O senador Renan Calheiros (AL) e o ex-presidente José Sarney, ambos do MDB: partido virou objeto de desejo tanto de Bolsonaro quanto de Lula.| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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Com a maior bancada do Senado (15 senadores) e uma das maiores da Câmara (34 deputados), o MDB virou o fiel da balança tanto para o presidente Jair Bolsonaro tanto para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na composição de alianças para a sucessão presidencial. Nas últimas semanas, líderes emedebistas passaram a ser cortejados pelos dois políticos.

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Apesar de ter dois líderes no governo Bolsonaro no Legislativo – o senador Fernando Bezerra (PE), líder no Senado; e Eduardo Gomes (TO), líder no Congresso –, parte do MDB sempre resistiu ao embarque na base governista e, desde então, se colocou como um partido independente.

A instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid para apurar possíveis omissões do Executivo na condução da pandemia acendeu um alerta no Palácio do Planalto em relação ao partido. Crítico do presidente Bolsonaro, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) foi escolhido relator da CPI e desde então tem sido alvo de questionamentos por parte dos apoiadores do presidente. Além de Calheiros, o senador Eduardo Braga (AM) integra a CPI como integrante do MDB.

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Nas últimas semanas, interlocutores do Planalto passaram a buscar representantes do MDB na busca de criar um canal de diálogo diante dos possíveis desdobramentos da CPI. Na última semana Bolsonaro visitou o ex-presidente da República José Sarney, um dos mais influentes dentro da cúpula emedebista, para tratar sobre a relação com o partido. Em outra investida, o presidente telefonou para o filho de Calheiros e governador de Alagoas, Renan Filho (MDB).

"Essa foi uma tentativa do presidente de abrir um canal de interlocução com o partido”, argumentou Eduardo Braga (AM), líder do MDB no Senado.

Apesar disso, a cúpula do partido avalia que o esforço de Bolsonaro ainda é tímido. Além disso, Calheiros tem afirmado que os sinais do governo Bolsonaro são contraditórios. “Ora tentando evitar minha indicação, ora sinalizando vontade de diálogo”, disse o relator da CPI em entrevista à GloboNews.

Outro ressentimento carregado pelos emedebistas é o fato do governo ter apoiado a candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para a presidência do Senado no começo deste ano. Com a maior bancada da Casa, o MDB pleiteava o posto. No entanto, sem o apoio do Palácio do Planalto, o partido acabou tendo a candidatura de Simone Tebet (MDB-MT) derrotada.

Para tentar amenizar a crise com o partido, Bolsonaro tem feito diversas sinalizações para integrantes emedebistas. Nos últimos dias, o presidente estreitou os laços com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Os dois haviam rompido a relação depois que Bolsonaro criticou Ibaneis após um decreto de fechamento do comércio local por causa da pandemia de coronavírus.

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Pessoas próximas ao governador do Distrito Federal afirmam que a relação foi restabelecida. Entretanto Ibaneis, que já chegou a defender a reeleição de Bolsonaro, tem afirmado que o MDB deve ter candidatura própria na disputa presidencial de 2022.

Da mesma forma, o presidente não deverá apoiar a reeleição de Ibaneis na capital federal. A cotada para ter o apoio de Bolsonaro é Flávia Arruda, que recentemente assumiu a Secretaria de Governo e se tornou articuladora do governo com o Congresso.

De volta ao jogo político após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que anulou suas condenações decorrentes da Lava Jato, o ex-presidente Lula está disposto a passar por cima dos ressentimentos dos petistas com os emedebistas por causa do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Lula tem procurado velhos nomes do MDB na busca de uma aliança para a disputa presidencial do ano que vem.

Nesta semana, Lula se reuniu com o ex-presidente José Sarney, um dos políticos mais influentes dentro do MDB; e com o ex-senadores Romero Jucá (RR) e Eunício de Oliveira (CE).

Renan Calheiros, amigo de Lula, tem sido o principal defensor dessa reaproximação entre petistas e emedebistas. Mas, por conta da CPI da Covid, da qual é relator, o senador de Alagoas afirmou que não seria prudente receber o ex-presidente.

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No entanto, pessoas próximas afirmam que a interlocução entre ambos é constante. Para Renan Calheiros, o que existe é uma relação “normal”. "Eu sempre tive com o presidente Lula uma relação normal, que continua; e eu não sou candidato a absolutamente nada. Eu tenho mais quase seis anos de mandato a exercer na representação do estado de Alagoas [no Senado]. Eu definitivamente não sou candidato a nada, não quero fama na CPI", disse Renan ao portal UOL.

Ciente das articulações de Lula com o MDB, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), argumenta que o partido mantém boa relação com alguns quadros emedebistas e não descarta alianças nacionais com siglas fora do campo da esquerda. Na disputa pela presidência da Câmara, no começo deste ano, os petistas apoiaram a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP), que acabou sendo derrotado por Arthur Lira (PP-AL), que era apoiado por Bolsonaro.