Um dia após um mega-assalto em Criciúma, em Santa Catarina, um grupo armado com fuzis assaltou uma agência bancária na madrugada desta quarta-feira (2) em Cametá, a 235 km de Belém, no Pará. Uma quadrilha com cerca de 20 pessoas também cercou o quartel da Polícia Militar para impedir a ação policial e usou reféns como escudos humanos — um deles morreu durante a ação. Os mega-assaltos em Criciúma e Cametá não são casos isolados.
Neste ano, ações semelhantes ocorreram em cidades como Ipixuna do Pará, em janeiro; São Domingos do Capim (PA), em abril; e em cidades do interior de São Paulo, como Ourinhos, em maio; Botucatu, em julho; e Araraquara, em novembro.
Esse tipo de assalto a banco é chamado de “novo cangaço” e se caracteriza por ações rápidas, violentas, com a tomada de reféns, uso de armas de fogo e explosivos. Os criminosos também costumam cercar batalhões de polícia para impedir a ação rápida das forças de segurança e planejam os crimes em cidades de médio e pequeno porte, que têm um efetivo menor de forças de segurança.
Quadrilha não levou dinheiro em Cametá
Em nota oficial, o governo do Pará afirmou que mais de 20 criminosos fortemente armados, com armas de grosso calibre, como fuzis, estavam envolvidos na ação que durou mais de uma hora e teve como alvo o Banco do Brasil. Segundo o prefeito da cidade, Waldoli Valente (PSC), uma pessoa morreu vítima dos criminosos.
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse que a quadrilha errou o cofre e não levou nada do banco durante o assalto. "A quadrilha não obteve êxito. No momento da incursão interna, a quadrilha acabou errando o cofre e não levando nenhum valor da agência bancária", disse. A polícia encontrou dois veículos usados na fuga. Até o momento, ninguém foi preso.
Mega-assaltos demonstram capacidade de organização e planejamento dos bandidos
Os casos de Cametá e de Criciúma, onde 30 criminosos usaram dez carros e armamento de calibre exclusivo das Forças Armadas para assaltar uma agência bancária, chamam atenção por causa das semelhanças entre si.
“Não acho que seja uma coincidência bizarra. Até porque esse tipo de ação exige um bom tempo de planejamento”, explica Cassio Thyone Rosa, membro do Conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
“Estamos em um período do final de ano em que os bancos se preparam para ter um volume grande de recursos por causa do 13.º [salário] e isso pode ter justificado a escolha desses grupos de dispararem esses ataques nessa época”, afirma Rosa.
Segundo o G1, o subcomandante geral da PM em Santa Catarina afirmou que vê semelhança entre o roubo em Criciúma e os ataques recentes a agências em Sorocaba e Botucatu, no interior de São Paulo. Segundo o coronel Marcelo Pontes, a forma de agir das quadrilhas e até os explosivos usados são semelhantes. A Polícia Civil investiga a possível relação entre os casos.
Segundo Rosa, essa é uma modalidade de crime que tem crescido no Brasil, com o objetivo de colocar as mãos em grandes aportes de recursos de maneira rápida e com risco minimizado. Segundo ele, houve uma interiorização desse tipo de ação. “A criminalidade percebeu que o interior é muito mais vulnerável do que as capitais”, explica o membro do FBSP.
Facções criminosas podem estar por trás desse tipo de crime?
Segundo Rosa, não é possível afirmar que os mega-assaltos têm a participação de facções prisionais, mas alguns pontos chamam a atenção. "Ninguém que comece um processo de investigação nesse momento vai excluir essa possibilidade”, diz.
Cássio Rosa chama a atenção para detalhes das ações. “Teve a questão dos armamentos utilizados, que são armamentos pesados, que não são acessíveis para qualquer pessoa, que entram de forma ilegal no país e com custo elevado. Quem tem poder de fogo e esse cacife para bancar essa quantidade de pessoas, de equipamentos, de veículos, de logística criminosa que não seja pelo menos um grupo organizado”, indaga.
Ações podem ser resposta ao combate ao crime organizado
Os mega-assaltos a bancos podem ser uma resposta dos criminosos aos esforços da Polícia Federal de asfixiar financeiramente as organizações criminosas. Nos últimos meses foram deflagradas diversas operações contra o braço financeiro desse tipo de organização.
“A gente teve algumas megaoperações no país destinadas a atacar o mundo do crime no que diz respeito a seus bens. Se coloca no lugar do criminoso: se você tem uma organização que realiza tráfico de drogas, por exemplo, você ganha milhões, mas isso é um mercado, você precisa de capital de giro. Como você vai pagar seu fornecedor da droga?”
“Se você ataca no bolso de uma organização e ela precisa de recursos para fazer girar seus negócios, você não pode descartar a possibilidade de que ela venha buscar recursos de uma forma mais rápida”, completa.
Mega-assaltos são difíceis de prever
Ações como as dessa semana são muito difíceis de prever e, assim, evitar que se concretizem. Mesmo assim, Rosa destaca a importância em investir em inteligência e investigação para lidar com essas organizações criminosas.
“Não vejo outra forma que não seja dentro dos trabalhos de investigação, envolvendo inteligência policial, para conseguir em algum momento ir enfraquecendo esse tipo de ação”, afirma o representante do FBSP.
“A ideia do combate a isso é conseguir se antecipar a essas ações, ter acesso a seu planejamento antes da coisa ser deflagrada. Identificar organizações, monitorar pessoas”, reforça Rosa.
Ele destaca, ainda, a necessidade de uma integração efetiva entre as forças de segurança. “Para ter sucesso a gente tem que usar a palavra integração da forma que ela significa, ou seja, deixar de lado vaidades corporativistas, conseguir integrar forças de diferentes entes da federação”, reforça.
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