deu seguimento a uma lista que discutia a saída do partido do bloco, conforme revelou a Gazeta do Povo, era o temor de atrapalhar a candidatura de Pacheco no Senado. Agora, os demistas dissidentes, dispostos a apoiar Lira, se sentem mais confortáveis em articular internamente o racha formal do partido.

“Tudo que nós, teoricamente, queríamos fazer [tirar o DEM do bloco de Baleia Rossi], nós não fizemos por conta de que nos foi solicitado, inclusive, pelo presidente do partido [ACM Neto]: que tomássemos cuidado para não atrapalhar a eleição do Senado”, explica outro deputado.

Agora, esses deputados dizem que não há “motivo nenhum” para permanecer apoiando a candidatura emedebista. “Vamos vencer o MDB no Senado e na Câmara”, aponta um demista. Um dos motivos para o DEM rachar o bloco é a contrariedade em permanecer no mesmo bloco que o PT e demais partidos da oposição. Outro é a composição da Mesa Diretora da Câmara.

Caso o DEM permaneça com Baleia, deputados explicam que o partido não teria assento garantido na Mesa Diretora, apenas uma suplência, pela proporcionalidade partidária. Com Lira, é especulado que o partido receba a 4ª Secretaria.

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A posição é importante. Essa pasta é a responsável por supervisionar o sistema habitacional da Câmara; distribuir as unidades residenciais aos deputados; propor à Mesa a compra, venda, construção e locação de imóveis; encaminhar à Diretoria-Geral concessão de auxílio-moradia aos deputados que não residam em imóveis funcionais.

A possibilidade de desembarque do DEM do bloco emedebista pode fragilizar ainda mais a candidatura de Baleia Rossi. A aposta pela ala dissidente demista é de que, com uma possível saída do partido, outras legendas integrantes do bloco façam o mesmo, a exemplo do PSDB.

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ACM Neto tenta apaziguar divisão interna no DEM

A expectativa no DEM é de que o próprio presidente nacional do partido, ACM Neto, ex-prefeito de Salvador, acompanhe a maioria do partido e se posicione favoravelmente ao embarque da legenda no bloco de Arthur Lira. Contudo, interlocutores do mandatário não creem nessa possibilidade. “Não é o perfil do ACM escolher um lado nesse tipo de situação”, explica um aliado.

A tendência, ponderam pessoas próximas ao presidente do partido, é de que ele libere a bancada e não interfira diretamente. Nas eleições de 2018, quando o então deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), atual ministro da Cidadania, e o então senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), atual governador de Goiás, decidiram apoiar o então candidato Jair Bolsonaro na disputa pela Presidência, ACM Neto liberou sua bancada.

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O ex-prefeito de Salvador atua diretamente para apaziguar os ânimos. Na segunda-feira (11), ele se reuniu, em Salvador, com a bancada federal do DEM na Bahia para discutir as eleições da Câmara. Estiveram presentes os deputados Leur Lomanto Jr., Paulo Azi, Arthur Maia e Elmar Nascimento, que lidera o movimento dissidente do partido e, hoje, atua como um conselheiro na campanha de Lira.

Ciente da divisão, a campanha de Baleia Rossi agendou previamente uma reunião com ACM Neto para esta terça-feira (12). O próprio emedebista atua para minimizar os impactos da divisão da legenda aliada.  A reunião ocorreu na noite de hoje, com a presença do presidente do DEM, do prefeito de Salvador, Bruno Reis, e deputados federais.

Força do MDB na Câmara tira votos do PT; aliados de Tebet comemoram

A própria candidatura de Baleia Rossi, contudo, também tirou, em tese, votos da senadora Simone Tebet. Ao UOL, um senador petista, que não quis se identificar, explica que um dos motivos para apoiar a candidatura de Rodrigo Pacheco é a possibilidade do MDB vencer nas duas Casas. “Nós gostamos do [senador emedebista Eduardo] Braga [preterido pelo partido], mas ele não deu garantias de que vence a Simone. E o MDB pode ganhar na Câmara e acabar ficando muito forte”, disse.

Aliados de Tebet, entretanto, não acreditam que a candidatura emedebista na Câmara possa tirar votos no Senado, e vice-versa. “A lógica, agora, é quanto mais próximo ou afastado estariam os líderes de Bolsonaro, melhor. Na Câmara e no Senado, o sinal é de independência ao governo, até para cobrar uma fatura maior depois”, pondera um assessor.

O não apoio do PT a Tebet, contudo, até ajuda a senadora. “Estamos com impressão que a candidatura do Pacheco avançou muito, embora, de ontem para hoje, com oficialização do apoio do PT, parece estar perdendo alguns votos”, comentou o senador Lasier Martins (Podemos-RS) à Gazeta do Povo. Seu partido é um dos que pode apoiar a parlamentar.

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Já o apoio do Podemos a Pacheco é pouco provável. O partido vai ouvi-lo, mas não se cogita votar no demista. “Vamos ouvi-lo, sim, porque tem um integrante do nosso grupo que pediu. Agora, Pacheco não tem sintonia com as bandeiras defendidas por nós. Eu não tenho maior interesse em ouvir o Pacheco, porque sei dos compromissos que ele têm, os arranjos, uma palavra proibida no nosso meio. Queremos lisura, transparência, nitidez, a moralidade da política”, sustenta Martins.

O cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais, também não vislumbra impactos nas candidaturas do MDB, seja no Senado ou na Câmara.

“O MDB já comandou as duas Casas em outras oportunidades e nunca se colocou nessa discussão, porque é um partido grande que conversa com membros de todos os lados. Claro, o cenário, agora, é diferente, e o Arthur [Lira] pode buscar essa discussão para trazer os indecisos para o lado dele. Mas não acredito que vá ter uma interferência tão grande do que seria se fosse, por exemplo, o DEM comandando as duas Casas novamente, ou o PSDB”, diz.

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