A opinião do eleitorado de Jair Bolsonaro (PL) sobre um possível sucessor do ex-presidente na disputa presidencial em 2026 está, neste momento, concentrada em dois nomes: a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta segunda-feira (13), mostrou que, dentre as pessoas que votaram em Bolsonaro em 2022, 41% preferem que Michelle seja a candidata da direita na próxima eleição ao Palácio do Planalto, caso o marido não consiga reverter as decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o tornaram inelegível. Tarcísio tem o apoio de 33% desse grupo.
Outros políticos sondados no levantamento, como os governadores Ratinho Jr (Paraná-PSD), Ronaldo Caiado (Goiás-União) e Romeu Zema (Minas Gerais-Novo), ainda não têm aderência ao eleitorado. Os três pontuaram entre 7% e 5%.
Considerando todas as pessoas entrevistadas pelo levantamento – ou seja, sem o recorte de voto em Bolsonaro em 2022 – a ex-primeira-dama também foi apontada como a favorita para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026, com 28% da preferência. Tarcísio foi citado por 24%. A ex-primeira-dama, no entanto, tem rejeição de 50% do eleitorado, enquanto o governador de São Paulo tem 30%.
Apesar do demonstrado potencial eleitoral de Michelle para o Palácio do Planalto, Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, até o momento, dizem que a ex-primeira-dama deverá concorrer ao Senado em 2026. Na visão do partido, ela teria uma vitória garantida, além de contribuir para o crescimento da base parlamentar de direita na Casa.
Para analistas ouvidos pela reportagem, os números da pesquisa mostram que o eleitor de Bolsonaro deverá seguir alguém que tenha maior proximidade política com o ex-presidente e que demonstre dispor de maior confiança por parte dele, o que pode explicar a preferência por Michelle e Tarcísio, em detrimento dos demais governadores citados.
Para esta pesquisa, a Quaest ouviu 2.045 pessoas, com 16 anos de idade ou mais, entre os dias 2 e 6 de maio. A margem de erro geral é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiabilidade é de 95%.
Agenda nos estados fortalece Michelle
A exposição de Michelle Bolsonaro em agendas políticas, desde que assumiu a presidência do PL Mulher em 2023, é um dos fatores que explicam sua projeção na pesquisa de opinião mais recente. Ela tem realizado diversos encontros nos estados, indo, inclusive, a redutos eleitorais de Lula, como Salvador, Recife e Belém.
“Michelle criou uma identificação com um eleitorado específico, que é o público feminino, revelou ser uma boa oradora, viajou o país e abriu diretórios do PL. Tudo isso contribuiu para que ela se viabilizasse como uma forte opção para a direita. Além disso, a imagem dela está associada ao ex-presidente, que é um líder carismático com grande popularidade”, disse o cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
A ligação da ex-primeira-dama com o público evangélico é outro fator que a destaca de Tarcísio e outros possíveis sucessores, segundo o analista Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos. “Michelle Bolsonaro se destaca como uma candidata forte à presidência da República, apoiada por três importantes pilares: seu apelo significativo entre o eleitorado feminino — um segmento tradicionalmente desafiador para a direita —, sua conexão com a comunidade evangélica e o impacto de seu sobrenome".
Proximidade com Bolsonaro e avaliação positiva de governo impulsionam Tarcísio
Tarcísio também tem elementos-chave que o fortalecem em uma eventual corrida presidencial em 2026: sua proximidade com Bolsonaro e a avaliação positiva de sua gestão no governo de São Paulo. Diferentemente de outros postulantes, o ex-ministro da Infraestrutura é visto como um nome mais fiel ao ex-presidente, em comparação com os demais governadores sondados na pesquisa da Quaest. Sempre que pode, Tarcísio destaca que não teria chegado ao governo sem o apoio de Bolsonaro.
Apesar de se destacar nos levantamentos, Tarcísio, quando indagado sobre 2026, diz que focará em disputar a reeleição para o governo de São Paulo. No entanto, a avaliação dos bastidores é que o bom desempenho nas pesquisas pode fazer o chefe do Executivo paulista mudar de ideia. Também é avaliado que uma possível insistência de Bolsonaro faça o governador mudar de opinião.
Para o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, a aprovação da gestão de Tarcísio o coloca naturalmente como um forte candidato na próxima eleição. Segundo levantamento do instituto Paraná Pesquisas na capital paulista, divulgado em 19 de março, o trabalho dele era aprovado por 59,1% dos eleitores – a pesquisa ouviu 1.350 eleitores do município de São Paulo de 13 a 18 de março, a margem de erro é de 2,7 pontos percentuais para mais ou para menos e o intervalo de confiança é de 95%.
“Sempre que um governador de São Paulo tiver uma gestão bem avaliada pelo eleitorado, a tendência é que ele apareça bem nas pesquisas. Além disso, Tarcísio tem se mostrado muito próximo de Bolsonaro. Ele tem sabido driblar situações em que poderia ser considerado como traidor do ex-presidente. Ele é muito rápido no contra-ataque e está sempre elogiando Bolsonaro, dando apoio”, disse Cerqueira.
Os acenos do governador ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), são exemplos das situações negativas mencionadas por Cerqueiras. Na segunda-feira passada (6), Tarcísio fez uma brincadeira com Moraes durante cerimônia de comemoração dos 100 anos do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP).
"E que venham os próximos cem anos. Eu não vou estar aqui, não. O ministro Alexandre disse que ia estar aqui nos próximos 100 anos, mas enfim. Parabéns para vocês, muitas felicidades, sejam felizes", disse o governador. Moraes e demais convidados da mesa riram da brincadeira.
Também causou desgaste ao governador o seu posicionamento a favor da reforma tributária, quando a proposta estava em tramitação no ano passado, já que Bolsonaro era um dos mais ferrenhos críticos da reforma.
Falta de projeção nacional afeta candidaturas de Ratinho, Zema e Caiado
Sendo governadores aliados a Bolsonaro, Ratinho, Zema e Caiado eram tidos como nomes promissores para a composição, e até mesmo liderança, da chapa estudada pelo Partido Liberal. No entanto, analistas apontam que as dificuldades locais de cada um e a falta de projeção nacional são obstáculos relevantes para que os gestores ganhem a atenção do eleitorado do ex-presidente.
No caso do governador de Minas Gerais, a situação fiscal do estado impôs que a atuação de Romeu Zema fosse mais centralizada em resolver os problemas estaduais, o que comprometeria sua projeção enquanto possível candidato de Bolsonaro.
Já para Ratinho Jr a questão partidária é um fator a ser considerado. Sendo do mesmo partido que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o governador do Paraná é visto por muitos apoiadores de Bolsonaro como alguém mais ligado ao centrão, considerando que o partido integra a base do governo Lula e tem comando de ministérios, como o da Agricultura.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, tem se movimentado nos últimos meses para se aproximar de Bolsonaro e viabilizar seu nome em uma eventual indicação. Sendo um dos veteranos do antigo DEM, o chefe do Executivo goiano se notabilizou por ser oposição a Lula e ao PT já quando era parlamentar no Congresso. Entretanto, assim como Ratinho Jr, Caiado também teria um eleitorado mais limitado a seu estado.
“O eleitorado do Ratinho não é tão denso. Ele é bem conhecido no Paraná, mas dificilmente, por conta própria, o eleitorado do Paraná vai conseguir sustentar nacionalmente o nome. O mesmo ocorre com Ronaldo Caiado”, disse Adriano Cerqueira.
Ele também afirmou que observa um distanciamento entre Zema e Bolsonaro, o que poderia contribuir para que o governador mineiro perdesse fôlego na disputa entre as opções da direita. Como Minas depende do Palácio do Planalto para renegociar as dívidas com a União, a leitura é de que Zema teria adotado mais cautela em criticar o governo federal e Lula.
“O Zema poderia ter tido um melhor desempenho por conta do eleitorado de Minas, que é o segundo maior do Brasil. Mas ele está um pouco afastado do noticiário nacional. Minas está passando por dificuldades financeiras relevantes, então esse baixo desempenho do Zema tem a ver também com um relativo afastamento dele em relação a Bolsonaro, em termos de aparecimento do lado do ex-presidente”, disse Cerqueira.
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