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O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, esteve no Brasil nesta sexta-feira (18). Ele visitou uma base da Operação Acolhida em Roraima, na fronteira com a Venezuela. Enquanto o Departamento de Estado americano ressaltou os "laços fortes" entre o país e o Brasil, a visita gerou reações internas, como a do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que argumentou que a ação "afronta a autonomia", entre outras críticas.
A nota do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava da visita como um ponto para "reafirmar nossa parceria crucial sobre os desafios compartilhados regionais". As duas nações trabalham juntas para "apoiar o povo venezuelano, combater a Covid-19 e aumentar a prosperidade regional".
A avaliação de Rodrigo Maia é de que houve problemas na visita. Para ele, o timing da ação, já que faltam apenas 46 dias para a eleição presidencial dos EUA, "não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa".
Em nota, Maia disse que, como presidente da Câmara, se via na obrigação de reiterar o que está no artigo 4º da Constituição, sobre como o Brasil deve orientar suas relações internacionais. "Em especial, cumpre ressaltar os princípios da: (I) independência nacional; (III) autodeterminação dos povos; (IV) não-intervenção; e (V) defesa da paz", destacou.
O deputado ainda chamou atenção para um convívio respeitoso e pacífico com os vizinhos sul-americanos, o que "constitui um dos pilares da soberania nacional e verdadeiro esteio de nossa política de defesa".
Parceria entre Brasil e EUA
O Departamento de Estado americano diz que a parceria com o Brasil é ancorada num compromisso para promover a segurança, a democracia, a prosperidade econômica, os direitos humanos e o Estado de Direito. O governo americano considera o país um "parceiro chave" no apoio aos venezuelanos que fogem do regime de Nicolás Maduro. Os EUA já enviaram mais de US$ 50 milhões para apoiar os esforços brasileiros com essa população, diz o comunicado.
Os EUA afirmam também que expandirão o trabalho com o Brasil para combater a mineração ilegal e o contrabando de ouro.
A nota cita também o combate à Covid-19, com coordenação conjunta contra o vírus. Os EUA já comprometeram US$ 13,8 milhões para a resposta brasileira ao problema, enquanto companhias americanas no País já comprometeram aproximadamente US$ 55 milhões, diz o texto. A nota lembra ainda as décadas de investimento americano em solo brasileiro, que já superaram US$ 617 milhões nos últimos 20 anos.
A nota diz que os EUA apoiam o "investimento sustentável" na Amazônia, que protege a biodiversidade e o crescimento econômico.
Leia a íntegra da nota de Rodrigo Maia
"A visita do Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, nesta sexta-feira, às instalações da Operação Acolhida, em Roraima, junto à fronteira com a Venezuela, no momento em que faltam apenas 46 dias para a eleição presidencial norte-americana, não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa.
Como Presidente da Câmara dos Deputados, vejo-me na obrigação de reiterar o disposto no Artigo 4º da Constituição Federal, em que são listados os princípios pelos quais o Brasil deve orientar suas relações internacionais. Em especial, cumpre ressaltar os princípios da: (I) independência nacional; (III) autodeterminação dos povos; (IV) não-intervenção; e (V) defesa da paz.
Patrono da diplomacia brasileira, o Barão do Rio Branco deixou-nos um legado de estabilidade em nossas fronteiras e de convívio pacífico e respeitoso com nossos vizinhos na América do Sul. Semelhante herança deve ser preservada com zelo e atenção, uma vez que constitui um dos pilares da soberania nacional e verdadeiro esteio de nossa política de defesa.”