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Rio de Janeiro

Milícia de suspeito da morte de Marielle controla área em que prédios desabaram

Bombeiros resgatam vítima do desabamento de dois prédios na comunidade da Muzema, no Rio. Foto: Carl de Souza/AFP
Bombeiros resgatam vítima do desabamento de dois prédios na comunidade da Muzema, no Rio. Foto: Carl de Souza/AFP (Foto: )

A comunidade da Muzema, onde ficam os dois prédios que desabaram nesta sexta-feira (12), é controlada pela milícia comandada pelo major da Polícia Militar Ronald Alves Pereira e pelo ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Magalhães da Nóbrega. Pereira foi preso em janeiro, na operação Intocáveis, do Ministério Público e da Polícia Civil. Já Nóbrega conseguiu escapar e segue foragido.

Os dois eram denunciados por grilagem e exploração imobiliária ilegal nas comunidades de Rio das Pedras e Muzema, na zona oeste do Rio de Janeiro, mas também eram suspeitos de chefiarem o Escritório do Crime, o grupo armado apontado responsável pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março do ano passado.

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Adriano da Nóbrega trabalhou no 18º Batalhão da PM com Fabrício Queiroz, o ex-assessor de gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) investigado por lavagem de dinheiro. A mãe e a filha de Nóbrega trabalhavam no gabinete do filho do presidente e teriam sido contratadas por Queiroz.

De acordo como Ministério Público, Nóbrega dirigia o esquema de construção civil ilegal nessas comunidades. Pereira, por sua vez foi denunciado por comandar negócios ilegais da milícia, entre eles, grilagem de terra e agiotagem.

O desabamento nesta sexta deixou ao menos cinco mortes. A Defesa Civil trabalha com uma lista de 13 pessoas desaparecidas. Outros prédios vizinhos também correm risco de queda.

Construções irregulares são fonte de renda para milicianos

A comunidade da Muzema é uma área sob o domínio de milícias – grupos paramilitares formados por PMs, militares, agentes penitenciários e civis, que exploram ilegalmente vários negócios. Um dos mais conhecidos seria o da construção irregular. A Prefeitura do Rio confirmou que os prédios que desabaram são irregulares e estavam interditados desde novembro de 2018.

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Segundo a Prefeitura, por se tratar de área dominada por milícia os técnicos da fiscalização municipal necessitam de apoio da Polícia Militar para realizar operações no local. Foi o que aconteceu em novembro de 2018, quando várias construções irregulares foram interditadas e embargadas pela administração municipal.

"A região é uma Área de Proteção Ambiental (APA) e os prédios ali construídos não respeitam a legislação em vigor", informou a Prefeitura, em nota.

Milícias como a da Muzema costumam ser as responsáveis ou protegem a construção de prédios sem licença dos órgãos públicos. Os novos moradores e comerciantes que ocupam esses edifícios passam a ser nova fonte de renda das quadrilhas.

De acordo com a legislação em vigor, a região só poderia ter casas para uma família, e não prédio com diversas unidades. "Na Muzema, as construções não obedecem aos parâmetros de edificações estabelecidos, como afastamento frontal, gabarito, ocupação, número de unidades e de vagas", diz a prefeitura em nota.

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